Reprodução FacebookJulia Zanatta com Bolsonaro: ela é uma das "escolhidas" do presidente

A bancada do ódio 

Quem são os bolsonaristas nos quais o presidente da República aposta como puxadores de votos nas eleições legislativas do ano que vem
17.12.21

Para além do projeto de reeleição, hoje sua prioridade absoluta, Jair Bolsonaro está empenhado em eleger, no ano que vem, uma tropa que possa chamar de sua na Câmara dos Deputados. Ao fortalecer sua ala mais radical no Congresso, o presidente pretende manter aceso o bolsonarismo, um fenômeno político que não depende necessariamente de sua própria vitória para continuar existindo. Para alcançar o objetivo, Bolsonaro escalou aliados de primeiríssima hora espalhados pelas principais regiões do país e alguns de seus auxiliares mais próximos.

Não é apenas legítimo como necessário que o Congresso seja composto por parlamentares de distintos pontos de vista, sejam eles conservadores ou progressistas, liberais ou estatistas, ateus ou religiosos. O contraditório faz parte da democracia. Mas os perfis que Bolsonaro deseja emplacar se enquadram em outra categoria. Eles não exibem uma coerência programática. A ideologia que professam, no geral, é a do ódio, um dos motores do bolsonarismo nas redes sociais e fora delas. Se chegarem à Câmara, blindados por imunidade parlamentar, terão caminho livre para reproduzir falas preconceituosas e tentar aprovar projetos absurdos. Outra característica marcante da turma é a subserviência quase incondicional ao presidente.

Na relação de candidatos à Câmara montada por Bolsonaro, há dezenas de nomes. Mas alguns chamam a atenção pelo alinhamento automático ao credo bolsonarista. Apesar da sintonia fina com o Planalto e do esforço que será feito pelo presidente para elegê-los, há dúvidas sobre o desempenho eleitoral do grupo. Os próprios aliados do governo admitem que, ao contrário de 2018, não bastará se associar à imagem do presidente para ter sucesso nas urnas, como aconteceu, por exemplo, com Hélio Lopes, conhecido como Hélio Negão. Então neófito na política, ele foi o deputado federal mais votado no Rio, depois de passar a campanha inteira em eventos ao lado da família Bolsonaro. “Ficar apenas batendo foto com presidente não será suficiente”, reconhece o deputado Bibo Nunes, do PSL. Além disso, os novatos terão que disputar espaço e votos com a bancada bolsonarista atual, que tentará a reeleição. Crusoé mostra, a seguir, quem são os soldados que Bolsonaro quer ver na Câmara a partir de 2023.

 

Reprodução InstagramReprodução InstagramTenente Mosart: parentesco cruzado e lealdade canina

O tenente de estimação

Amigo de Bolsonaro há 26 anos, o tenente Mosart Aragão Pereira é mais do que um mero assessor do Planalto: casado com a irmã da ex-mulher de Renato Bolsonaro, irmão do presidente, ele participa ativamente da rotina presidencial. Toma café da manhã com Jair Bolsonaro, é convidado para as pescarias do chefe e integra com alguma frequência as comitivas presidenciais. Em três anos, esteve com Bolsonaro em 41 viagens. A intimidade é exibida nas redes sociais do militar, que também se dedica a publicar montagens e memes humilhando adversários do presidente e a defender as bandeiras mais caras ao bolsonarismo, como o “tratamento precoce” para o coronavírus. Em 2022, o tenente, natural do Ceará, pretende concorrer a deputado federal por São Paulo. A aspiração já é pública. No final de outubro, Mosart Aragão Pereira organizou um evento para reunir potenciais apoiadores de sua candidatura.

