DiogoMainardina ilha do desespero

Crime e Castigo

04.02.22

Aposto que Sergio Moro vai ser eleito em outubro. Segundo o mini-Dostoievski que reside em minhas entranhas, e que passa o tempo jogando roleta em vez de escrever livros, suas chances são de 1 para 5. É o bastante para mim. Não tenho mais nada a perder. Penhorei até o colar de minha mulher.

O próprio Moro, nesse ponto, é igual a mim. Ele também não tem nada a perder. Já tomaram tudo dele: a Lava Jato, o emprego, o futuro e, sobretudo, a respeitabilidade, que foi roubada pela gangue que comanda o cassino brasileiro.

Alguns dias atrás, a imprensa publicou uma notinha apavorante – e perdi uns dez minutos pensando num adjetivo que não me rendesse um processo. Segundo o Metrópoles, e o relato foi confirmado por nosso site, a presidente do Podemos, Renata Abreu, disse a alguns empresários, durante um jantar, que ministros do STF estavam mobilizados para torpedear a candidatura de Moro. Isso mesmo: ministros do STF. O Antagonista já havia noticiado que integrantes da União Brasil, que negociavam um acordo com Moro, haviam recebido telefonemas exploratórios” de Gilmar Mendes sobre a campanha de 2022.

Para explicar como isso funciona, posso dizer o que aconteceu comigo. No ano passado, quando xinguei Kakay no Manhattan Connection, Gilmar Mendes deu uns telefonemas exploratórios para a TV Cultura e fui demitido do programa. Nesta semana, aliás, os protagonistas do episódio, Gilmar Mendes e Kakay, estavam juntos em Granada, na Espanha, e o advogado, enquanto fazia um passeio exploratório pela cidade, encontrou-se casualmente (claro) com o doleiro da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran, caluniador de Moro e foragido da Lava Jato.

O STF, em 7 de setembro, foi capaz de conter o golpismo bolsonarista. O fato, porém, é que os tanques fumacentos do sociopata são uma quinquilharia perto do arsenal institucional usado para abater a candidatura de Moro. Jair Bolsonaro está morto e enterrado. O verdadeiro perigo para a democracia é representado por aqueles que, em nome da própria democracia, fraudam flagrantemente as urnas, eliminando um adversário da corrida eleitoral.

O mini-Dostoievski que reside em minhas entranhas aposta em Moro para derrotar o golpismo. Em seguida, ele promete reescrever Crime e Castigo, linha por linha.

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