DiogoMainardina ilha do desespero

Gente como a gente

07.04.22

Sergio Moro tem todos os inimigos certos.

Depois de ser atacado, durante sua campanha presidencial, por Lula, Jair Bolsonaro, Gilmar Mendes, TCU, a imprensa e os quadrilheiros, ele conseguiu suscitar também o esperneio furioso de ACM Neto.

Se soubesse transformar isso em votos, Moro seria eleito no primeiro turno.

Nesta semana, Elmar Nascimento resumiu tudo: “Moro não serve para a gente”. O que importa não é a frase em si, e sim seu autor. Elmar Nascimento é muito mais do que Elmar Nascimento. Aquela “gente” à qual ele se refere representa quatro quintos do Congresso Nacional. Há uns quinhentos Elmar Nascimento entrincheirados ali dentro. Uns seiscentos.

Atualmente, o deputado baiano comanda a ala bolsonarista da União Brasil, mancomunada com Arthur Lira. De acordo com ele, sua ala pode contar com 48 parlamentares do partido; a de Moro, 3. Foi com essa “gente” que Moro se meteu. Ele tem todos os inimigos certos — e todos os amigos errados.

O plano dos quinhentos (ou seiscentos) Elmar Nascimento, agora, é degolar Eduardo Leite. E João Doria. E Simone Tebet. O próprio Elmar Nascimento disse a Merval Pereira como pretende fazer isso. Ele quer que a União Brasil proponha a “candidatura raiz” de Luciano Bivar ao Palácio do Planalto. Considerando que Bivar pode ter, no máximo, meio por cento dos votos, sua candidatura raiz extingue de uma vez por todas qualquer possibilidade de Terceira Via na disputa presidencial. É o que serve para Elmar Nascimento e sua gente.

Calculei que, a esta altura, Moro teria 15% dos votos. Com isso, ele conseguiria furar o bloqueio dos partidos. Novamente, recorro a Elmar Nascimento, que disse: “Se Moro fosse um fenômeno eleitoral, se fosse o favorito, está bem, vamos lá. Mas não é”. Como sempre, fui incapaz de entender a mente dos brasileiros. Errei o cálculo. Aliás, errei todos os cálculos. Pelas minhas contas, Lula estaria na cadeia, juntamente com Jair Bolsonaro — e a Terceira Via estaria preparando seu programa de governo. Se eu não estivesse à beira da aposentadoria, deveria procurar outro emprego, claro. Mas não dá mais tempo. A única coisa que posso fazer agora é reconhecer que o campo inimigo é mais numeroso e unido do que o campo amigo. Falta gente do lado de cá, e sobra “gente” do lado de lá.

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