Biden a reboque
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, iniciou seu mandato em janeiro de 2021 com duas promessas voltadas ao Oriente Médio. A primeira era retomar o acordo nuclear com o Irã, remendando a decisão de seu antecessor Donald Trump, que rasgou o pacto e impôs sanções ao país. A segunda era isolar o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, pelo assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, no consulado saudita em Istambul. Na viagem de Biden para Israel e Arábia Saudita esta semana, essas duas posições afundaram nas areias do deserto.
Biden não teve alternativa a não ser seguir a reboque os países do Oriente Médio. Ao se deparar com o anseio americano em reduzir a presença militar no mundo e com o aumento da ameaça nuclear iraniana, israelenses e árabes sunitas fizeram uma aproximação estratégica. Para desgosto do democrata Biden e seus colegas de partido, esse movimento histórico, que mudou o equilíbrio de forças da região, foi sacramentado pelo republicano Trump, com os Acordos de Abraão, em 2020.
Nada hoje parece capaz de reverter esse acercamento de israelenses e árabes sunitas. E isso beneficia os Estados Unidos. Primeiro, porque alivia um pouco a responsabilidade americana de reagir a qualquer imprevisto em uma terra propensa ao conflito. Segundo, porque fortalece as barreiras de contenção contra o Irã. Desde que Biden chegou à Casa Branca, o comportamento dos iranianos só piorou. Além de avançar com o programa nuclear, o Irã grudou ainda mais na Rússia, que hoje trava uma guerra contra a Ucrânia e seus aliados ocidentais.
O comportamento iraniano é tão acintoso que o presidente do país, Ebrahim Raisi, receberá o presidente russo Vladimir Putin em Teerã, no próximo dia 19. Ainda que o propósito do encontro seja discutir a guerra na Síria, com a participação do presidente turco Recep Erdogan, a provocação é clara. Nesse cenário, a chance de Biden querer retomar as negociações com o Irã diminuiu bastante. “Um acordo nuclear com o Irã será muito difícil de acontecer neste momento, porque isso vai além de qualquer ideologia. É uma questão de geopolítica internacional. O Irã agora está totalmente ligado à Rússia”, diz Karina Calandrin, especialista em Relações Internacionais e pesquisadora da USP e do Instituto Brasil-Israel.
Biden voará de Israel diretamente para a Arábia Saudita nesta sexta, 15, mas não irá à capital Riad. Passará por Jeddah. Os americanos não querem que a viagem seja considerada uma visita de Estado. A Casa Branca também não confirmou se o presidente terá um encontro com Mohammed bin Salman, mas é provável que ocorra. Biden ainda precisa melhorar a relação com o saudita por outra razão: ele quer receber mais petróleo, para, desse modo, conter a escalada no preço dos combustíveis. Com tanta coisa em jogo, Biden foi obrigado a se adaptar aos novos ventos que sopram no Oriente Médio.
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