Anderson Riedel/PRBolsonaro em evento com 600 pastores: sua agenda tem clara conotação eleitoral

O vale-tudo pela reeleição

Bolsonaro intensifica agenda eleitoreira e coloca toda a máquina do governo para trabalhar pelo segundo mandato, mas pesquisas mostram que estratégia não colou no Brasil real
08.10.21

Não é de hoje que o presidente coloca a máquina do governo a serviço da campanha à reeleição. Mas, desde que se viu fortemente ameaçado pelo impeachment, Jair Bolsonaro resolveu azeitar de vez essa engrenagem para rodar exclusivamente em favor da renovação do seu mandato – o governo virou apenas um meio para atingir esse objetivo. O plano foi batizado de “Agenda Bolsonaro 2”. Ganhou impulso na esteira da incontinência verbal do Sete de Setembro, quando o presidente lançou petardos contra ministros do Supremo Tribunal Federal e, sob intensa pressão, se viu obrigado a recuar, costurando com a ajuda do ex-presidente Michel Temer um cessar-fogo com a corte. Aos ministros da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, o presidente pediu uma relação de obras, qualquer obra, em condições de ser inaugurada o mais breve possível. De preferência, no Nordeste, onde sua popularidade derrete. A Paulo Guedes, titular da Economia, exigiu soluções capazes de viabilizar a concessão de um novo auxílio emergencial e permitir um incremento no Bolsa Família, sob o novo nome de Auxílio Brasil.

A mais recente articulação envolveu o Congresso e teve como palco Maceió, em Alagoas. Em conversa de quase duas horas com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, no dia 28 de setembro, Bolsonaro alinhavou uma agenda legislativa econômica. A ideia inicial partiu de Lira, com quem o mandatário do país já conversava sobre o tema desde o início do último mês. No mais recente encontro, coube ao presidente dar as tintas finais ao projeto. Pelo acerto, Lira conduzirá uma pauta voltada para gerar impacto no eleitorado. Com foco no “reequilíbrio” dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, no Auxílio Brasil e em ajustes no Orçamento, para alavancar obras neste ano e em 2022. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, não participou da conversa em Maceió, mas ficou combinado que ele ficará encarregado de encontrar brechas na peça orçamentária de modo a fazer jorrar dinheiro para emplacar as medidas eleitoreiras. Já Ciro Nogueira cuidará da parte política. É o ministro da Casa Civil quem vai mobilizar a base para aprovar as propostas que dependem do Congresso. O ex-presidente Fernando Collor, hoje bolsonarista de quatro costados, foi escalado para ajudar a robustecer os palanques no Nordeste.

A primeira parte da agenda deverá ser cumprida na próxima quarta-feira, 13. Para essa data, está programada a votação destinada a alterar o sistema de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS. A ideia é que ele passe a incidir sobre o valor médio dos combustíveis nos dois anos anteriores — pelas regras atuais, o tributo tem como base o preço médio nos 15 dias anteriores. De acordo com Lira, a proposta pode resultar na redução da gasolina em 8%, do etanol em 7% e do óleo diesel em 3,7%. “Estamos trabalhando para minimizar o problema, neste momento de dificuldade mundial, de alta das commodities, de crise da energia, do aumento do gás na Europa, que reflete no Brasil”, diz o presidente da Câmara.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisA “Agenda Bolsonaro 2” foi acertada com cabeças-coroadas do Centrão: Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Arthur Lira
As negociações da pauta econômica ocorrem em paralelo com as articulações políticas que podem levar Bolsonaro a encontrar abrigo e aconchego no Progressistas de Lira, Ciro e Barros. Pela costura que também mira 2022, o presidente ficaria com três quartos do fundo partidário de 140 milhões a que o PP tem direito hoje. E ainda teria sinal verde para controlar o diretório do Rio de Janeiro, seu principal reduto eleitoral. Histórico cacique da legenda na capital fluminense, Francisco Dornelles é quem acerta os últimos detalhes. Em contrapartida, o presidente teria de aceitar a eventual composição de diretórios do Nordeste com o PT, para as sucessões estaduais. Segundo espalham os ases do Centrão, Bolsonaro entendeu que o sacrifício vale a pena.

