DiogoMainardina ilha do desespero

Sou barato

26.11.21

Os lulistas tinham uma tara por mim, que foi herdada nos últimos anos pelos bolsonaristas. É assombroso que um velho como eu, broxável e morrível, ainda seja capaz de despertar tanto ardor. Mas é meu dom — meu único dom.

Desde que Sergio Moro entrou em campanha, os bolsonaristas resolveram entupir as redes sociais com asneiras a meu respeito. Cansados de dizer que eu recebia dinheiro de João Doria, que apanha sem parar em nosso site, passaram a dizer que recebo dinheiro de Sergio Moro. A coisa é completamente amalucada porque, na verdade, sou eu que dou dinheiro a Sergio Moro, por suas colunas na Crusoé. Eu o contratei quando ele estava desempregado, depois de ter sido demitido por Jair Bolsonaro, que preferiu se associar ao mensaleiro Valdemar Costa Neto. Como estou plenamente satisfeito com o trabalho de meu colunista, vou continuar a remunerá-lo.

Na quarta-feira, Carlos Bolsonaro, que comanda a corja bolsonarista, pediu a censura de O Antagonista, dando mais um passo rumo à Casa Verde. Ele publicou no Twitter:

“STF, tenho uma questão: nada acontecerá diante das diárias fakenews e manipulações cristalinas do antagonista, demais veículos de impren$a e parlamentares de oposição, na óbvia tentativa de sucesso do que almejam?”

Ao mesmo tempo que esperneia contra Alexandre de Moraes, acusando-o de minar a liberdade de opinião, o demente quer que a PF bata à nossa porta.

O fato, porém, é que nada disso me afeta. Fui eu que, 30 anos atrás, transplantei para a imprensa a linguagem das redes sociais, antes que existissem redes sociais. Sou o australopiteco do Facebook, sou a Lucy do Twitter. Meus romances, escritos no século passado, e hoje devidamente esquecidos, tinham como protagonistas os antepassados desses bolsonaristas imbecis — personagens que falavam em coro, amparados pelo anonimato, e que se dedicavam a mitificar meus anti-heróis.

Sou imune, portanto, a essa zoeira da internet, porque sei como ela funciona. Só há um efeito colateral: quanto mais os bolsonaristas me amolam, mais estridente se torna minha torcida por Sergio Moro. A única contrapartida que eu exigiria dele, caso ele fosse eleito, seria a seguinte: um mínimo de legalidade, que permitisse condenar e prender monstros como Jair Bolsonaro. Para mim, isso valeria mais do que qualquer dinheiro. Além de ser broxável e morrível, sou também barato. Claro que o Brasil precisa mais do que isso. Eu, porém, me contento com pouco.

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