Jhonn Zerpa/Presidência venezuelanaO ditador Maduro: medo de ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional pode atrapalhar o acordo

Em busca de uma saída

Com o apoio de vários países, inclusive dos Estados Unidos, a difícil negociação entre a ditadura venezuelana e a oposição é retomada no México
03.09.21

A ditadura da Venezuela e a oposição retomam nesta sexta-feira, 3, as conversas para encontrar uma saída para a crise em que o país está mergulhado há décadas. Reuniões já ocorreram na Cidade do México em meados de agosto e deverão se prolongar até, pelo menos, o próximo dia 6. Nas quatro rodadas anteriores, realizadas desde 2014, nenhum resultado foi alcançado. Os encontros serviram apenas para o ditador Nicolás Maduro ganhar tempo e deslegitimar seus rivais. Desta vez, as mudanças nas peças do tabuleiro internacional aumentam as possibilidades de um acordo, ainda que haja inúmeros obstáculos pela frente.

O principal movimento com potencial de impactar no resultado das negociações aconteceu na Casa Branca, em Washington. Em 2019, durante a quarta rodada de conversas, os Estados Unidos, então sob o governo de Donald Trump, exigiam que qualquer solução implicasse a destituição de Maduro. Diplomatas da Noruega conduziram as tratativas, mas não houve consenso. Em janeiro deste ano, com a posse do democrata Joe Biden, os Estados Unidos se mostraram propensos a um acerto que traga algum respiro para o país, mesmo mantendo o ditador no Palácio de Miraflores, em Caracas. “A entrada de Biden em cena propiciou uma melhor coordenação com outros países e uma ação mais multilateral”, diz o advogado venezuelano Mariano de Alba, pesquisador do International Crisis Group e especialista em resolução de conflitos.

Ao longo deste ano, países e organizações internacionais demonstraram boa vontade para tentar obter concessões do regime. Em abril, seis funcionários da filial americana da estatal venezuelana PDVSA, que estavam presos por corrupção, peculato e organização criminosa, foram autorizados a ficar em prisão domiciliar. No mesmo mês, a ONU ofereceu ao governo um programa para alimentar 185 mil estudantes venezuelanos. No final de junho, Estados Unidos, União Europeia e Canadá afirmaram que poderiam retirar algumas sanções impostas ao regime venezuelano, caso Maduro se comprometesse a libertar presos políticos, respeitar a imprensa, acabar com as violações de direitos humanos e realizar eleições limpas com partidos independentes.

Reprodução/Redes SociaisReprodução/Redes SociaisNicolasito Maduro: enviado pelo pai para as negociações no México
Como a remoção de sanções poderia melhorar a economia, a oferta é um poderoso estímulo para que o ditador leve a sério as negociações. Discretamente, o Departamento do Tesouro americano permitiu transações comerciais pelos portos venezuelanos. Na terça, 31, a oposição venezuelana, influenciada por diplomatas da União Europeia, afirmou que participará das eleições regionais para 335 prefeituras e 23 estados em 21 de novembro. A declaração, que reverte um boicote iniciado em 2018, diminui as críticas contra fraudes nas eleições e facilita o diálogo.

Da parte da ditadura, pequenos gestos foram feitos. O ex-deputado Freddy Guevara, do partido Vontade Popular, foi libertado após um mês detido. Ele se sentará à mesa de negociação no México. O Conselho Nacional Eleitoral, o CNE, que organiza as eleições, incluiu dois membros independentes, para além dos três chavistas. O órgão ainda ampliou o prazo de inscrições duas vezes para permitir candidatos de oposição e tem conversado com a União Europeia para viabilizar a presença de observadores internacionais nas eleições regionais de novembro. Na terça, 31, Maduro disse que está empolgado com a provável presença da oposição no pleito. “Vou sentar na minha poltrona, com a televisão ligada, com a minha pipoca, para ver Juan Guaidó votar no dia 21 de novembro e aí aplaudirei, porque conseguiremos inseri-lo novamente na democracia”, disse o ditador. Guaidó, que era o chefe da Assembleia Nacional, foi proclamado presidente interino em janeiro de 2019 e não reconhece Maduro.

