Pedro Ladeira/Folhapress"O desafio agora é conversar sobre um projeto de nação em torno do qual as pessoas possam se unir"

O homem da terceira via

Responsável pelas tentativas de construir um candidato de centro capaz de vencer em 2022, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta diz que o fundamental, agora, é definir um projeto de país que seja maior que Bolsonaro e Lula
23.04.21

Eram 22 horas do dia 30 de março quando o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta começou a rascunhar o texto que serviria de embrião para o manifesto assinado por ele e mais cinco presidenciáveis em favor da democracia. Àquela altura, o contexto era explosivo: o presidente Jair Bolsonaro havia demitido o general Fernando Azevedo e Silva, então ministro da Defesa, e defenestrado os comandantes militares por considerar que eles não lhe devotavam lealdade política. O momento exigia uma reação contundente para além das insípidas, inodoras e incolores notinhas de repúdio habituais. João Amoêdo, do Novo, foi o primeiro a ser acionado, na manhã do dia 31. Horas depois, foram incorporados Luciano Huck, Eduardo Leite, João Doria e, por último, Ciro Gomes.

O documento, burilado e consolidado naquele mesmo dia por todos os signatários num grupo de WhatsApp criado por Mandetta, constituiu apenas um dos lances visíveis da articulação em curso para construir uma candidatura de centro capaz de evitar a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula nas eleições de 2022. Nos bastidores, as conversas fervilham desde a decisão do ministro do STF Edson Fachin de anular as condenações do petista.  Ao contrário do que muitos previram, Mandetta não perdeu a tração política quando deixou o Ministério da Saúde de Bolsonaro, em abril de 2020: o ortopedista de 56 anos é, hoje, o principal motor da chamada terceira via.

Na última semana, o nome do ex-ministro da Saúde se revestiu de mais importância política após ele ter virado uma peça-chave da recém-criada CPI da Covid no Congresso. Os senadores querem que Mandetta seja um dos primeiros convocados pela comissão, para que ele esclareça as circunstâncias que envolveram seu desembarque da pasta. A aposta, especialmente entre os parlamentares da oposição, é que ele possa trazer revelações importantes sobre a condução trágica do combate à pandemia pelo governo. Depois da saída de Mandetta, escancarou-se a porteira para a adoção do chamado “tratamento precoce” como política oficial, mas foi durante sua gestão que aconteceram as principais tentativas de ingerência de Bolsonaro.

Nesta entrevista a Crusoé, indagado se irá prestar um depoimento bombástico contra o governo, o ex-ministro manteve o suspense no ar. “Não vou entrar nesse assunto (CPI). Vou aguardar”. Seu estado de ânimo, no entanto, é indisfarçável: “Cada vez que o presidente fala ‘sou a favor da ciência e da vacina’, até os robôs ficam com vergonha, porque parece uma coisa fake. Não é de verdade, não é de coração aquilo”.

O ex-ministro evita se alongar sobre o tema, para não dar a Bolsonaro, hoje seu adversário político, condições de preparar com antecedência a própria defesa. Sabe que o que for revelado por ele na CPI poderá influir, de certa forma, em seu projeto de quebrar a deletéria lógica do Fla-Flu político que predomina no país desde o “nós contra eles” cunhado por Lula e pelo PT. Atuando como elo entre atores dispostos a alterar o atual cenário eleitoral, Mandetta trabalha semanalmente para medir a temperatura dos entusiastas da candidatura de centro. O grupo não se limita a João Doria, João Amoêdo, Luciano Huck, Sergio Moro e Ciro Gomes. Há também empresários e integrantes da sociedade civil. Embora esteja autorizado pelo seu partido, o DEM, a testar o poderio de sua eventual candidatura à Presidência, Mandetta sempre deixa claro que não tem a intenção de assumir uma pré-candidatura e trabalha para costurar um nome de consenso, por entender que a divisão no centro é o caminho mais curto para o infortúnio nas urnas. “Se houver uma fragmentação, se saírem três, quatro, cinco candidaturas, isso vai beneficiar os dois polos. Tem que ter muita maturidade política, muita grandeza, muita visão de país, para entender que não se pode fulanizar esta eleição”, afirma. “O desafio agora é conversar sobre um projeto de nação em torno do qual as pessoas possam se unir. E o nome do candidato virá em consequência disso”, emenda. Eis a entrevista.

