O castigo dos hermanos
O governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner obteve uma derrota histórica nas eleições primárias da Argentina, realizadas no último domingo, 12, para definir quais candidatos poderão disputar vagas no Parlamento, em novembro. Os nomes apoiados pelo oficialismo conseguiram apenas 32% dos votos, enquanto a oposição obteve 41%. Se os resultados se confirmarem no pleito de novembro, o presidente Fernández verá suas chances de se reeleger em 2023 diminuírem. No discurso para avaliar os números das primárias, ele admitiu, pela primeira vez, que “tem pela frente dois anos de governo“, ignorando a possibilidade de reeleição. Seu fracasso nas urnas não se deve à pandemia, uma vez que a vacinação avança e 41% dos argentinos já tomaram duas doses. O que explica o desempenho fraco do governo é a economia, o mesmo fator que, em 2019, inviabilizou a reeleição de Mauricio Macri. A Argentina, assim, continua sem conseguir resolver seus problemas de fundo, o que segue gerando muita instabilidade política.
Fernández e Macri, presidente entre 2015 e 2019, recorreram a estratégias diferentes para tentar solucionar os problemas do país. Nenhum deles obteve sucesso. Macri entrou na Casa Rosada após um longo período peronista — um mandato de Néstor Kirchner e dois de Cristina Kirchner —, com a intenção de eliminar o protecionismo e o intervencionismo estatal. Ele seguiu a cartilha ortodoxa para conter a inflação, que manda cortar gastos federais. A inflação, indiferente, seguiu em alta. No ano em que ele tentou a reeleição, o preço dos alimentos e bebidas subiu 60%. Em um ano, a faixa da população argentina que vive na pobreza foi de 32% para 35%. Os investimentos externos não apareceram porque a disputa entre China e Estados Unidos levou o dinheiro para longe dos mercados emergentes. Macri foi bem-sucedido em conseguir um empréstimo de 56 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional, o FMI. Mas o montante não chegou a ser totalmente desembolsado, porque a entidade exigia o controle do déficit fiscal. No fim de seu mandato, ele passou a criticar ainda mais fortemente sua antecessora, Cristina Kirchner, na esperança de jogar toda a culpa nela e reverter o resultado nas urnas depois de uma derrota nas primárias, em 2019. Não deu certo.
Alberto Fernández e Cristina Kirchner venceram no primeiro turno, com 48% dos votos, apontando o dedo para a economia. Após tomarem posse, presidente e vice retomaram o manual peronista e elevaram os gastos públicos. A pandemia reforçou esse movimento. Desde o início do governo Fernández-Cristina, a dívida pública argentina subiu 30 bilhões de dólares – está agora em 340 bilhões. O país vem imprimindo dinheiro 24 horas por dia e teve até de importar máquinas do Brasil e da Espanha para dar vazão à demanda. A emissão maior de moeda jogou para cima os preços e o custo de vida. A inflação dos últimos doze meses foi de 51%. A pobreza, como consequência, saltou para 44% da população. O ministro de Economia, Martín Guzmán, nomeado com a meta de resolver a pendência da dívida externa, conseguiu um acerto com os credores privados, mas não chegou a anunciar um acordo final com o FMI. Além disso, o PIB despencou 10% no ano passado. No final de agosto, ao falar no Congresso, Guzmán preferiu jogar a culpa em Macri, assim como Macri fizera em 2019.
Sem políticas apropriadas, a Argentina não consegue realizar o seu maior potencial, o de ser uma grande exportadora de cereais e de carnes. O campo, que poderia ajudar o país a obter divisas, sempre foi penalizado com impostos e medidas arbitrárias. Em 2018, Macri elevou os impostos sobre as exportações, reeditando uma atitude polêmica adotada por Cristina Kirchner dez anos antes. O retorno do peronismo ao poder no final de 2019 voltou a enfraquecer o setor agrário. Em meados do ano passado, o governo de Alberto Fernández anunciou a intervenção na exportadora de soja Vicentin. Os argentinos foram às ruas protestar, com faixas pedindo “respeito à propriedade privada”. Em maio deste ano, o governo vetou a exportação de carne, com a justificativa de que era preciso conter os preços no mercado interno. O setor, que ensaiava uma recuperação, imediatamente cortou os investimentos.
Com a derrota do peronismo nas primárias, os argentinos especulam qual será a reação do governo para tentar reverter o placar antes das eleições legislativas de novembro. Nessas horas, o que sempre impera é o populismo. Em 2019, Macri congelou o preço dos alimentos, retirou o imposto sobre valor agregado dos produtos da cesta básica e falou em elevar o salário mínimo. Alberto Fernández e Cristina Kirchner devem tentar algo semelhante, com programas sociais, subsídios e congelamento de preços. “Quando o argentino vai ao supermercado e percebe que terá de gastar mais do que na semana anterior, isso é muito ruim para o governo. Certamente, o governo tentará botar dinheiro no bolso da população”, diz Orlando D’Adamo, do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. Mas a perspectiva de que o governo consiga virar totalmente o jogo é pequena, uma vez que não há muitos recursos para gastar e a emissão de mais moeda agravaria ainda mais a inflação.
