RuyGoiaba

Quando foi que o Brasil descarrilou?

28.09.18

“Automóveis, edifícios desiguais e desbotados, esqueletos de anúncios luminosos flutuando na neblina, o meio-dia cinzento.” Esse é Mario Vargas Llosa, em “Conversa no Catedral”, descrevendo uma avenida de Lima, que poderia ser em São Paulo ou qualquer outra cidade do Terceiro Mundo. Na sequência, o protagonista do romance, Santiago Zavala, pergunta em que momento o Peru tinha se ferrado –Vargas Llosa usa um palavrão que vocês, leitores desta revista de família, certamente reprovariam.

E o Brasil, em que momento se ferrou? Carta de Caminha, chegada da família real? O golpe militar que mandou dom Pedro 2º embora, aquele outro que aposentou os bigodões e cavanhaques da República Velha ou aquele terceiro que pôs João Goulart para correr e durou 21 anos? Terá sido a Nova República, aquele rodízio de ladrões? Ou a Mulher Sapiens foi o ápice?

Como o Bananão sempre foi torto e a escolha de qualquer momento é, no fundo, arbitrária, eu digo: o Brasil descarrilou quando Diego Souza, no Vasco, perdeu aquele gol cara a cara com Cássio e permitiu que o Corinthians ganhasse a Libertadores (e o Mundial depois). Reparem: nunca mais o país voltou aos eixos.

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Cabo Daciolo desceu do monte para brilhar muito no debate do SBT. Falou em “400 milhões” de brasileiros na pobreza, disse que os banqueiros precisam aceitar o senhor Jesus e profetizou que vencerá a eleição no primeiro turno, com 51% dos votos –hoje tem 1%. Se o Deus das causas impossíveis faz até o 4G pegar no monte, por que não derramaria votos sobre o cabo nesta semana?

Nas considerações finais, Daciolo ainda mandou um “eu te amo” para a mãe e a mulher, que chamou de “varoa”. É, sem dúvida, o maior personagem desta eleição: um mix de Beato Salu com vendedor de açaí no Arpoador. Não é o profeta de que precisamos, mas é o que merecemos. Glória a Deush!

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O general Mourão criticou o 13º, que chamou de “jabuticaba brasileira”. Ainda que a discussão seja válida, levantou uma bola redondinha para os rivais de Jair Bolsonaro cortarem: tanto que o presidenciável obrigou seu vice a um “silêncio obsequioso” e disse, no Twitter, que ele “confessa desconhecer a Constituição”.

Mourão não é mais Sargento Pincel. Foi promovido a General Magdo.

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A legenda é licença poética, mas pode se tornar verdade. Ajude o Goiabinha!

A GOIABICE DA SEMANA

Esta não é apenas “da semana”, mas das muitas últimas semanas: ninguém aguenta mais esse “que Brasil você quer para o futuro?” que a Globo insiste em mostrar nos seus telejornais. Só gente chata e desinteressante, falando de lugares perfeitamente ignoráveis –você pode viver uma vida longa e feliz sem conhecê-los– e dizendo platitudes do tipo “eu quero um Brasil sem corrupção”. Que coisa rara: todo mundo adora corrupção, manda mais que tá pouco.

Como já disse o jornalista Alfredo Ribeiro, o Tutty Vasques, é uma espécie de horário eleitoral de quem não concorre a cargo nenhum.

A propósito, o Brasil que eu quero para o futuro é a Bélgica. Se você tiver aí uma passagem para Bruxelas sobrando, façamos negócio.

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