O sr. integra um grupo de presidenciáveis que trabalha para articular uma candidatura de centro contra Lula e Jair Bolsonaro. Qual é a data limite para definir quem será esse candidato?
O tempo da política é diferente do tempo da internet. Existem prazos legais e tempo de maturação. As regras das eleições ainda estão sendo discutidas no Congresso. Esses (Lula e Bolsonaro) são nomes que já foram governo e saem com todas as suas certezas. O Brasil deles está inegociavelmente colocado. A gente sabe o que esperar dos dois. E há um outro grupo enorme de pessoas que quer debater ideias. Não é possível discutir o Brasil sem olhar para as perspectivas do pós-pandemia. Não há nenhum setor que não tenha sido profundamente atingido. O desafio, agora, é conversar sobre um projeto de nação em torno do qual as pessoas possam se unir. O nome do candidato virá em consequência disso. O importante é saber as diferenças entre o olhar de gente que quer discutir o Brasil para as próximas décadas e o de pessoas que estão olhando para o passado.

Se a definição demorar demais, não há o risco de que Lula e Bolsonaro se fortaleçam diante desse vácuo no centro?
Existe um calendário eleitoral: um ano antes devem ser definidas as regras, seis meses antes devem ocorrer as filiações partidárias, e três meses antes das eleições há as convenções. Não acredito que seja impositivo que deva ser agora. O principal é o timing de se fazer uma boa análise, uma boa discussão sobre o Brasil. A velocidade com que isso anda depois do consenso político é muito intensa. Não há mais aquela necessidade que existia no passado de um ano, um ano e meio antes das eleições, fazer as definições importantes. A gente deve gastar tempo no planejamento, na análise, ver o que dá para fazer, o que é factível, definir como é possível resolver essa monumental crise da educação, com índices de evasão escolar absurdos, rendimento escolar baixíssimo, como vamos discutir o novo trabalho. Dia 1º de Maio é Dia do Trabalhador. De um lado haverá pessoas dizendo “chega de lockdown, eu quero trabalhar”, como se o trabalho não respeitasse a vida, o que é uma grosseria. De outro lado, haverá a defesa daquele trabalho via sindicatos, imposto sindical, aquela coisa mais cartesiana. Mas agora temos novos trabalhos, novos direitos, novos deveres, novas relações de trabalho. Com o home office, o conceito mudou completamente.

Quais critérios devem ser usados para definir esse candidato? Pesquisas de intenções de voto? Ou quem conquistar consenso no grupo?
Acho que é um somatório de fatores. É preciso ter uma boa capacidade de diálogo, de articulação, tem que ser uma pessoa que crie um clima de confiança, alguém que tenha um brilho no olhar, aquela pressa de ver o país acontecer, a vontade de encontrar as pessoas. Alguns vão precisar tomar decisões de foro pessoal, e o importante é que não percam de foco a proposta de combater os extremos. Não vi nenhuma ação concreta de que (Lula e Bolsonaro) possam se tornar mais moderados, possam ter humildade para rever, se reciclar, se modernizar. O mais importante nesse arco enorme de representação da sociedade é que todos entendam que, se houver uma fragmentação, se saírem três, quatro, cinco candidaturas, isso vai beneficiar os dois polos. Tem que ter muita maturidade política, muita grandeza, muita visão de país, muita visão do papel do Brasil no mundo para entender que não se pode fulanizar a eleição. Esse candidato tem que ter uma capacidade muito grande de diálogo para interpretar a importância de construir o consenso.

Entre os integrantes do grupo, há muitos atritos pretéritos, como a briga entre Ciro Gomes e João Doria, por exemplo. O senhor parece ser um nome com menos resistência. Acredita que será o escolhido?
Você está fazendo uma entrevista voltada para nomes, está obcecada por nomes, mas eu estou obcecado por ideias. Acho que isso gera ruído. Não vejo como as pessoas se unirem em torno de nomes. Sempre haverá óbices ao nome de A, de B ou de C. Esse já pisou na minha unha encravada, o outro não me cumprimentou, do outro eu não gosto… Sempre tem essa questão quando o debate fica em torno de nomes. Agora, quando você discute projetos, no campo das ideias, os nomes perdem a importância. Se você cria um projeto e se encanta por ele, as pessoas passam a te procurar para ajudar, para contribuir. Estamos falando de eleições gerais. Será preciso unir muita gente para ajudar a construir este momento. Os nomes não estão prontos ainda. Tem que vir mais gente para dentro, pessoas que eventualmente pensam em se candidatar dentro desse arco, para iniciarmos os debates com o pessoal da cultura, com estudantes, com trabalhadores, representantes do setor de transporte, de logística, da educação. Aí os nomes começam a ser testados. Podemos fazer debate com essas categorias, para que as pessoas tenham a visibilidade necessária. Enquanto os dois (Lula e Bolsonaro) têm essa cara de candidato, o Brasil que quer esperança, que quer trabalhar, tem que estar engajado para achar o projeto de nação que nos une. Não vamos nos unir em torno da pessoa A ou B. Esse é o final do processo.