Caso o voto de castigo abra um vazio político na Argentina, como tudo indica que irá ocorrer, o espaço deverá ser preenchido por figuras alternativas. Na oposição ao atual governo federal, destacaram-se nas eleições primárias políticos ligados ao prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, que deverá se cacifar nacionalmente com o resultado. Economista, Larreta conta com uma aprovação de 48% e é rejeitado por somente 34%. “A Argentina, diferentemente do Brasil, é um país muito centralizado. Quando um prefeito faz algo em Buenos Aires, toda a nação fica sabendo. Então, quem governa a capital tem metade do caminho andado para ser o próximo presidente”, diz o consultor argentino Gustavo Córdoba. Outro que vem ganhando terreno é o também economista Javier Milei, que teve 13% dos votos na capital e deve garantir um posto na Câmara dos Deputados. Milei é um outsider. Admirador de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, ele defende redução dos impostos e do tamanho do estado. É chamado de ultraliberal porque prega o fim do Banco Central. Sua agenda social é heterogênea: é contra o aborto, mas a favor do casamento gay e da legalização das drogas. Com uma linguagem agressiva, Milei ataca ferozmente seus adversários. “Ele tem um discurso contra a elite e contra a política, que surpreendentemente conseguiu a mesma penetração tanto nos bairros ricos de Buenos Aires como nos mais pobres”, diz o analista D’Adamo. À diferença do que ocorre no Brasil, a Argentina caminha para punir os dois polos que vêm dominando a cena política local nos últimos anos. O perigo é optar por um outsider que promete mundos e fundos e, depois, se arrepender. Exemplos por perto não faltam.
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Dizer que Macri seguiu a cartilha ortodoxa e cortou gastos é piada, não? Mais à frente, a reportagem confessa que não cortou gastou (ao apontar a imposição de impostos sobre exportações para tentar cobrir o déficit: ou seja, não havia cortado gastos, não equacionou o déficit e acabou criando impostos).
Meu amigos , onde vocês moram! Em Marte? Tem muita coisa boa no Brasil ! Viajo pelo interior de Minas a trabalho ! Acordem! A imprensa quer destruir tudo! Por favor ! Aqui tem somente esquerdistas? , q querem quanto pior melhor. Da nojo da mídia!, só porque foi cortado o capilé?
Eu moro no interior de Minas e não vi nenhuma mudança por aqui.
nem lula nem bolsonaro. os dois não servem mais
Peronismo e Lulismo é a doença autoimune populista corruptiva, incurável. A sapacristina trocou TODOS, do chefe Gab., Economia e Segurança. O chefão da droga Monos, ameaçou " Se não libera nosso Chefe, vamos começar a matar Promotores"... Pois o Ministro de segurança que assumiu ontem, indicado pela sala, falou; " É, tenemos una sensación de inseguridad". Simples assim, la como cá , a esquerda ÷ comparsa do PCC: "Batem um papo cabuloso", lembram? Qualquer semelhança, não ÷ mera coincidencia.
A presidenta manteve o M.da Economia, só pra contrariar seus aliados e provar que ela manda, até porque foi indicação dela. Tal qial Peron quando foi deposto e elegeu o poste Campora, se dizia: " É Campora no governo e Perón no poder",. Lula sonhou isso com Hadad e não à toa o Fernandez veio visitar o condenado na PF, pedir a bênção.
Lamento que a Argentina viva em crise permanente! É por conta do tal "populismo" e o Brasil também não tem muito do que se gabar ...
Esse aí tem medo de usar o proprio nome. E fica dizendo bobagens.
Tem sim ! Seu mundo e muito pequeno! O Brasil vai bem sim! Acorda!
Será que banirão o peronismo? Já está mais do que na hora. Modelo retrógrado de fazer governo.
O legal de ler uma reportagem como essa é que as informações apareceram durante a semana mas de maneira meio desorganizada, em outros meios, até por conta da velocidade que os fatos vão acontecendo. Aqui a reportagem é 'limpa' e resume bem o que aconteceu.
Prometem mundos e fundos, mas são só mentiras. Não têm coragem de cortar na carne , de ir contra o parasitismo do estado. Lá como cá. Mas aqui temos a solução do impeachment. Mentiu, roubou, fora!
Ótima reportagem Duda. Brasil, Argentina e a América Latina (não sei se na totalidade) estão em crise geral. Sinais de tempos de mudança.
Última trincheira bolsonaro.22
Esse Fernandez é o capitão cloroquina de lá, só faz afundar o país
Seus bostas ! bolso.22 avisou ! Lembram ? K q falta na Argentina e um Bolsonaro q tenha coragem de governar ! Cortando interesses
Que os argentinos saiam desta situação tão triste, que os assola há anos, para poderem se reerguer e que possamos desfrutar de todas as belezas daquele país e de seu povo. Amo a Argentina, fiz e deixei amigos lá, e sigo na torcida de dias melhores para eles. Vamos Argentina !
Tb desejo igual, inclusive para o nosso Brasil
Estamos caminhando, logo atrás de vocês, hermanos, para o mesmo destino.
O fato é que qualquer um é melhor que Cristina e Macri
Aliar se a Kischner foi uma loucura e total desmoronamento de quem pretendia ou pretende governar a Argentina Na América do Sul tem se que remover as crostas de Peron, Chávez, Evo, ditaduras e extremismos ou estaremos fadados a sermos somente celeiros de drogas para abastecer os demais continentes. Desejo que os hermanos acertem em 2023 e entendam que o voto a Milei é um erro grave como o voto a bolsonaro. Erga se Argentina!
A velha América Latrina continua a mesma, nos entregamos para os populistas salvadores da pátria, dá-lhe corrupção, empreguismo, inflação mentirosa, gastos excessivos da administração pública, etc.....
Pelo visto, los hermanos encontram-se tão descamisados (ops!), tão descaminhados quanto nós...
O Brasil não vai melhorar , se pessoas como vocês aqui não criarem vergonha na cara e reconhecerem que Bolsonaro e a última trincheira para desastre total
Enquanto os brasileiros se alternarem entre Lula e Bolsonaro , dois populistas , nada vai melhorar no oaís