Adriano Machado/CrusoéJoão Doria: sua pretensão de concorrer ao Planalto não deve sobreviver a esta semana

Crônica de uma morte anunciada

Na próxima semana, o PSDB pretende dizer a João Doria que ele não pode forçar o partido a lançar uma candidatura à presidência. Em seguida, será anunciado apoio à emedebista Simone Tebet
20.05.22

O ex-governador de São Paulo João Doria vive a crônica de uma morte anunciada. Com a perseverança que lhe é peculiar, ele luta para ter o direito de disputar a presidência neste ano, pelo PSDB. Doria tem bons argumentos para dizer que a prerrogativa de ser candidato é sua, uma vez que venceu as prévias partidárias contra o ex-governador gaúcho Eduardo Leite. Mas ele não pode forçar a legenda a ter candidatura própria. Hoje, a maioria dos tucanos que almeja conquistar algum cargo em outubro prefere que o PSDB esqueça o Palácio do Planalto, se isso for sinônimo de subir em palanques com Doria e aparecer ao seu lado em programas de televisão. Eles dizem que o político paulista, com sua alta rejeição, impede a decolagem das chapas nos estados. E que não faz sentido prejudicar todo o partido em nome de um projeto pessoal. A história caminha para um desfecho na terça, 24. Nesse dia, ao lado do MDB e do Cidadania, com o qual formou uma federação, o PSDB deve anunciar que dará apoio à emedebista Simone Tebet, para que ela seja a candidata de consenso da Terceira Via (se é que ainda faz sentido falar em Terceira Via). Se Doria estiver pacificado, ótimo. Se quiser levar a discussão para a Justiça, como já se sugeriu que poderia fazer, paciência. Em qualquer caso, a morte de sua candidatura já foi decretada. 

O cerco sobre Doria vem se fechando há quinze dias. Os três partidos envolvidos na negociação sobre a Terceira Via decidiram contratar um instituto de pesquisas para medir a viabilidade eleitoral dele e de Simone Tebet, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. A empresa escolhida foi o Instituto Guimarães, de São Paulo. Ele é dirigido pelo estatístico Paulo Guimarães, que tem larga experiência em eleições e foi especialmente ligado às campanhas do extinto DEM (que se fundiu ao PSL para criar a União Brasil).

A decisão da cúpula partidária foi mal recebida pelo candidato tucano. Sua insatisfação se manifestou no fim de semana passado, quando ele enviou uma carta à direção do PSDB, dizendo-se vítima de uma tentativa de golpe interno. A pesquisa seria mera formalidade para legitimar uma decisão contrária a ele, que já estaria tomada, ecoavam assessores do ex-governador paulista. De fato, a pesquisa de Guimarães mostrou que Doria é muito rejeitado e Tebet é mais promissora, mesmo aparecendo com menos intenções de voto nas pesquisas registradas no TSE para divulgação geral. Zero surpresa. 

Em resposta à carta, a executiva nacional tucana se reuniu por três horas na terça, 17. O encontro serviu para consolidar o duro recado que deve ser dado a Doria: a sua candidatura é um empecilho para todas as demais campanhas e por isso não conta com respaldo no partido. Ao mesmo tempo, decidiu-se convidar o ex-governador para um encontro presencial – uma deferência. A intenção era realizar essa segunda reunião já no dia 18, data marcada há cerca de dois meses para o anúncio do nome de consenso da Terceira Via. Mas Doria se esquivou, e o encontro com a cúpula do PSDB foi agendado para o dia 23. 

O sonho dos tucanos é que Doria use essa oportunidade para encerrar o impasse com um grande gesto de desprendimento. Seria uma saída honrosa. A maioria, no entanto, duvida de que ele vá abrir mão de seus planos. Se for esse o caso, usarão contra Doria diversas declarações em que ele se disse pronto a trabalhar em favor de uma Terceira Via competitiva, ou seja, com um candidato único. Em seguida, dirão que a realização de prévias não obriga o partido a lançar candidatura presidencial, se achar que as circunstâncias para isso são desfavoráveis. Esse seria o caso em 2022. Em vez do voo solo, a alternativa preferida é apoiar Simone Tebet, numa aliança com o MDB. 

Se Doria concluir que o apoio do PSDB a Tebet é, antes de mais nada, uma alavanca para forçar a sua desistência, ele não estará completamente errado. “Há mais rejeição ao nome dele no partido do que propriamente entusiasmo pela candidatura de Tebet”, diz um integrante da executiva nacional tucana.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO