Iwi Onodera/UOL/Folhapress

‘O escolhido terá que costurar a unidade’

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, diz que o vencedor das prévias do partido, marcadas para este fim de semana, terá por missão unificar a legenda. Para ele, é possível chegar a uma candidatura única de centro
19.11.21

Bruno Araújo, de 49 anos, assumiu a presidência do PSDB em maio de 2019, justamente quando o partido ainda tentava se recuperar de uma acachapante ressaca eleitoral. Além de juntar os cacos do pior desempenho do partido em eleições presidenciais de sua história – os míseros 4,7% dos votos amargados por Geraldo Alckmin, em 2018 –, o dirigente tucano teve de lidar com o crescente acirramento político dentro do próprio ninho, com estocadas públicas entre “novos” e “velhos” expoentes da legenda.

O conturbado processo de prévias que escolherá neste domingo, 21, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto evidencia que a sigla segue rachada. A disputa tem sido marcada por trocas de farpas e acusações de fraude entre os principais concorrentes, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Na avaliação de Bruno Araújo, para não repetir o filme de 2018, caberá ao vencedor costurar a unidade interna. “Um líder será escolhido e esse líder tem que ter a competência e vocação, espírito público e habilidade política para costurar a unidade interna”, afirma nesta entrevista a Crusoé o ex-deputado federal e ex-ministro das Cidades do governo Michel Temer.

Araújo se diz otimista quanto à construção de uma candidatura competitiva de terceira via. Segundo ele, o PSDB estaria disposto a abrir mão da cabeça de chapa ao sentar-se à mesa na tentativa de chegar a um nome de consenso capaz de quebrar a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula. Eis a entrevista:

O partido sairá unido depois desse processo tão acirrado nas prévias, com trocas de acusações de fraude entre os governadores João Doria e Eduardo Leite?
O processo de prévias ainda é tão inovador no sistema político brasileiro que ele é novo até para vocês da imprensa. A imprensa está confundindo eleição com confraria. Nós não convocamos uma confraria, convocamos eleições, que são passionais e levam a disputas. Disputas que, muitas vezes, passam um pouco das quatro linhas do campo. Isso é absolutamente do jogo e se dá em democracias modernas, maduras, como a maior democracia do Ocidente. Se você comparar com as prévias americanas, o que aconteceu aqui é café com leite. O fato é que domingo à noite um líder será escolhido e esse líder tem que ter a competência e vocação, espírito público e habilidade política para costurar a unidade interna. Paralelamente a isso, terá de iniciar a construção da unidade no campo que se distancia dessa polarização estabelecida. O PSDB era coadjuvante até abril e, com a mobilização das prévias, se transformou em protagonista. Os partidos do campo do centro estão esperando o resultado das prévias do PSDB. Ganhar ou perder no ano que vem vai ser do jogo.

Houve questionamentos sobre a segurança do aplicativo criado para a votação remota. O sr. assegura a lisura da votação ou acredita que ela pode ser judicializada pelo perdedor?
Não espero judicialização, porque, na política, o que vale é a percepção. Entregue o resultado, a percepção de que há um vencedor vai servir de timoneira no partido. A votação manual reduziria muito a participação dos filiados. Inovar significa assumir riscos. O PSDB decidiu assumir riscos e não há nenhum processo democrático que não esteja sujeito a críticas.

O PSDB rachou em eleições anteriores. O que o partido pretende fazer para que isso não se repita em 2022?
Essas referências a eleições passadas só acontecem hoje pela estabilidade do PSDB enquanto instituição partidária. Eu serei um catalisador do que for necessário até o fim da minha missão como presidente do partido, em maio. Serei colaborativo. Mas a competência dessa articulação de ordem política, da capacidade de liderar o processo, será do vitorioso das prévias.

Iwi Onodera/UOL/FolhapressIwi Onodera/UOL/Folhapress“O PSDB decidiu assumir riscos e não há nenhum processo democrático que não esteja sujeito a críticas”
Quais as chances de o PSDB abrir mão da candidatura própria para apoiar um nome que estiver mais forte na disputa?
Mais forte não é, necessariamente, aquilo que apontam as pesquisas. É um conjunto de variáveis. Quem tem mais capacidade de fazer alianças político-partidárias, quem as pesquisas qualitativas apontam com mais viabilidade, quem eventualmente tem uma intenção inicial de votos menor, mas cuja rejeição não o inviabiliza. É um conjunto de fatores. Não é uma leitura simplória de quem está numa posição mais adequada naquele dia na pesquisa. O candidato do PSDB sai fortalecido com o processo de prévias. Noventa por cento dos filiados com mandato, deputados, senadores, governadores, prefeitos, enfim, procuraram o partido para registrar seu nome, se habilitar e votar. Isso é muito poderoso. Fora os mais de 40 mil filiados comuns (sem mandato). Até ontem as candidaturas do PSDB eram resolvidas com quatro nomes em um restaurante de São Paulo. O PSDB está escolhendo um nome para ser candidato a presidente da República. Vai viabilizar essa unidade de centro, construir isso? Depende essencialmente da qualidade desse nome.

