DiogoMainardina ilha do desespero

Anitta com ricotta

05.05.22

Anitta disse no Twitter:

“Tive um pesadelo do nada aqui e acordei. Queria pedir algo aos meus seguidores que eu estou fazendo agorinha. A guerra ainda não acabou. Só a mídia que não tá rendendo mais tantos clics então não estão mais falando tannnnto sobre isso como antes. Mas devemos continuar rezando. O poder da oração e de enviar pensamentos e pedidos positivos ao universo é maior do que muitos imaginam.”

É claro que ela não se dirigia a mim, porque não sou seu seguidor. Além disso, sou uma besta blasfema e nunca rezei: meu único pedido positivo é que americanos e ingleses continuem a enviar bazucas, tanques, helicópteros e outros armamentos para os ucranianos – o poder de um míssil Brimstone é maior do que muitos imaginam.

Mas Anitta tem razão sobre os clics. Os brasileiros, notórios por sua incapacidade galinácea de se concentrar num assunto por mais de seis minutos, já viraram a página sobre a guerra, e a imprensa brasileira, que é feita por galináceos, parou de cacarejar a respeito dela.

Eu, por outro lado, moro praticamente na periferia de Kiev, e talvez por isso fale tannnnto sobre a guerra. Ou sóóóó sobre a guerra. Ao contrário de Anitta, que teve um pesadelo e acordou pensando em Bucha, eu virei um pesadelo para meus familiares e amigos, porque falo o tempo inteiro sobre Bucha. Rendo poucos clics na hora do jantar, misturando ricotta com estupros e tiros na nuca, mas esse é o cardápio da casa Mainardi.

Não creio que Anitta seja igual a mim. Um dia depois de acusar a imprensa brasileira de ter perdido o interesse pela guerra, de fato, ela perdeu o interesse pela guerra e nunca mais voltou ao assunto. O foco de seus clics passou a ser outro:

“Ontem eu passei horassss com o Leonardo di Caprio falando sobre a importância dos jovens tirarem seu título de eleitor.”

O pesadelo de passar horassss ouvindo propaganda do TSE deve ter sido tão assustador que Leonardo di Caprio, depois de acordar, publicou uma mensagem convocando os jovens brasileiros a votar. Uma má ideia, por sinal. A melhor coisa a fazer em outubro é fugir das urnas.

Estou mudando de assunto, porém. O que quero dizer aqui, num dialeto menos colorido do que o de Anitta, e com menos consoantes, é que a guerra de Vladimir Putin, com clics ou sem clics, vai determinar o futuro dos brasileiros, muito mais do que a própria disputa presidencial, ainda que as galinhas ignorem o que ocorre fora do galinheiro. Passe a ricotta, por favor. Cocoricó.

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