DivulgaçãoMaranhãozinho com Bolsonaro: o deputado do PL não será o único enrolado a dividir palanque com o presidente

Maranhãozinho é só o começo

O deputado do PL flagrado pela Polícia Federal com maços de dinheiro nas mãos é apenas um dos muitos aliados enrolados que estarão no palanque de Jair Bolsonaro durante a campanha do ano que vem. Mostramos quem são os outros
10.12.21

Flagras de políticos com as mãos cheias de dinheiro costumam chocar a população, ainda que as cenas não sejam assim tão raras por aqui. As razões do choque são óbvias: em geral, o dinheiro é público, fruto de corrupção, e as notas em profusão contrastam com a dura realidade vivida pela esmagadora maioria dos brasileiros. Na última semana, o país foi apresentado a mais um desses casos indecorosos que causam perplexidade e indignação. Com exclusividade, Crusoé revelou a parte mais escandalosa de uma investigação que corre no Supremo Tribunal Federal contra o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, do PL. Nas imagens, ele aparece com grossos maços de dinheiro que, segundo a Polícia Federal, são produto de um azeitado esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares.

Há um importante agravante político neste novo leva-e-traz de pacotes de dinheiro sujo. Apesar de ser pouco conhecido da maioria dos brasileiros, Josimar de Maranhãozinho é um dos chefes do partido do notório Valdemar Costa Neto, o PL, sigla que passou a abrigar, desde a última semana, o presidente Jair Bolsonaro – o que ajuda a explicar o silêncio eloquente do Planalto sobre o tema. “Conheceis a verdade e a verdade os libertará. Só falta praticar”, ironizou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, fazendo menção a um trecho bíblico usado com frequência por Bolsonaro. “Já vi isso antes. Estava demorando para aparecer uma imagem que estampasse o que todos alertavam sobre esse orçamento secreto”, acrescentou, logo após a história vir à tona.

A despeito da clara tentativa do governo e de seus aliados no Congresso de abafar o escândalo, repetindo o que acontece toda vez que um dos seus é apanhado praticando algum malfeito, há uma movimentação de setores da oposição para não deixar o caso cair no esquecimento. “Bolsonaro não tinha acabado com a corrupção? O lugar dessa gente não é no poder, é na cadeia”, disparou o deputado Kim Kataguiri, do DEM, que passou a defender a cassação do colega.

Cleia Viana/Câmara dos DeputadosCleia Viana/Câmara dos DeputadosMarcos Pereira, que responde a uma investigação pelo recebimento de propina da Odebrecht, estará junto de Bolsonaro nas eleições de 2022
Na sexta-feira, 3, a Rede Sustentabilidade protocolou uma representação em favor da perda do mandato de Maranhãozinho. O partido argumenta que o deputado cometeu “crime de corrupção, apropriando-se de escassos recursos públicos a que deveria dar destinação adequada”. “O interesse público passou, literalmente, longe do dinheiro na caixa, o que naturalmente atenta contra a Constituição e o ordenamento, além de ofender a própria representatividade parlamentar”, diz um trecho do documento. Procurado, Maranhãozinho disse, por meio de sua assessoria, que “se colocou à disposição dos órgãos investigativos para esclarecer os pontos que estão sendo equivocadamente veiculados pela imprensa”.

A representação está nas mãos da equipe jurídica da Câmara e, na sequência, seguirá para o Conselho de Ética. Mesmo os parlamentares da Rede, no entanto, creem ser baixas as chances de o processo prosperar. Para além do inequívoco interesse do Centrão em blindar o deputado, o histórico do colegiado joga contra. Na última década, das 190 representações examinadas pela comissão, apenas nove resultaram em perdas de mandato. A avaliação geral é a de que os deputados só cortam na própria carne em casos extremos – como se o flagrante do dinheiro não se encaixasse nessa categoria – ou quando estão sob intensa pressão da opinião pública, como ocorreu no episódio envolvendo a deputada Flordelis, cassada em agosto, depois de denunciada como mandante do assassinato do próprio marido. Como uma parcela dos congressistas já se programa para deixar Brasília na semana que vem, embora o Congresso entre em recesso apenas em 23 de dezembro, o período de festas de fim de ano tende a esfriar a reação às acusações.

Diante da apatia do Legislativo e da usual demora para a conclusão de processos de investigação e julgamento de autoridades com foro privilegiado, a única forma de nomes envolvidos em corrupção serem varridos da política é a derrota nas urnas. Para se manter no poder e, provavelmente, continuar a aprontar das suas, Maranhãozinho conta com um cabo eleitoral de peso: Jair Bolsonaro. Durante a semana, o deputado disse, sem ruborizar, que não abre mão da candidatura ao governo do Maranhão, cargo que pretende disputar com apoio do presidente.