Mas o PSDB pode renunciar a ser cabeça de chapa, para tentar romper a polarização entre Lula e Bolsonaro e colocar um candidato de centro no segundo turno?
Assim como Sergio Moro (ex-juiz e pré-candidato do Podemos), deduzo, abre mão, como Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde, presidenciável do DEM) abre mão, Simone Tebet (pré-candidata do MDB) e outros nomes abrem mão, o PSDB senta-se à mesa para dialogar. O partido terá nome para disputar a Presidência da República. A questão será se o escolhido terá habilidade e maturidade suficientes para convencer esse conjunto de protagonistas e ser o cabeça de chapa. Eu acredito piamente na candidatura a presidente do PSDB.

Como tornar o candidato tucano, que sairá de São Paulo ou do Rio Grande do Sul, atraente para o eleitor do Nordeste?
Eleição é comer buchada, sentar-se no meio-fio, viver a vida e a cultura do Nordeste. Entender e saber como falar sobre um grande projeto de infraestrutura da região, possibilitar investimento em massa para reduzir a diferença em relação a outras regiões do país. São mais de 50 milhões de pessoas que vivem na região do semiárido. Espero que o PSDB aprenda a conviver com essa realidade. É algo deficiente na nossa história recente. Agora, é bom lembrar que Fernando Henrique Cardoso, que nasceu no Rio de Janeiro e fez carreira política em São Paulo, venceu duas eleições no Nordeste.

Iwi Onodera/UOL/FolhapressIwi Onodera/UOL/Folhapress“O eleitor colocou o PSDB de castigo. É um recado claro”
O apoio a Bolsonaro, seja nas eleições de 2018, seja no Congresso, ainda provoca troca de farpas entre os tucanos. Qual o impacto do bolsonarismo dentro do PSDB?
Primeiro, precisamos acabar com a insistência dessa leitura sobre os nomes do PSDB que votaram em Bolsonaro em 2018. Vocês vão fuzilar os 57 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro? Essa história perdeu completamente o sentido.

Mas os dois candidatos usaram isso para se atacar nas prévias.
Os dois estão errados. Na verdade, eles são demandados pela imprensa e você precisa responder à imprensa. Com toda sinceridade, essa é uma leitura pouco eficiente. Há constrangimentos com a posição da bancada não quando ela vota com o governo projetos que o partido ajudou a construir e nos quais acredita, mas quando vota em projetos como a PEC dos Precatórios, porque votam contra o conceito da responsabilidade fiscal e de aceitar o calote no parcelamento de dívidas públicas. Isso, sim, gera um constrangimento, mas é algo que tende a tornar ao leito normal das coisas, com a escolha de um candidato a presidente da República.

O PSDB não demorou para se declarar oficialmente oposição ao governo Bolsonaro?
Na política tudo tem seu tempo. As coisas se estabelecem quando é hora de fazer, não há tempo certo ou errado. Aconteceu no momento em que o PSDB decidiu tomar essa decisão.

Por que o impeachment saiu da agenda de discussão do partido?
O impeachment é um processo de curso político. Eu coordenei um no Congresso Nacional e conheço os elementos (refere-se ao impeachment de Dilma Rousseff). Você precisa de um elemento político, um social e um jurídico. O elemento jurídico para tocar o processo adiante existe, mas não tem o elemento social. Não tem gente na rua para fazer o impeachment. E o elemento político, que significa maioria dentro do Congresso, também não existe. Não há impeachment com RP-9 (emendas do orçamento paralelo).

Nos últimos anos, tucanos históricos foram atingidos em cheio por denúncias de corrupção. O PSDB não deveria fazer sua autocrítica?
A vida de um partido político, como a vida de qualquer pessoa, é feita de altos e baixos, acertos e erros. Essa autocrítica, o preço dessa conta, o PSDB já pagou. Pagou em 2018 mesmo. Ninguém acha que os 4% do resultado eleitoral não têm explicação. Claro que o eleitor colocou o PSDB de castigo. É um recado claro.

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