Ao se debruçar sobre qualquer questão hoje, Bolsonaro pensa com a cabeça de candidato, não mais com a de presidente. Ou seja, o mandatário não governa, ele age ao sabor do projeto de poder. Dorme e acorda pensando em como permanecer acomodado na cadeira presidencial até o fim de 2026. É o que o move. Por exemplo, a necessidade de frear a alta dos combustíveis só virou prioridade quando as pesquisas em poder do Planalto mostraram que o preço da gasolina nas alturas afetava a popularidade do presidente. A mesma lógica se reproduz nas demais áreas do governo. “Bolsonaro está em permanente trabalho pela reeleição”, reconhece Temer, hoje um dos principais conselheiros do presidente.

O itinerário de Bolsonaro deste ano é ilustrativo desse comportamento. Em nove meses, fez 64 viagens, transformou as motociatas em atos públicos em favor de seu governo e turbinou os anúncios de programas no Planalto. Nada é capaz de demonstrar com mais precisão o caráter eleitoreiro das viagens de Bolsonaro do que a reinauguração de uma ponte de 18 metros de comprimento no Amazonas, no fim de maio. No mês passado, enquanto acertava os pormenores da “Agenda Bolsonaro 2” com os cabeças-coroadas do Centrão, o périplo se intensificou ainda mais. Apenas em setembro, o presidente visitou 11 estados, muitas vezes dois num dia só, como em 3 de setembro, quando foi para Bahia e Pernambuco, e no dia 17, quando rodou por Minas Gerais e Goiás. Na data da reunião em Maceió com Arthur Lira, Ciro e companhia limitada, ele também tinha aportado na capital baiana. “Temos duas opções: ou ir, e ser chamado de eleitoreiro. Ou não ir, e ser tachado de omisso”, tenta defender o ministro Rogério Marinho. Tarcísio também tenta encarar a situação com desembaraço. Em Nova York, nesta semana, para uma série de encontros com investidores a fim de apresentar as concessões que o governo fará no último trimestre, o ministro de Infraestrutura declarou que é importante “ter o que mostrar” no ano que vem.

Alan Santos /PRAlan Santos /PRO ministro Rogério Marinho ao lado de Bolsonaro no Nordeste: inaugurações para conseguir votos
O léxico adotado pelos ministros e por Bolsonaro é indiscutivelmente de quem está em franca campanha. Na terça-feira, 5, em apelo ao segmento evangélico, o presidente chegou a acusar governos anteriores de incentivar a pedofilia. Usou como exemplo o Programa Nacional de Direitos Humanos, criado no governo Dilma Rousseff, que reconheceu todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. “Não podemos esquecer isso, pessoal. Porque tem gente que, voltando ao poder, vai ressuscitar tudo isso aí”, disse o presidente a 600 pastores da Igreja Batista Central.

Como nem todos os votos são conquistados apenas no gogó, Bolsonaro também acelerou o lançamento de projetos e se dedicou a reciclar programas de governos anteriores. O capitão reformado tirou do papel o Casa Verde e Amarela, substituto do Minha Casa, Minha Vida, e, neste mês, criou uma parceria com estados e municípios para permitir que o valor de entrada no imóvel próprio para famílias com renda mensal de até 4 mil reais seja reduzido ou zerado.  Em outra ofensiva, interessado em manter o apoio de sua outra base de sustentação, as polícias militares, Bolsonaro lançou um programa habitacional com foco em profissionais de segurança pública. Chamado de Habite Seguro, o projeto enfrentou resistência do Ministério da Economia. Mas, pressionado pelo Palácio do Planalto, Paulo Guedes capitulou. A iniciativa prevê juros mais baixos e financiamentos subsidiados para integrantes das forças.

Ao apostar nas idas a estados, com inaugurações mambembes, palanques improvisados e farto espaço para discursos de clara conotação eleitoral, na prática Bolsonaro reedita a cartilha de 2018 que o elegeu. Com a diferença de que agora ele usa a máquina do governo a seu favor, repetindo uma prática adotada pelos seus antecessores. Lula, por exemplo, que hoje aposta na retórica do “esqueçam que eu delinqui”, triplicou as viagens no ano pré-eleitoral. Já Dilma, embora mais comedida que o seu padrinho político, aumentou o ritmo de eventos oficiais em diferentes regiões do Brasil em 25%. Como sabe que não sobrevive à realidade, aos problemas da economia, às barbeiragens cometidas durante a pandemia e a perguntas que não sejam as formuladas por habitués de seu cercadinho, Bolsonaro aposta em selfies, memes, na produção de vídeos e em material suficientes para serem explorados nas redes sociais pelos robôs de Carluxo, filho 02 do presidente, e pela falange do gabinete do ódio. Ou seja, é um jogo voltado para a franja mais radical do bolsonarismo.

