RuyGoiaba

O pedágio à chanchada e o “tortura, mas não privatiza”

11.05.18

Tudo no Brasil paga pedágio à chanchada. Ou começa nela, ou termina, ou transita por ela – nunca sem sequelas. Pode até ser engraçado, mas só para quem vê de fora e a uma certa distância, não para quem vive dentro do filme (e ainda financia as tortas que leva na cara).

A começar pela política. Breve recapitulação do noticiário recente: a defesa de Geddel alegou que os 51 milhões de reais do bunker da propina não eram dele e que ele “só guardava”. Rocha Loures jurou que não sabia dos 500 mil reais naquela mala. Petistas ficaram indignados por Lula, preso, não ter sido chamado para uma sabatina na Folha — esperamos a mesma indignação se Tite não convocar o goleiro Bruno. E só faltou os advogados do condenado incluírem o frigobar entre os seus direitos humanos básicos.

Tudo isso é argumento de chanchada. Os elementos básicos do clichê estão aí: trapalhadas, dinheiro em penca, ricos corruptos, gordinhos (gordo é importante: basta um aparecer para o espectador médio brasileiro rir, o que talvez explique Leandro Hassum). Sob o patrocínio de Dollynho, seu amiguinho preso pela Coca-Cola por fraude fiscal.

Faltam ao noticiário político, é claro, aqueles pilares do humor brasileiro meio burrão (às vezes, mais inteligente que o “humor inteligente” que fui acusado de fazer aqui) —a boazuda, o corno e a bicha escandalosa. Mas deve ser só questão de procurar.

Seja como for, o Brasil bem que poderia viver menos intensamente o estereótipo do Bananão. A Itália tem um Berlusconi, mas também o triplo do nosso PIB per capita – e pizzas decentes. Pode dar-se ao luxo das festas bunga-bunga de vez em quando.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Vamos estrear em dose dupla, com os grandes brasileiros que são Miguel Nicolelis, o Eike Batista da ciência, e Manuela D’Ávila, que outro dia postou estatísticas da “Alemanha Ocidental” (o Muro de Berlim segue firme no seu coração).

Recentemente, os dois disseram coisas parecidas: para o cientista, o “golpe de 2016” é pior que 1964 porque os militares ao menos tinham um projeto de país. A pré-candidata, por sua vez, elogiou o “nacionalismo” do regime militar, comparado ao atual governo.

O pessoal que levou choque no saco e sobreviveu certamente ficou muito contente com os companheiros. Sugiro o lema “tortura, mas não privatiza”.

Fábio Motta/Estadão ConteúdoFoto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDOUm beijinho para vocês da Alemanha Ocidental… (Fábio Motta/Estadão)
 

 

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