AlexandreSoares Silva

Os Faraós de Cabo Frio

01.10.21

O identitarismo é o mais bem-sucedido esquema de pirâmide da história, depois do marxismo.

Esta semana o caso do Faraó de Cabo Frio me fez pensar em esquemas de pirâmide. Para quem não sabe, o Faraó de Cabo Frio, pessoa com nome de vilão da Marvel, também conhecido como Faraó dos Bitcoins, era um garçom que abriu uma empresa de investimentos com um formato que (visto de longe, talvez) lembrava um pouco um famoso tipo de monumento funerário egípcio. Ficou milionário em seis anos, e foi preso agora pela Polícia Federal. A imprensa está falando de outras três empresas de investimento em Cabo Frio que funcionavam em esquema de pirâmide; tudo isso aparentemente fez a região ficar conhecida como Novo Egito.

Muito bem. Mas senhores, olhem à sua volta: não estamos todos no Novo Egito? Não estamos todos rodeados de pirâmides financeiras de todas as espécies? O que faz com que pensemos que somos melhores que os pobres e gananciosos cabofrienses? Não somos todos continuamente engabelados por ex-garçons milionários com vários tipos de picaretagens pra vender?

Talvez um dia apareça um filósofo político que defenda com argumentos bem-elencados o que eu agora só intuo e digo sem provas: que todas as formas de governo são esquemas de pirâmide. Mas por enquanto vou ser mais modesto, e me limitar a dizer que o identitarismo é um esquema de pirâmide.

Segundo o texto mal-ajambrado da Wikipedia, um esquema em pirâmide é “um modelo comercial previsivelmente não sustentável que depende basicamente do recrutamento progressivo de outras pessoas para o esquema, a níveis insustentáveis. (…) A falha fundamental é que (…) somente o idealizador do golpe (ou, na melhor das hipóteses, umas poucas pessoas) ganham trapaceando os seus seguidores”.

Então, são os movimentos identitários um esquema de pirâmide? Já provaremos.

Como em todo esquema de pirâmide, eles falam em jargão (“racismo estrutural”, “corpos negros”, “branquitude” etc); como em todo esquema de pirâmide, a hierarquia é constantemente enfatizada (“lugar de fala”); como em todo esquema de pirâmide, se as coisas não estão dando certo pra você, você não está se esforçando o suficiente (“não basta não ser racista”, “seu silêncio é uma violência” etc.)

No topo da pirâmide estão os bilionários de sempre, que é até monótono listar, Zuckerberg, Jack Dorsey, Jeff Bezos, o cantor Fagner etc. (incluí o Fagner só para ser surpreendente, desculpe).

Um degrau mais abaixo está gente como a fundadora marxista do Black Lives Matter, Patrisse Cullors, que tem várias casas de luxo (uma delas valendo 1,4 milhões de dólares) e está sendo investigada pelo imposto de renda americano por desvio de fundos de uma das suas fundações; Barack e Michelle Obama, com seus contratos milionários de livros e palestras sobre racismo, e consultoria para séries da Netflix; e outras celebridades que lucram com o assunto.

No degrau intermediário está gente como Ibram X. Kendi, ativista “antirracismo” que recebeu vários prêmios via fundações, o último sendo o Macarthur “Genius” Award deste ano, no valor de 625 mil dólares, e todas as milhares de pessoas que ganham dinheiro escrevendo livros sobre o assunto, dando palestras e principalmente dando os cursos obrigatórios de sensitização racial e de gênero em grandes corporações — um mercado que movimenta não milhões, mas bilhões de dólares no mundo todo.

Um grau abaixo estão membros de ONGs e de grupos identitários que ganham a vida orientando canais de televisão sobre como fazer séries sobre temas raciais e de gênero, e editoras como editar os livros sobre racismo e gênero. Disse “orientando”, mas já que não é mais possível dispensar a presença desses grupos, talvez “ordenando” seja um verbo mais preciso. Nesse grau da pirâmide também estão roteiristas e escritores que são colocados por esses movimentos dentro das salas de roteiro e das editoras. Esse grau da pirâmide age a meio-caminho de um sindicato tradicional e de uma boa e velha máfia siciliana de proteção.

No degrau abaixo estão pessoas como a chef argentina Paola Carosella e o comediante Fabio Porchat, que se declaram racistas publicamente, tentando vender a ideia de que toda a sociedade é racista; tudo o que conseguem pela venda do produto é o benefício psicológico duvidoso de se sentirem, momentaneamente, boas pessoas.

Um degrau mais abaixo, o prêmio é que você vai conseguir manter o seu emprego — e isso só talvez, se você ou a sua empresa continuar comprando os cursos de sensitização racial e de gênero ministrados pelas pessoas de níveis acima do seu.

Na parte mais baixa da pirâmide estão, bom, os seus filhos, e todas as pessoas que estão nascendo tarde demais para lucrarem nesse vasto esquema de pirâmide ideológica.

“Mentira! O sistema funciona! A bonança durará para sempre! É só continuar recrutando! CONTINUEM RECRUTANDO!”, dirão os piramidistas.

Mas não sei. Prefiro investir o meu pequeno capital emocional em coisas mais sólidas, como teorias de conspiração envolvendo alienígenas no Kremlin.

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