Reprodução Rede SociaisReprodução Rede SociaisSargento Max: onipresente nas aparições públicas do presidente

O capanga

O sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro Max Guilherme Machado de Moura pode ser facilmente visto ao lado do presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada. Moura ganhou a confiança de Bolsonaro depois de integrar a equipe de segurança do então candidato durante o atentado sofrido por Bolsonaro, em setembro de 2018, na cidade de Juiz de Fora. Nas redes sociais, o assessor especial da Presidência, que recebe salário de 8,1 mil reais, costuma atacar os adversários de Bolsonaro e disparar contra a imprensa. Em 5 de novembro, ele teve suas contas no Facebook e no Instagram removidas por “comportamento inautêntico”. No dia da exclusão, Sargento Max, como é conhecido, escreveu: “A guerra dos conservadores contra a censura é pesadíssima”. Ex-integrante do Bope, a tropa de elite da Polícia Militar fluminense, ele vai concorrer a deputado federal pelo Rio de Janeiro.

Reprodução Rede SociaisReprodução Rede SociaisTércio Thomaz: da Paraíba para o Planalto

Direto do ‘Gabinete do Ódio’

Tércio Tomaz é um dos expoentes do famigerado Gabinete do Ódio, como ficou conhecida a estrutura instalada no Palácio do Planalto que se dedica a promover o presidente, moer reputações de adversários do governo e disparar informações comprovadamente falsas. Recente investigação do Facebook apontou o assessor da Presidência como o principal administrador de perfis derrubados pela plataforma por disseminação de fake news. Tomaz também é investigado pelo STF no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos. Na CPI da Covid, integrou a lista de pedidos de indiciamento por incitação ao crime, propagação de desinformação e estímulo ao descumprimento de regras sanitárias. O assessor, que hoje ocupa uma sala do terceiro andar do Palácio do Planalto, trabalha para Bolsonaro desde 2017, quando o presidente ainda era deputado federal. Ele também atuou no gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara de Vereadores do Rio. Antes de se mudar para Brasília, Tomaz era recepcionista de um hotel em Campina Grande, na Paraíba, estado pelo qual irá concorrer a deputado federal em 2022.

Reprodução FacebookReprodução FacebookLéo Índio: Carluxo o colocou no centro do poder

O primo do coração

Investigado no inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, ganhou notoriedade em Brasília por ser o primo predileto de Carlos, o filho 02 de Jair Bolsonaro. No início do governo, Índio chamou atenção ao aparecer com frequência no Palácio do Planalto, mesmo sem ocupar um cargo de maneira oficial. Graças à influência do clã presidencial, ele foi contratado para atuar no gabinete do então vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues, parlamentar flagrado com dinheiro entre as nádegas, onde ficou de abril de 2019 até outubro de 2020. Desde julho deste ano, Léo Índio está lotado na liderança do novo partido do presidente, o PL, no Senado. Lá, recebe salário de 22,9 mil reais por mês. Também recém-filiado à legenda comandada por Valdemar Costa Neto, é outro que concorrerá a deputado federal pelo Rio. Como não poderia deixar de ser, a candidatura é incentivada por Carluxo e por Eduardo Bolsonaro.

Reprodução InstagramReprodução InstagramMaurício Souza: comentário sobre Superman o credenciou

O jogador

Maurício Souza fez barulho ao publicar, em outubro deste ano, um comentário homofóbico em seu perfil no Instagram sobre a bissexualidade do atual Superman, anunciada pela DC Comics, uma das maiores companhias de histórias em quadrinhos dos Estados Unidos. “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, escreveu. A repercussão do caso lhe custou a vaga na seleção brasileira de vôlei e provocou a dispensa do time em que atuava, o Minas Tênis Clube, mas fez com que ele caísse nas graças de Jair Bolsonaro. Em 22 de novembro, o presidente fez questão de levar o jogador para conversar com apoiadores na entrada do Palácio do Alvorada. “Tudo agora é homofobia”, ironizou Bolsonaro na ocasião. Com o presidente como “padrinho”, Souza foi convidado a se filiar ao PL. O jogador, que de outubro para cá ganhou 2,5 milhões de seguidores no Instagram, avalia concorrer a deputado federal por Minas Gerais. Bolsonaristas-raiz torcem para que a candidatura decole. “Ele virou porta-voz da liberdade e da luta contra o politicamente correto. É um símbolo conhecido nacionalmente. Não pode deixar de lado esse momento. O cavalo passa uma vez só”, defende o deputado Carlos Jordy, do PSL.

