DiogoMainardina ilha do desespero

O lado certo

03.12.21

Dois meses atrás, publiquei na Crusoé:

Sergio Moro vai vencer em 2022. É o futuro presidente do Brasil”.

A imprensa, na época, desprezava suas chances, assim como os quadrilheiros, os analistas do mercado financeiro e as empresas de consultoria. Por isso, tive de explicar meu prognóstico:

“Há um fator que pode empurrar Sergio Moro para o Palácio do Planalto, e que as pesquisas ainda escondem: a integridade pessoal. Na disputa contra um condenado por suborno e um indiciado por assassinato em massa, ele se destaca por ser limpo, uma qualidade imprescindível num mundo higienizado pós-Covid.

Caso se renda à sua inelutável candidatura, Sergio Moro já parte com 10% dos votos, embora more em Washington, nunca tenha feito campanha eleitoral e esteja escutando calado há mais de um ano as calúnias disparadas por lulistas, bolsonaristas e Gilmar Mendes. No fim do ano, depois de rodar o Brasil para apresentar seu livro sobre a Lava Jato e o período no governo do sociopata, as pesquisas devem ser ainda mais animadoras. Agora, porém, a prioridade é outra: ele tem de montar um programa e uma equipe. O país foi devastado, e precisa de um plano, muito mais do que de um presidente”.

Resolvi reproduzir esse catatau depois que Mario Sabino — meu noivinho há 44 anos — escreveu em O Antagonista:

“É possível fazer análises objetivas quando se tem lado, mas o primeiro passo para isso é reconhecer a própria parcialidade. Talvez esse seja o máximo de imparcialidade que um jornalista honesto pode alcançar nesse campo. Recomendo.”

Eu nunca camuflei o que pensava. A única marca da minha carreira no jornalismo foi essa: pavoneei minha parcialidade, mas sem perder de vista o que realmente contava, que eram os fatos. Fiz outra coisa também: denunciei os laranjas da imprensa que, sob uma fachada impoluta, de imparcialidade, contrabandeavam os interesses de um lado.

O retrospecto é bom. Quando nosso site estreou, no dia da posse de Dilma Rousseff, dissemos que ela sofreria um impeachment por causa da Lava Jato. Era torcida ou análise? Ambos. Em seguida, anunciei que Lula seria preso. Mais uma vez, tratava-se de uma mistura daquilo em que eu acreditava — que roubar é errado — com o exame estrito da realidade. Nosso site farejou o departamento de propinas da Odebrecht antes de qualquer agente da PF. De que maneira? Pela leitura dos jornais. O fedor da bandidagem emanava das matérias falsamente imparciais sobre o assunto. Voltando a Sergio Moro: minha previsão sobre as primeiras semanas de sua candidatura confirmou-se integralmente, e o único motivo desse acerto foi minha capacidade de distinguir os fatos das escolhas pessoais.

A Crusoé e O Antagonista só existem por causa disso. Vamos continuar assim até o fim, sem aceitar a patrulha de ninguém. A gente tem lado — e é o lado certo.

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