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilFabio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilIndissociáveis: Ciro Nogueira e Bolsonaro estarão juntos em Brasília e no Piauí
O deputado do PL, porém, não é o único político enrolado na Justiça que abrirá palanque para o presidente em 2022. Ao contrário de 2018, quando, esgrimindo um discurso anticorrupção, privilegiou o apoio aos ditos “imaculados” integrantes da “nova política”, no próximo ano Bolsonaro não se constrangerá em aparecer ao lado de personagens de escândalos.

A ampla lista dos enrolados na Justiça que estarão no palanque com Jair Bolsonaro tem, por exemplo, o deputado federal Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Ironicamente, apesar de hoje estar próximo de Bolsonaro, Pereira responde a uma investigação pelo suposto recebimento de propina da Odebrecht em troca do apoio de seu partido à chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer nas eleições de 2014. O inquérito, aberto em 2017, pouco andou, em razão da demora para definir em que foro deve tramitar a apuração. O processo passou pelo Supremo Tribunal Federal, pela Justiça Federal em São Paulo e, neste ano, chegou ao Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Pereira ainda teve o nome mencionado na delação premiada de Joesley Batista. O dono da J&F, a holding da JBS, afirmou que ele teria recebido 6 milhões de reais para aprovar um empréstimo de 2,7 bilhões de reais à companhia, quando ocupava o posto de ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do governo Temer.

Correligionário de Pereira, Silas Câmara, um dos líderes da bancada evangélica, é outro que aparece na lista. Figurinha carimbada nas rodas de orações de pastores do Planalto, o deputado, que pretende concorrer à Câmara mais uma vez, deve ser julgado no ano que vem no STF, por um esquema operado em seu gabinete que envolveu a contratação de funcionários fantasmas. Silas é acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter desviado cerca de 145 mil reais dos cofres públicos entre janeiro de 2000 e dezembro de 2001. Além disso, está na mira de um inquérito, ao lado de outros nove congressistas, por mau uso da cota parlamentar. As apurações indicam “fortes indícios de inconsistências” em notas fiscais apresentadas por uma empresa de publicidade.

Antonio Cruz/Agência BrasilAntonio Cruz/Agência BrasilRéu por receber propina de empreiteira, o expoente do Centrão Ricardo Barros é nome certo na aliança do presidente
No Progressistas, o time de enrolados é extenso – e muito próximo a Bolsonaro. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, puxa o rol. Ele é alvo de quatro investigações da Lava Jato. O presidente da Câmara,  Arthur Lira, foi denunciado pelo recebimento de propinas pagas pelo ex-presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, a CBTU, e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, é réu pelo recebimento de valores da Galvão Engenharia, para facilitar a compra de parques eólicos pela Companhia Paranaense de Energia. Em 2022, no vale-tudo pela reeleição, Bolsonaro subirá nos palanques de todos eles.

O presidente também se comprometeu a estar ao lado da ex-mulher de Ciro Nogueira, a deputada Iracema Portella, que deve concorrer ao Senado ou a vice-governadora. Depois de apoiar Lula em 2014, a parlamentar, filiada ao Progressistas, virou aliada de primeira hora de Bolsonaro. “Quando o presidente vier ao nosso Piauí, teremos orgulho de levá-lo no meio de todos, porque o homem público deve ir onde o povo está”, escreveu ela nas redes sociais. Como seu ex-marido, Iracema tem contas a prestar na Justiça. Ela responde a uma denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, por associação criminosa e peculato. De acordo com a PGR, entre 2017 e 2018, ela indicou um amigo para trabalhar como funcionário fantasma no gabinete do então deputado distrital Cristiano Araújo. Os dois, diz a denúncia, recolhiam a maior parte do salário do falso servidor e dividiam o dinheiro. O Supremo ainda não decidiu se aceita ou rejeita a denúncia.

“Do ponto de vista eleitoral, a relação com esses políticos envolvidos em escândalos é uma simbiose. Bolsonaro precisa da estrutura dos partidos que eles representam e, em contrapartida, os partidos conseguem drenar todas as benesses garantidas pelo governo: orçamento secreto, cargos em ministérios e agências, atuais alianças locais”, afirma o cientista político Ranulfo Paranhos, da Universidade Federal de Alagoas.

De fato, não há mais como dissociar o presidente desses personagens com quem ele dividirá o palanque em 2022. Ao rasgar a fantasia desde que resolveu escancarar as portas do governo aos principais representantes do Centrão e, mais recentemente, “casar” com o PL do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto e de Josimar de Maranhãozinho, Bolsonaro escolheu um caminho sem volta. O julgamento caberá ao eleitor.

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