MarioSabino

Honra

15.04.22

Vou usar o meu espaço para falar de honra. Mata-se em defesa da honra, processa-se em defesa da honra, faz-se o diabo em defesa do que seria a honra. Nada disso é honra. As pessoas honradas fazem o moralmente certo porque não saberiam fazer de outra maneira, não se incomodam muito com os caluniadores e difamadores— e, quando fazem o errado, reconhecem cedo ou tarde que agiram mal, para a sua própria desonra. Honra não é sinônimo de santidade, mas é um autocorretor poderoso.

No jornalismo, ter honra é, principalmente, não se vender. Não se vender ao poder político, não se vender ao poder econômico, não se vender a interesses escusos, sejam eles quais forem. É também não se render à intimidação policial ou judicial. Jornalistas honrados podem errar nas suas avaliações sobre a realidade, serem injustos e até mesmo cometer pecados conscientemente, fustigando desafetos de maneira gratuita (em quase 40 anos de carreira, errei muito e pequei muito, Senhor). Mas eles não se vendem.

O assunto é honra, logo o assunto é Rodrigo Rangel, diretor de redação desta Crusoé, revista que está prestes a fazer quatro anos bem vividos. Rodrigo Rangel é um jornalista honrado como poucos que conheci. Rodrigo Rangel é um jornalista honrado porque é um homem honrado. Ele é o melhor presente que um pai e uma mãe poderiam ter — e espero que o Sebastião e a Aldira, lá no Espírito Santo, leiam este artigo e sintam ainda mais orgulho do filho que conceberam e educaram. Rodrigo Rangel é também o melhor pai que um filho poderia ter — e espero que a Júlia e o João Pedro, lá em Brasília, leiam este artigo e sintam-se gratos por tê-lo na certidão de nascimento (ele é um pouco ranheta, eu sei, mas pai sem ranhetice não é pai, acreditem). Rodrigo Rangel é ainda o melhor companheiro que uma mulher poderia ter, viu, Danielle? Sei que você sabe disso.

Rodrigo Rangel é o melhor colega de profissão que um jornalista poderia ter. Ele é leal e corajoso — e não é que tais atributos sejam abundantes nas redações, infelizmente. É também um dos melhores jornalistas do Brasil, em fontes e apuração. Não conheço ninguém mais rigoroso do que ele na confecção de uma reportagem. Rodrigo Rangel é um dos melhores jornalistas do Brasil porque é também um dos piores repórteres investigativos que um corrupto poderia ter na cola. Não larga uma história enquanto não a tem inteira e perfeitamente detalhada. Há os repórteres que soltam fogos de artifício e há os que são atiradores de elite, os snipers. Rodrigo Rangel é um sniper.

Está cada vez mais difícil fazer jornalismo no Brasil. Aquele que não é armazém de secos e molhados. Aquele que não bate somente em cachorro morto, com o perdão da expressão zoologicamente incorreta. Aquele que não usa a verdade para contar mentiras. Está cada vez mais difícil fazer jornalismo no Brasil, porque está cada vez mais difícil encontrar jornalistas como Rodrigo Rangel. Porque está cada vez mais difícil encontrar homens honrados como ele na nossa profissão. Eu tenho o privilégio de conhecer um desses raros jornalistas brasileiros.

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