Mesmo países que apoiam o ditador querem avanços nas negociações. Para eles, é importante que a economia venezuelana se recupere, seja porque têm dívidas a receber ou porque investiram na região. A Rússia, por exemplo, que vendeu armas para Caracas e se aventurou no setor petrolífero venezuelano, acompanha as negociações no México como convidada. De todos os aliados da Venezuela, Cuba é o mais receoso. Para a ilha comunista, que tem diversos de seus membros infiltrados no governo venezuelano, é crucial manter Maduro no poder, ainda que a catástrofe venezuelana tenha feito desaparecer a ajuda que Caracas costumava dar a Havana.

Marcelo Camargo/Agência BrasilMarcelo Camargo/Agência BrasilGuaidó foi reconhecido presidente interino pelo Brasil
Uma das ausências mais chamativas no processo é a do Brasil, o vizinho mais importante da Venezuela. Até o ano passado, o governo brasileiro esteve ativo na crise venezuelana: reconheceu Guaidó como presidente interino e participou do Grupo de Lima, criado para lidar com a questão. O ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo viajou para a fronteira com a Colômbia para acompanhar a tentativa de entrega de ajuda humanitária e esteve com o secretário de estado americano Mike Pompeo em Pacaraima, Roraima. Nas conversas atuais, porém, o Itamaraty não aparece.

O governo de Jair Bolsonaro, que estava muito alinhado com o de Donald Trump, ficou perdido com a chegada de Biden. Isso fez com que o Brasil, o maior país da América Latina, perdesse o papel de articulador nessa crise”, diz Dorival Guimarães Pereira Jr., professor de relações internacionais do Ibmec, em Belo Horizonte. “Outra questão é que, com sucessivas crises internas, o Brasil ficou sem tempo e sem energia para exercer uma liderança regional.”

Nas reuniões no México, há nove representantes da oposição venezuelana. Já Maduro mandou três representantes próximos e leais. Entre eles, está seu filho Nicolás Maduro Guerra, o Nicolasito, de 31 anos, que é deputado. Outras alas do chavismo foram excluídas. Dessa forma, o ditador controlará o processo e dará a palavra final. Agradá-lo não será uma tarefa simples. Um dos maiores medos de Maduro é ter de encarar o Tribunal Penal Internacional, em Haia. No ano passado, uma missão da ONU o acusou de crimes contra a humanidade. Esse ponto não está na agenda de negociações, mas pode atrapalhar.

Os noruegueses estão conduzindo tudo com muito cuidado. Eles falam com os dois grupos separadamente, diversas vezes, assim como fizeram no acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias das Colômbia, as Farc”, diz o cientista político Luis Daniel Alvarez, professor de relações internacionais na Universidade Central da Venezuela, em Caracas. Em vez de dar margem para as desavenças entre as partes, os especialistas noruegueses estimulam as pessoas a buscarem os pontos em comum. Só quando a discussão avança todos entram na mesma sala. “Esse método já deu certo antes, mas os mediadores terão de ser muito hábeis para convencer o ditador a assumir alguns compromissos.” A sorte dos venezuelanos está, de novo, lançada.

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  1. Dialogar com ditaduras revolucionárias?! O mundo está farto de desvios de conduta. Farto de gente gananciosa. O Comunismo corroe o planeta!

  2. Dialogar com tiranossauros é impossível. Maduro vai enrolar até conseguir o que quer. Guaidó já demonstrou que é fraco, não é a pessoa ideal para liderar a oposição.

  3. Esquerdopata age como cachorro não larga o osso por nada. Viver as custas do dinheiro público sem nada produzir é parte da ideologia desta gente safada.

    1. o osso faz parte também do cardápio da gangue Bolsonaro.

  4. Tudo conversa fiada. Só pra Inglês e latino-americanos verem. Vocês nem deviam perder tempo com isso. Jamais vai largar o osso. Não é só ele. Tem um grupo grande de corruptos narcotraficantes que o apoia. Eventual saída do governo só com anistia ampla, geral e irrestrita para todos do grande grupo de corruptos ladroes incompetentes. Qual outro tipo de negociação daria certo?

  5. LULA: os EXEMPLOS EXECRÁVEIS que uma SOCIEDADE tão CORRUPTA é capaz de produzir! São DEGENERADOS MORAIS que IMPEDEM o BRASIL de AVANÇAR! Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” Triunfaremos! Sir Claiton

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