DiogoMainardina ilha do desespero

O sentido da vida

22.04.22

Um dos principais eventos do carnaval veneziano é o voo da Colombina, no qual a vencedora de um concurso de beleza pula do campanário de São Marcos. Prometi fazer a mesma coisa em caso de segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro: pular do campanário de São Marcos. Mas sem concurso de beleza, sem vestido do século 18 e, sobretudo, sem corda.

O único fator que pode me impedir de cumprir a promessa é o seguinte: sempre que bato os olhos na catedral de São Marcos, passa completamente a vontade de pular. Aliás, não só na catedral: em tudo aquilo que vejo ao meu redor, sem sair do lugar. É moleza esborrachar-se numa lajota. Duro mesmo é renunciar a São Marcos.

A apenas quarenta passos do campanário, numa das colunas externas do palácio Ducal, sustentando um arco central, encontra-se até uma resposta filosófica para a tragédia representada por Lula e Jair Bolsonaro. É o Capitel da Vida, também conhecido como Capitel do Amor, que narra, em oito altos-relevos, esculpidos em 360 graus, a história de um casal, que reproduzo aqui, com meu telefone celular.

Um jovem, com a mão no peito, declara seu amor por uma jovem, que está na sacada de sua casa:

Os dois fazem juras de amor:

Cena nupcial com troca de presentes:

O casal se agarra:

Sexo:

Nasce um menino:

O filho cresce:

O filho morre:

Entendeu a mensagem? Os planos fracassam. As expectativas se frustram. As tragédias ocorrem. A vida é injusta. Tudo acaba mal. O único consolo para aquele casal é que, há quase setecentos anos, ele vive em São Marcos. Eu também vivo. Vou continuar vivendo.

 

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