Ricardo Stuckert via Fotos PúblicasRicardo Stuckert via Fotos PúblicasTática conhecida: no ano pré-eleitoral, Lula, quando era presidente, triplicou as viagens pelo país
A estratégia até agora não produziu resultados efetivos. Os arroubos do Sete de Setembro, lançados com o objetivo semelhante de jogar para a plateia, constituíram um tiro no pé. Daí a necessidade do cavalo de pau, dois dias depois. Recentes pesquisas atestam que a reprodução do plano bem-sucedido de 2018 só tem servido para encantar mesmo os convertidos de sempre. Além de ver Lula, hoje o principal adversário, manter uma margem folgada sobre ele, Bolsonaro consegue perder para todos no 2º turno e ainda enxerga uma avenida escancarada para um possível candidato de terceira via – mais da metade da população declara ainda estar com o voto totalmente em aberto. Para piorar, segundo o último Datafolha, a reprovação do presidente segue tendência de alta: hoje está em 53%, um recorde desde o início do mandato. Significa que a história – ou a sanha eleitoreira – até se repete, mas a maioria já sentiu o bafo da tragédia e da farsa.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Somente com a eleição de um NOVO PR não será possível mudar o país. É imprescindível mudar em torno de 85% dos deputados e senadores, pois esses aí - PT e partidos anexos, PSDB, MDB, PP, PL, PTB, PDT, REPUBLICANOS, etc… só querem vingar-se da LAVA-JATO e LAVA-TOGA. Todos uniram-se contra a pequena parcela de pessoas honestas, que ainda resistem nesse país, como MORO, PF e PROCURADORESDA REPÚBLICA.

  2. Não sei se há um candidato que ponha o país nos trilhos. A raiz de todo esse caos está no povão, que vem sendo “desmontado” sistematicamente há décadas.

    1. Vc tem razão e esta realidade leva tempo pra resolver. Um PR bem intencionado e capaz ajuda muito, mas acho que só o Congresso consegue mudar nosso País e pra isso, tem que ser renovado em sua maioria ...

  3. Vai gastar os tubos e ficar com um percentual grande pra poder contratar defensores de peso e continuar solto assim que largar o desgoverno, pouco se importa se não vai ser reeleito...

  4. O melhor presidente de todos os tempos! Sugiro bolso.22 ficar até 2030 para o bem do Brasil! Viva ! Um homem honesto, simples e de grande coração!

    1. É de dar engulhos a foto do quarteto acima, símbolo do mais deplorável que a política nacional conseguiu produzir ! Lira, Barros, Ciro e o desde sempre convertido que afinal tirando a máscara declarou que sempre foi centrão , Bolsonaro . Se quisermos o sucedâneo da foto é só chamar Lula e Dirceu porque os outros nunca saíram da berlinda . Bolsolulismo nunca mais !

  5. A reeleição é a única forma deste canalha escapar da cadeia. E ela nunca acontecerá. Espero uma condenação inconteste, por um Tribunal Internacional q mantenha este animal e sua prole maligna, para.sempre, atrás das grades.

  6. Todos que fazem parte deste governo, a começar pelo chefe, perderam a noção de ética, se é que um dia já tiveram. É constrangedor observar a cegueira ou mau-caratismo dos que ainda prestam seu apoio a esta gangue. Estou confiante na viabilidade de um candidato decente para 2022 ...

    1. Renato você falou por mim e por milhões de Brasileiros!

  7. É muito sintomático o encontro do casal fantasiado de “cristão batizado”, ou “evangélicos” com 600 pastores ou é 600 picaretas? Algum desses falsos profetas lembrou-se das mais de 600 vidas perdidas pela vigarice do Genocida, sob as bençãos dos vendilhões do Templo?

  8. Não existe terceira via. Vcs da crusoé deve tirar sua base de pesquisa no datafolha ou outros comparados. Dia 12 não foi um partido foram 21 e a resposta está aí.

  9. Tem de enfiar na latrina da História, esse governo ordinário! Por sinal, brasileiro tem um talento todo especial para escolher político tranqueira!