Pedro Ladeira/FolhapressPedro Ladeira/Folhapress“A gente sabe que existe um pesadelo ali na frente, chamado Lula e Bolsonaro”
Ciro é nome que mais destoa no grupo, sobretudo do ponto de vista da economia. Por que ele foi incluído? A candidatura dele como representante do centro é viável? 
O Ciro é um democrata, submeteu seu nome três vezes nas eleições presidenciais, é uma pessoa habituada a isso. Ele sempre se submeteu às regras, ao debate, com muita coerência. Talvez a gente tenha que revisitar certezas de todo mundo no cenário de pós-pandemia. Analisar a capacidade de investimento do Estado antes da pandemia é uma coisa. Após a pandemia, com esse déficit público absurdo, é outra discussão. Precisamos pensar nisso, debater qual a capacidade real de investimentos. Se ela é menor que a necessidade, quais são as outras possibilidades do Estado? Acho que isso é pertinente, até para oxigenarmos essa visão. Não existe Estado mínimo ou Estado máximo, existe Estado necessário. Que áreas devem ser prioritárias para o Estado? A verdade é que temos que radicalizar na educação, que é a única política que paga essa dívida social absurda que o país arrumou. Temos a obrigação de dizer como vamos fazer e de onde vai sair o recurso. Não adianta pensar em fazer todas as benesses com um Estado que não tem capacidade de fazer investimentos. Isso tudo é um convite à reflexão, e acho que o Ciro tem um olhar muito atento e pode ajudar muito. Ele pode se negar e dizer “não quero”, ou “já fiz minha discussão, quero defender minhas ideias até o fim”. Agora, porém, é o início desse bom debate, de um debate bem provocativo.

Por que não há mulheres no grupo? Marina Silva, por exemplo, está fora.
Naquele famoso 31 de março (data de divulgação do manifesto pela democracia), a gente tinha algumas horas para decidir e divulgar. Foi uma coisa de última hora. Havia uma crise militar absurda, e só justificaria a gente assinar uma coisa se fosse no mesmo dia. Mas acho que a Marina tem uma visão muito aprofundada sobre o quadro social brasileiro, sobre o meio ambiente. Ela é filiada a um partido que já disputou várias eleições e acho que ela tem que participar. Por isso, esse debate tem que ser muito mais amplo, em vez de ficar preso aos nomes das pessoas que assinaram o manifesto. Aquilo ali foi um exercício de algumas horas. É tempo de alargar esses diálogos.

Há restrições expressas a pessoas ou partidos?
Partidos ou pessoas que não sejam sectários, que não sejam fechados, são bem-vindos. Imposição de nomes e agendas é que não dá. Isso é incompatível. Não dá para dialogar com uma pessoa que diz “está bem, vou conversar com você, mas não vou mudar nada”. É perda de tempo.

Tasso Jereissati, do PSDB, e Rodrigo Pacheco, do DEM, têm sido citados como possíveis presidenciáveis. Eles também poderiam representar o centro?
Você volta a fazer uma entrevista focada em nomes. Como a gente pode prescindir da participação de um Tasso Jereissati, de um Rodrigo Pacheco, de uma Tábata Amaral? Como a gente pode prescindir da visão dos prefeitos João Campos (de Recife) e Bruno Reis (de Salvador)? É gente muito boa. Tem que ser uma coisa plural, bem aberta. Tem gente que se sente confortável de ficar construindo e tem gente que se sente confortável em destruir. Para aqueles que querem construir, espero que a gente tenha maturidade para entender bem o que ocorre. A gente precisa compreender as razões que vão levar as pessoas a definir o rumo do país. Eleições mal pensadas, mal planejadas, com muitos egos sobressalentes, normalmente não funcionam.

Como está sua relação com DEM? Cogita deixar o partido?
Eu me dou bem com todos, não tenho dificuldades em dialogar com nenhuma das correntes, nem dentro do DEM, nem fora do partido. O ser humano que está na política tem que ter capacidade de dialogar e propor alternativas, caminhos. Tenho trabalhado para mostrar caminhos que sejam de fortalecimento. Por enquanto, a gente tem andado, tem conversado, feito tratativas, mas partidos só farão deliberações mais à frente. Agora, os partidos têm que proporcionar a convivência com a sociedade. É importantíssimo saber qual a visão da OAB, da UNE, que visão de país as grandes entidades têm. A gente sabe que existe um pesadelo ali na frente, chamado Lula e Bolsonaro. E as pessoas querendo que o eleitor decida se vota em quem odeia mais ou em quem odeia menos. Que país vamos construir em cima de uma discussão como essa?

O que é mais forte hoje, o antipetismo ou o antibolsonarismo?
Eu não sei medir ódio. Eu não trabalho com pesadelo, eu trabalho com sonho. Pesadelo, quando eu tenho, eu rezo um Pai Nosso. A gente não faz nada para pesadelo se tornar realidade, não. Agora, de sonho bom eu vou atrás.