ReproduçãoReproduçãoNikolas: holofotes ao tentar visitar o Cristo Redentor sem estar vacinado

O vereador estridente

Segundo vereador de Belo Horizonte mais votado na eleição de 2020, Nikolas Ferreira, de apenas 25 anos, reproduz fielmente o discurso bolsonarista por onde quer que vá. Em dezembro de 2020, Nikolas publicou em suas redes sociais um vídeo em que exibia um fuzil, chamado por ele de “presentinho de Natal” adquirido graças ao “governo Bolsonaro”. Desde então, o bem articulado vereador virou um dos queridinhos do presidente. No último mês, Nikolas foi convidado por Bolsonaro a integrar a comitiva presidencial a Dubai. Nos Emirados Árabes, apareceu em uma transmissão ao vivo feita por Eduardo Bolsonaro. “Fala para mim, não é muito melhor estar ao lado certo da força do que ser animador de jantar do Centrão?”, perguntou o filho 03 do presidente ao vereador. “É muito melhor”, respondeu Nikolas, seguido de gargalhadas forçadas. O comentário foi uma indireta ao humorista André Marinho, filho do ex-bolsonarista e empresário carioca Paulo Marinho, que havia aparecido em vídeo ao lado do ex-presidente Michel Temer, imitando o presidente Jair Bolsonaro durante um jantar em São Paulo. Dirigentes do PL em Minas apostam que o jovem, que será candidato a deputado federal, tem potencial para fazer de 300 mil a 500 mil votos em 2022.

Reprodução FacebookReprodução FacebookJulia Zanatta costuma posar para fotos ostentando armas

A ‘antifeminista’ do fuzil

Coordenadora da Embratur, a advogada Julia Zanatta se define como “armamentista, antifeminista, bolsonarista e cristã”. Amiga pessoal de Heloísa Bolsonaro, mulher de Eduardo Bolsonaro, Julia é responsável pelo perfil Dona de Casa Opressora, mantido no Instagram, que costuma fazer troça de mulheres feministas que não se depilam, não gostam de fazer atividades domésticas e são defensoras da “ideologia de gênero”. No inquérito dos atos antidemocráticos, a Polícia Federal apontou Julia como nome que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, hoje foragido nos Estados Unidos, queria indicar para a Secretaria de Radiodifusão do Ministério das Comunicações. Em mensagens trocadas com o blogueiro, ela diz: “Temos que tomar essa secretaria”. Em 2020, concorreu à prefeitura de Criciúma pelo PL, mas foi derrotada ao obter apenas 7% dos votos. Em 2022, a bolsonarista, que gosta de aparecer nas redes empunhando fuzis, tentará a sorte nas urnas como candidata à Câmara dos Deputados.

Junior pio ALCEJunior pio ALCEFernandes: histórico de nepotismo e punição nas redes

O cearense armamentista

Deputado estadual mais votado em 2018 no Ceará, André Fernandes, do Republicanos, tem 24 anos, é filho de pastor evangélico e, antes de ser eleito, mantinha um canal de humor na internet. Em quase três anos de mandato, já teve o cargo suspenso durante um mês, por acusar um colega de envolvimento com organizações criminosas sem apresentar provas. Em abril, foi denunciado por nepotismo pelo Ministério Público local, por indicar como assessores de seu gabinete o cunhado e o marido de uma tia. Durante a pandemia, Fernandes teve posts suspensos no Instagram por minimizar a gravidade do coronavírus. Em seu gabinete, o cearense, que irá concorrer a deputado federal em 2022, exibe com orgulho quadros que reproduzem armas em 3D feitas de resina. Ele já participou das tradicionais lives que Jair Bolsonaro faz às quintas-feiras.

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