DiogoMainardina ilha do desespero

Bolsonaro é produto
da democracia direta

28.09.18

Nunca houve uma campanha igual à de Jair Bolsonaro. Sem partido, sem dinheiro, sem marqueteiro, sem tempo de TV, sem imprensa e sem apoio do coronelato ele conseguiu botar um pé no Palácio do Planalto. Por vagabundagem, os jornais estrangeiros o comparam a outros líderes populistas, mas o caso de Jair Bolsonaro é único e tem de ser estudado por suas peculiaridades.

Apesar de seu discurso passadista, ele é um exemplo de contemporaneidade. Apesar de defender a ditadura, ele é um produto da democracia direta. Apesar de estar cercado de estrategistas militares, ele só sabe usar táticas de guerrilha. Sua campanha reflete todos esses paradoxos: o planejamento é inexistente, os civis conspiram contra os generais quatro estrelas, as tropas atabalhoadas marcham sem rumo e o programa de governo é feito e desfeito nas redes sociais, de baixo para cima.

A maior prova disso é seu plano econômico. A imprensa reproduz as idiotices que ele disse no passado para demonstrar que, no governo, aquele Jair Bolsonaro estatizante, que só falava em nióbio, vai acabar esmagando o candidato pauloguedizado. Mas o liberalismo nunca rendeu votos no Brasil. Ao contrário: ele tira votos. Jair Bolsonaro não deu uma guinada liberal para enganar os eleitores, e sim porque ele entendeu no Facebook que, para se tornar um elemento de ruptura, era preciso atacar nossa mentalidade corporativa e socializante.

O contraste com a campanha do PT é evidente. Jair Bolsonaro improvisa, Fernando Haddad segue as ordens do comandante máximo da ORCRIM, que está na cadeia. Jair Bolsonaro é atacado pela sociedade organizada, Fernando Haddad é defendido por ela. O Antagonista é alvo de ambos. No caso do PT, o bombardeio robotizado é decidido no quartel-general. No caso dos bolsonaristas, qualquer mentecapto pode disparar seus torpedos incongruentes e analfabetos no WhatsApp.

O PT é favorito para ganhar no segundo turno porque o fim da Lava Jato é uma promessa atraente demais para os caciques partidários e para uma parte do empresariado. Mas Jair Bolsonaro foi capaz de resistir a tudo até agora, inclusive a uma tentativa de assassinato. Por isso mesmo, os paradoxos que o trouxeram até aqui podem levá-lo à vitória final. Nunca houve uma campanha igual à dele. E nunca mais haverá.

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