Com o desgaste do presidente Jair Bolsonaro e com a perspectiva de uma crise ainda maior, com a CPI, acha viável um cenário em que ele fique fora do segundo turno, mesmo com a máquina pública nas mãos?
Jamais vou me mobilizar contra Lula ou contra Bolsonaro, mas a favor do país. A população quer pessoas capazes de trazer paz, união, oportunidades de o país crescer. O sonho dos imigrantes que fizeram São Paulo, que fizeram o Brasil, gente que quer trabalhar em paz, esquecer que existe governo. A gente já paga tanto imposto… Quem é que consegue viver com um governo que todo dia monta uma crise? Todo dia tem uma confusão. Todo dia a gente tem que discutir o exemplo que estão dando. No momento apropriado, cada um vai colher o fruto do seu trabalho. Quem planta vento colhe tempestade.

Pedro Ladeira/FolhapressPedro Ladeira/Folhapress“O ser humano que está na política tem que ter capacidade de dialogar e propor alternativas”
O governo tenta mudar a narrativa do combate à Covid. Passou a fazer campanhas por máscaras, abandonou a defesa pública do chamado “tratamento precoce” e agora defende o “atendimento imediato”. Muitos aliados de Bolsonaro criticam o sr. pelas orientações do início da pandemia. O que mudou?
É impressionante como criam narrativa a respeito de tudo. Mas cada vez que o presidente fala “sou a favor da ciência e da vacina”, até os robôs ficam com vergonha, porque parece uma coisa fake. Não é de verdade, não é de coração aquilo. A pessoa tem que gostar muito do ser humano para tomar decisão sobre vida ou morte. A pessoa que em determinado momento diz “só está morrendo quem já ia morrer mesmo”, “brasileiro tem que ser estudado porque vive no esgoto e não pega nada”, “não sou coveiro” ou “vai comprar máscara na casa da sua mãe” e depois diz “sou a favor de máscara, disso, daquilo”, fica fake demais. Ninguém consegue acreditar.

Qual a opinião do sr. sobre a proposta que facilita a compra de vacinas por empresas?
Esse foi um debate bem inócuo, porque não existe disponibilidade de vacinas para serem vendidas da noite para o dia. O mundo inteiro está procurando vacina. O Brasil fez as compras, mas perdeu o timing, comprou tarde. Fazer esse debate, portanto, tumultua tudo. Até que as empresas consigam comprar e trazer, acho que a vacinação no Brasil já terá acabado.

Acredita que a CPI será um instrumento importante para que a verdade sobre o combate à pandemia venha à tona?
Sobre CPI, eu não vou falar. Acho que o Senado é suficientemente maduro para saber conduzir. Mas eu não vou falar porque devo ir lá, seria até desagradável da minha parte fazer qualquer comentário.

Algumas pessoas acreditam que o sr. pode prestar um depoimento bombástico contra o governo.
Não vou entrar nesse assunto. Vou aguardar.

Como a situação de Lula e o processo sobre a parcialidade de Sergio Moro podem afetar uma eventual candidatura do ex-juiz e ex-ministro? 
Ele tem o trabalho de uma vida inteira na magistratura e, depois, tem um tempo como ministro. É outro que tem uma decisão de foro íntimo para tomar, como o Luciano Huck. Eles não são nem filiados a partidos, temos que respeitar, temos que dar o tempo deles.

Acredita que Lula poderá sofrer novas condenações até a eleição? E se estiver elegível, acha que ele será mesmo o candidato?
Ele deve participar das eleições, é um homem que tem suas convicções e sua história. Qual vai ser a participação dele, não sei. Mas a Justiça vai ter que se posicionar um dia. Senão, no futuro, quando alguém for aos livros de História, para saber o que foi Lava Jato, para saber se houve cartel, se roubaram, se teve acordo de empreiteiras, vai perguntar: e esse homem aqui (Lula), qual foi o papel dele? Vão dizer: ah, a Justiça não se pronunciou sobre ele. Isso me parece errado em uma sociedade que não quer promover injustiça. Que digam: é inocente, ok. É culpado? Ok, deem a pena. O que não dá é para fazer piruetas e ficar cinco anos julgando um negócio e no final dizer “não valeu”. É igual querer voltar em 1966 e dizer que o juiz que apitou a partida entre Alemanha e Inglaterra era míope. E então, volta no tempo, e é outro campeão? Não dá, a Justiça vai ter que se pronunciar. Mas como ela é muito lenta, os advogados trabalham muito para ganhar por decurso de prazo. Se for isso, ficará eternamente essa nódoa, essa mancha na biografia dele. E ele busca o julgamento político.

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