MarioSabino

A cura para o vírus Jair

06.08.21

Jair Bolsonaro é um vírus que Brasília, por uma série de motivos, a depender do grupo, acha que pode tratar com cloroquina e ivermectina. Não pode. Para esse vírus, existe cura por meio de remédio eficaz, rápido e seguro: o impeachment. Não basta torná-lo inelegível daqui a quase um ano e meio. As condições para o impeachment estão dadas. Nos seus delírios, Jair Bolsonaro ainda acredita que pode esticar a corda, porque contaria com imenso apoio popular e o suporte das Forças Armadas. Não é verdade. A sua base de eleitores está-se corroendo a olhos vistos e, quanto aos militares, o almoço de Gilmar Mendes, hoje decano do STF, com o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, foi mais do que um encontro amigável. O comandante, falando em nomes das Forças Armadas, afirmou que não há hipótese de ocorrer um golpe militar (o que de resto, modestamente, eu já havia dito neste espaço).

A senha foi dada para que o STF agisse com vigor contra os ataques infundados e cada vez mais desmiolados de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal — em especial, ao ministro Luís Roberto Barroso, alvo de investidas ad hominem do presidente da República, não só por ocupar a presidência do TSE e resistir ao voto impresso. Foi Luís Roberto Barroso quem, acertadamente, ordenou a abertura da CPI da Covid no Senado, em obediência à Constituição e ao regimento da casa, que vinham sendo desrespeitados pelo presidente Rodrigo Pacheco. O ódio de Jair Bolsonaro, portanto, lhe será eterno.

Temos agora — fato inédito na história da República — um presidente investigado pelo STF por atentar contra as leis, os poderes constituídos e a segurança interna do país, todos crimes de responsabilidade previstos no artigo 85 da Constituição Federal. A simples investigação, baseada em declarações públicas, testemunhadas e registradas eletronicamente, já deveria ser motivo para o afastamento de Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto, de acordo com o artigo 86. Não se pode ter um presidente da República que usa constantemente de notícias falsas e distorcidas para tentar aluir o arcabouço jurídico-político do país, movido não apenas por desprezo à democracia, mas por ser futuro mau perdedor nas urnas.

Com os seus vilipêndios, com os seus atos ignominiosos em meio à pandemia que matou mais de meio milhão de brasileiros, Jair Bolsonaro conseguiu subverter a lógica e transformar vilões em mocinhos . Alexandre de Moraes, que conduz o inquérito do fim do mundo, no âmbito do qual a Crusoé foi censurada, agora lança mão da mesma peça jurídica teratológica para defender a democracia com argumentos irretorquíveis. O ex-condenado Lula, que solapava a República com um projeto de poder que usava de ardis menos estridentes, embora bastante custosos ao Erário, passou a ser visto com simpatia por eleitores que o repudiavam em 2018. A conta futura a ser paga pelo país, por causa de Jair Bolsonaro, pode ser esta, principalmente: a manutenção de um sistema corrupto que a Lava Jato parecia ser capaz de desmontar e que impede o país de entrar no rol das nações civilizadas.

A quem interessa manter Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto hoje? A pergunta é retórica. São os protagonistas desse mesmo sistema corrupto que foi revigorado pelo personagem mais insano que já passou pelo Executivo. Seja por conveniências pecuniárias, no caso dessa gosma a que chamamos Centrão, seja por vantagens eleitoreiras, no que se refere a uma esquerda que sonha ter Jair Bolsonaro como oponente na eleição de 2022, esses protagonistas fingem não enxergar o desastre institucional que está sendo perpetrado pelo inquilino inadimplente do Palácio do Planalto. Para beneficiar-se agora e também lá adiante, eles lançam mão de cloroquina e ivermectina contra o vírus e vão matando o pouco de país que nos resta. São cúmplices, portanto, do vírus.

As condições para o impeachment estão dadas. É o único remédio, e já testado com sucesso. Mentem os que afirmam que o impeachment seria pior do que a situação na qual vivemos com Jair Bolsonaro no comando do país. Com ele na presidência da República, continuaremos a enterrar os mortos e a não cuidar dos vivos, que é o que já fazemos desde sempre neste malfadado Brasil, só que desta vez com dramaticidade nunca vista e perversidade jamais alcançada.

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