Foto: Bruno Rocha/Fotoarena/FolhapressO escritório da Eletrobras no Rio de Janeiro: risco de perder com as ações é muito baixo

Seu FGTS na Eletrobras: boa decisão

Existe um grande potencial de alta das ações de uma Eletrobras privada. E um risco muito baixo de perder, mesmo se a empresa for “desprivatizada"
09.06.22

Terminou nesta quarta-feira o prazo para a reserva de compra de ações da Eletrobras. De acordo com o divulgado pela imprensa, o processo de capitalização da empresa de eletricidade deve alcançar 34 bilhões de reais, dos quais 9 bilhões são provenientes do FGTS. O trabalhador pôde usar até metade do total da sua conta no fundo para investir na Eletrobras, cujas ações começarão a ser vendidas efetivamente na segunda-feira, na B3, ao preço estimado de 42 reais cada uma.

A privatização da Eletrobras não se dará pela venda das ações do governo para investidores. Serão emitidas novas ações e o dinheiro amealhado será utilizado pela empresa para reduzir dívidas e aumentar investimentos. Como o governo não comprará essas novas ações, ele passará a deter 45% do capital e, assim, perderá o controle da Eletrobras. Ou seja, ela será privatizada.

O grande risco de entrar nessa operação é que o candidato que lidera as pesquisas de intenções de voto diz que, se vencer a eleição, vai reverter a privatização. Na gestão atual, a empresa já fez uma série de ajustes na operação e passou a operar com lucro. O quadro de funcionários, por exemplo, caiu de 23 mil para 12 mil. Mas considero que ainda existe muita coisa a ser feita. Compare-se a Eletrobras com a Engie, privatizada em 1998. Enquanto a Eletrobras gera 25% da eletricidade do país, com um quadro de 12 mil funcionários, a Engie gera 6%, com apenas 1.250. Fazendo uma cálculo simples, a Eletrobras poderia cortar ainda 75% dos funcionários atuais para atingir o padrão privado, sem perder a eficiência, pelo contrário.

Empresas privadas são, em geral, mais eficientes do que estatais, por qualquer métrica que se utilize. Utilizemos, então, outra. Desde a privatização da Engie, tivemos um IPCA de 337%, média de 6.4% ao ano. Nesse período, as ações da Eletrobras subiram 775% (10% ao ano) e as da Engie, 9.759% (22% ao ano). Por quê? Um dos motivos principais é que, como a Eletrobras não conseguiu investir o suficiente para acompanhar o crescimento da demanda nacional, a sua participação na geração total de eletricidade caiu de 40% para os atuais 25%, nos últimos 24 anos, enquanto a da Engie, que nasceu da Gerasul, saiu de 2% para os atuais 6%.

Quem investiu dinheiro do FGTS na privatização de empresas estatais nunca se arrependeu. As ações da Petrobras renderam 1.300%, desde agosto de 2000 (13% ao ano), e as da Vale, 4.170%, desde março de 2002 (20% ao ano). Quando se compara esses rendimentos com os 3% ao ano do FGTS, que hoje não cobrem nem a metade da inflação, não resta dúvida da boa decisão do trabalhador de investir parte do seu FGTS na compra de ações.

E se Lula “cancelar” a privatização, caso seja eleito presidente da República?

Não é certo que ele irá fazer isso, apesar da retórica radical, até porque Lula não cancelou nenhuma enquanto era presidente. Mas, se ele decidir fazê-lo, terá que comprar ações no mercado, para o governo voltar a ter 51% das ações votantes. E, conhecendo o político, Lula não irá prejudicar os milhões de cidadãos que colocaram dinheiro do FGTS nessa operação. Tenho muita convicção de que, se ele tomar essa decisão, não deixará que a aquisição das ações implique perdas paras os trabalhadores que investiram.

Em resumo, existe um grande potencial de alta das ações de uma Eletrobras privada. E um risco muito baixo de perder, mesmo num cenário onde a empresa seja “desprivatizada“.

Pedro Cerize é investidor, fundador e gestor do fundo Skopos e conselheiro de grandes empresários.

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