DiogoMainardina ilha do desespero

Abstenha-se!

08.07.22

Entre um kebab e outro — eu estava em Istambul, de férias —, arrumei mais um candidato a presidente da República: Pedro Passos, da Natura.

A entrevista que ele deu ao Estadão foi decisiva para isso. Ele disse:

“Podemos adjetivar o que o governo Bolsonaro tenta fazer: destruir as instituições, a democracia, os regulamentos mínimos da lei eleitoral, uma atitude muito tosca. Então, não precisa falar de programa de governo Bolsonaro porque a gente vive o programa Bolsonaro. A síntese é um show de horrores. Por outro lado, tenho acompanhado, e participei de um jantar com Lula, e tentando extrair das próprias diretrizes do programa do PT, fico com uma sensação de que a gente está voltando ao passado, com soluções antigas para problemas novos.”

Com Pedro Passos no Palácio do Planalto, o Brasil daria um pulo de duas décadas. Um candidato como ele me faria renunciar ao kebab e votar. Sem ele, minha escolha é escapar da urna. Me recuso a votar. Mais do que isso: vou fazer campanha pelo não-voto. A meta é superar os 25% de eleitores que, em 2018, abstiveram-se ou anularam seus votos. O caminho que conduz à praia ou ao boteco é a verdadeira e única Terceira Via.

O Instituto Votorantim, em estudo publicado nesta semana, chamou essa parcela de desertores cívicos de “alienados eleitorais”. De acordo com uma das responsáveis pelo estudo, “é preciso um esforço de todos para compreender esse cenário e revertê-lo, já que, quanto menos engajamento, menor será a representatividade dos candidatos eleitos em relação à sociedade”. Na verdade, o asco da sociedade pelos candidatos é a forma mais completa de engajamento. Alienado é quem vota nessa gente, não quem se recusa a votar.

Ainda mais forte do que o asco pelos candidatos é o asco pelos partidos. Uma pesquisa divulgada nesta semana, A Cara da Democracia, calculou que só 20% dos brasileiros simpatizam com algum partido. O PT de Lula arrebanhou 13% do total e o PL valdemar-bolsonarista ficou em segundo lugar, com 2%. Ao mesmo tempo, 21% dos entrevistados rejeitam o PT e outros 4% o PL. O número que importa, porém, é outro: 79% dos eleitores disseram desprezar todos os partidos políticos. E o rombo tende a aumentar.

Pedro Passos disse na entrevista:

“Essa coisa do empresário não se manifestar incomoda muito. Numa democracia, o empresário é um agente da sociedade. Ele tem que se manifestar. Tenho impressão de que o empresário ficar muito por debaixo do pano não privilegia a classe empresarial. Acaba tendo uma conotação de lobista, de tirar vantagem seja qual for o governo. Nas relações com o governo, num Estado grande como a gente tem, influente, afeta muito o negócio. Não podemos ser ingênuos. Mas o empresário tem que colocar mais a cara. Não pode ficar embaixo do radar.”

A democracia brasileira é um show de horrores, que representa apenas o que a sociedade tem de pior, como os empresários lobistas denunciados por Pedro Passos. Em vez de dar um pulo de duas décadas, o Brasil prepara-se para retroceder mais duas. A fuga das urnas é inútil, claro, mas ao menos evita que a gente se emporcalhe pessoalmente com um voto podre. Abstenha-se. É a melhor escolha.

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