MarioSabino

Antes que o mundo acabe

04.03.22

Sim, meu amigo, meu irmão, o mundo pode acabar. Não é uma metáfora política, religiosa ou sentimental. Pode acabar, ter um fim, ser completamente destruído por uma terceira guerra mundial, que será a última, a derradeira, não um suspiro, mas uma explosão nuclear. Estou sendo literalmente apocalíptico. 

Se o pior ocorrer — e o pior ainda está por vir, constatou o presidente francês Emmanuel Macron —, será por obra de um ditador cínico, um carniceiro, um criminoso, um cleptocrata, um chantagista chamado Vladimir Putin, a pior sujeira já produzida pela Rússia desde Stalin. Neste momento em que escrevo, mais de 2 mil civis ucranianos foram mortos e 1 milhão de cidadãos já fugiram do país cuja existência o ditador cínico, o açougueiro, o criminoso, o cleptocrata, o chantagista, quer simplesmente cancelar do mapa, como ele próprio afirmou, ao anunciar a invasão da Ucrânia. 

Da semana passada para cá, os líderes do Ocidente deram-se finalmente conta da enormidade que eles e os seus antecessores cometeram, ao fechar os olhos para as atrocidades perpetradas por Vladimir Putin, ao longo de mais de vinte anos, e não ter mostrado os dentes quando o ditador cínico ainda empilhava soldados e armas na fronteira com a Ucrânia. Depois de deixar o fato ser consumado, compelidos pela resistência heroica do povo ucraniano e o seu honrado presidente, Volodymyr Zelensky, os ocidentais impuseram sanções econômicas severas à Rússia e agora ajudam a Ucrânia com dinheiro e armamentos. Ao mesmo tempo, ainda tentam pateticamente negociar com o açougueiro — que afirmou que poderá usar o seu arsenal nuclear contra quem se meta no seu caminho de destruição.

Esse é o nó górdio. Na verdade, não há negociação possível. Ceder a Vladimir Putin um único metro quadrado de território ucraniano significa romper a barreira entre a barbárie e a civilização. O criminoso quer reviver o império soviético e, se o Ocidente acovardar-se, ele avançará sobre outros países independentes e democráticos que antes padeciam atrás da Cortina de Ferro. Não existe racionalidade nenhuma na sua realidade paralela, apenas nostalgia e cálculo mortífero. “Se cairmos, depois será a vez da Estônia, da Lituânia, da Letônia etc. Até o Muro de Berlim”, resumiu Volodymyr Zelensky, em entrevista coletiva.

O cleptocrata está isolado internacionalmente, mas é rato acuado. E ratos acuados avançam contra quem os ameaça. O prêmio Nobel da Paz Dimitri Muratov, editor-chefe da Novaya Gazeta, praticamente o único jornal independente que sobrou na Rússia, disse à comissão de direitos humanos do Parlamento Europeu que conversou nesta semana com Mikhail Gorbachev, 91 anos recém-completados no hospital. De acordo com Dimitri Muratov, o ex-líder da União Soviética, que assinou o atestado de óbito do comunismo, afirmou que “é preciso fazer o que for possível para deter a ameaça de uma guerra nuclear”. E o jornalista confirmou: “Essa possibilidade se tornou real. Temo que alguém no Kremlin fique tentado, cedo ou tarde, a apertar o botão vermelho”. 

O chanceler Sergey Lavrov, o Von Ribbentrop do chantagista de Moscou, disse que uma Terceira Guerra Mundial será nuclear e, numa inversão desavergonhada, afirmou que o Ocidente é que representava uma ameaça atômica. O temor aqui na Europa é que Vladimir Putin lance mão de uma arma nuclear tática — basicamente, uma bomba pequena, de efeito limitado —, para exterminar um foco de resistência mais duro na Ucrânia. O Ocidente poderia aceitar essa monstruosidade? É claro que não. A escalada seria inevitável.

Escrevi em O Antagonista que os russos têm de derrubar o ditador cínico, o açougueiro, o criminoso, o cleptocrata, o chantagista Vladimir Putin. O jornalista Dimitri Muratov afirmou que, apesar de toda a propaganda falsa do Kremlin, de que o governo da Ucrânia é “nazista”  (neonazista é o chefe dos mercenários do ditador cínico) e representa uma ameaça os cidadãos de língua russa que vivem no país, 70% da população da Rússia desaprova a guerra contra a nação vizinha e irmã. Essa gente precisa enxotar urgentemente Vladimir Putin do poder, repito. Repitamos. Antes que o mundo acabe. O nosso e o deles. O escritor e cineasta franco-americano Jonathan Littel, que atuou em organizações humanitárias, inclusive na Chechênia, o primeiro palco de horrores de Vladimir Putin, foi cristalino no jornal Le Monde: “Há 22 anos, uma guerra já viciosa levou Vladimir Putin ao poder. Desde então, a guerra é uma das suas principais ferramentas. Ele a utilizou continuamente, sem hesitar, no decurso de seu longo reinado. Putin existe graças à guerra e prosperou graças à guerra. Esperemos que seja também uma guerra a causar a sua queda. Enquanto ele permanecer no poder, ninguém estará em segurança. Nenhum de nós”.

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