    1. É realmente estarrecedor q um assinante da Crusoe ainda desconheça que o Antagonista e Crusoe é um jornalismo independente, não trabalha com verbas públicas. Pra nossa sorte eles existem pra nós manter verdadeiramente informados. Todas as outras mídias estão censuradas

    2. Estou vendo muita propaganda desse desgoverno na Globo. Não houve corte algum..,

    3. Está lendo muito a Globo, crusoé, Oantagonista, Folha de São Paulo, Estadão e outros que o governo cortou as propagandas federais.😂😅🤣😆🐁

  10. Crusoé e Oantagonista estão cegos de ódio. Se entrega terrenos, casas e obras é eleitoreira, se não faz, não sabe governar. Estava sozinho, não sabe conversar, juntou com centrão como todos outros governos, juntou com ladrões. HIPÓCRITAS

  11. O desespero é grande!! Já sabe que tá perdido!! O pior presidente que o Brasil já teve!! Péssimo!! Não está e nunca esteve à altura do cargo que exerce!!!

  12. Só nos resta fazer contagem regressiva à espera do dia 01 de 2023 para podermos nos livrar desse pesadelo. ou quem sabe iniciar outro pesadelo se o que apontam as pesquisas se confirmar.

  13. Não consigo mais ler nada relativo a esse ser ignóbil. Nojeira total. Não pode falar mais de ninguém. Faz exatamente ou pior que outros postulantes à reeleição.🤮🤮🤮🤮🤮🤮🤮🤮

  14. Nunca mais será NADA.. ARRASOU O PAÍS E RESSUSCITOU O FANTASMA DA INFLAÇÃO QUE HAVIA SAÍDO DE. NOSSAS VIDAS.. NÃO TEMOS 11 milhões de dólares para sair do BRASIL MAS TEMOS A FORÇA DE NOSSO VOTO..MORO PRESIDENTE.. E CADEIA NESSA GENTE..

  15. O melhor cenário para o Brasil seria que tanto Bolsonaro, cujo governo é uma tragédia, quanto Lula, que foi uma aberração, desistissem das candidaturas. Poderiam apoiar candidatos mais dignos. Mas como não sou Poliana, TEREMOS QUE OBRIGÁ-LOS A DESISTIREM. Moro Presidente 🇧🇷. A virtude vencerá o vício.

  16. Essa praga de Governo,mostra-se pior que os outros! isto acontece pq o povo é abedtalhado incompetente para votar nestes PÁRIAS DE GOVERNOS!Dedos podres para votarem,cada um pior que outro! pesquisem passado dos candidatos antes de votarem!

  17. BOLSONARO e LULA: os EXEMPLOS EXECRÁVEIS que uma SOCIEDADE tão CORRUPTA é capaz de produzir! São DEGENERADOS MORAIS que IMPEDEM o BRASIL de AVANÇAR! Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” Triunfaremos! Sir Claiton

    1. Para nos azucrinar e se livrar da cadeia. Pra mais nada. Ele querer, tudo bem. Agora, com apoio desses desclassificados? Estão delirando, fora da realidade essa gente.

    2. Essa pergunta não encontra resposta na lógica e no bom senso.

  18. ... tudo isto porque o MINTO DILMO BOLSONARO falou na campanha que era contra a reeleição e não iria se candidatar. É necessário acabar com esta possibilidade de reeleição no país, aliás, deveriam limitar os mandatos de vereador, deputados estaduais, federais e senadores, no máximo a dois mandatos e chega! Ah querem ajudar, ajudem como cidadãos, aqueles que o são!

  19. Minha esperança se concentra nessa "mais da metade da população", que "declara ainda estar com o voto totalmente em aberto". #NemLulaNemBolsonaro!

  20. a arrogância e ignorância da "prensa loka" beira o ridículo . esta escória cúmplice da ladroagem acha mesmo que Bolsonaro vai pra guilhotina sem reagir? jorNAZISMO imbecil para manipular idiotas e só.

    1. Feitosa, os brasileiros inteligentes estão saindo da Caverna. Vc conhece a analogia de Platão?!

    2. Débora se também para os idiotas lá se vão belos pescoço né fia?

  21. Sou Cristão jamais imaginei vê púlpito da Igreja servido como palanque político fora todos atrás só dos seus inte$rreses

    1. Foi assim votei no baixo clero. Esse miliciano carioca Representante das catacumbas comandante do cortejo de Lúcifer

Mais notícias
Assine agora
TOPO