DiogoMainardina ilha do desespero

Putin preso amanhã

11.03.22

No terceiro dia de guerra, decretei que Vladimir Putin já havia sido derrotado. Apressei-me, claro. Eu sempre me apresso. Mas é o que repito agora. E decreto igualmente o seguinte: a derrota do carniceiro russo é o acontecimento mais importante para a humanidade desde a queda do Muro de Berlim.

Do ponto de vista militar, a derrota de Putin está sendo contada no TikTok. Passo o dia todo no TikTok. Até duas semanas atrás, a rede social era povoada por um monte de adolescentes fazendo omeletes. Agora ela tem ucranianos que urinam na artilharia pesada russa (abandonada pelas tropas de Moscou), tratores que rebocam tanques BTR-82 (com a blindagem esburacada) e restos de helicópteros MI-35M abatidos pelos MANPADS americanos (nos arredores de Mikolaiv). A guerra de Putin inverteu as prioridades. Na nova escala de valores planetária, sua bestialidade vem antes dos omeletes.

Sua maior derrota, porém, foi fora do campo de batalha. Ele conseguiu unir todos aqueles que, antes de 24 de fevereiro, jamais haviam pensado em se unir, provocando uma onda de asco universal que humilhou seus devaneios colonialistas. Putin perdeu tudo: o rublo, a Copa do Mundo, o ouro do Banco Central, as estantes Ikea, o primeiro bailarino do Bolshoi, os cintos da Gucci, a sucursal do New York Times, as villas no lago de Como, o Facebook, os parlamentares de direita e esquerda na Europa e nos Estados Unidos, o centroavante Lukaku. Até as empresas que tentaram resistir ao boicote, como Pepsi e McDonalds, tiveram de fechar suas lojas na Rússia, constrangidas por seus consumidores e acionistas. Isso tudo em apenas duas semanas. Nunca houve algo assim. Nunca mais haverá algo assim. Putin, nesse ponto, é insuperável.

Até o Brasil, que está situado em outro planeta, condenou o criminoso de guerra. Uma pesquisa divulgada alguns dias atrás mostrou que, enquanto Jair Bolsonaro e Lula sacudiam o rabo para Putin, os brasileiros urinavam em seus pés. Segundo a pesquisa, a Europa é vista positivamente por 37% dos brasileiros e os Estados Unidos por 33%. O percentual de admiradores da Rússia é de apenas 6%. Putin deve ser mais impopular no Brasil do que em Kherson. Só os bolsonaristas ainda manifestam afeto pela Rússia: 14% deles continuam dispostos a tatuar um Z no meio da testa.

Duvido que a bestialidade de Putin tenha algum efeito sobre o resultado eleitoral brasileiro em outubro. Mas isso é o que menos importa. A guerra mostrou a pequeneza do nosso quintal. Nessa nova escala de valores planetária, o Brasil está no fim da fila, depois dos omeletes. O primeiro lugar, neste momento, é ocupado pelo bombardeio da maternidade de Mariupol, uma barbárie que precisa ser severamente castigada. Além de perder o rublo e Lukaku, Putin precisa perder também a liberdade. Até a hora da morte.

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