As elites parasitas do Brasil
Há dois anos, os economistas Guido Cozzi e Tomas Casas, professores da Universidade St. Gallen, na Suíça, divulgaram um trabalho inovador sobre o papel das elites nas diferentes sociedades. Eles lançaram o Índice de Qualidade das Elites, IQE, que usa uma metodologia própria e múltiplas fontes de informação para comparar o andar de cima de vários países.
Nos relatórios divulgados anualmente, coordenados pela dupla de economistas, as nações em que as elites produzem riqueza e geram empregos, beneficiando a sociedade como um todo, sobem de posição. Elas dão mais para a sociedade do que tiram dela. No topo do último ranking, divulgado em abril, estão Singapura, Suíça, Austrália, Israel e Holanda. Na rabeira, estão as nações em que as elites são “rentistas”, porque pouco produzem riqueza, sem proporcionar muita coisa em troca. Os cinco últimos do ranking são Iêmen, Síria, Iraque, Líbia e o Sudão.
De 151 países pesquisados, o Brasil está em 81º. Está, portanto, na segunda metade, atrás de Uganda, Quênia, Benin e Paraguai. Cozzi, que nasceu na Itália e já trabalhou no Reino Unido e nos Estados Unidos, conversou com Crusoé sobre as elites brasileiras e comentou a relação delas com o Manifesto em Defesa da Democracia e da Justiça, lançado na Faculdade de Direito da USP, na semana passada.
Qual é o papel das elites em um país?
Mesmo nas sociedades mais democráticas, as pessoas comuns são muito numerosas para se organizar de maneira eficiente e governar diretamente os países. Então, surgem as elites. Elas dominam as indústrias, o setor financeiro, a mídia, os militares e os partidos políticos. São, portanto, poderosas. Nenhuma revolução jamais eliminou o papel das elites. Na maioria das vezes, o que as revoluções fizeram foi gerar novas elites.
Há alguns dias, grupos econômicos, como a Federação Brasileira de Bancos, Febraban, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, divulgaram cartas em defesa da democracia. Muitos políticos e membros da nossa elite cultural assinaram o documento. Por que as elites brasileiras estão apoiando a democracia?
O Brasil já é uma democracia, então se pode ficar tentado a dizer que essa carta é apenas propaganda. No entanto, é preciso notar que os representantes políticos do Brasil cometeram vários erros – principalmente durante a pandemia – sem pagar por eles. Assim, uma reação da oposição é inevitável e benéfica para o país.
Porque é mais fácil organizar algumas pessoas do que muitas. Além disso, geralmente, as elites são mais instruídas e mais ricas. Elites se organizam porque, caso contrário, não ganharão poder. Mesmo os movimentos populistas que falam contra as elites dominantes geralmente procuram apenas a chance de substituir a elite antiga por uma nova.
O Brasil está em 81º lugar no último Índice de Qualidade das Elites, IQE. Por que o país está tão mal posicionado e o Chile está muito melhor, em 41º?
O Chile fez um trabalho melhor ao garantir a segurança alimentar de seu povo. Além disso, a campanha de vacinação chilena e a reação à Covid-19 foram mais efetivas que a brasileira. Finalmente, os pequenos delitos e o crime organizado são muito mais problemáticos no Brasil.
O IQE fala muito sobre elites rentistas. Esse adjetivo, em português, se refere a pessoas que vivem exclusivamente de rendimentos, de rendas. Por que esses grupos prejudicam a sociedade?
As elites rentistas são aquelas que extraem recursos para si mesmas sem produzir o suficiente em novos valores para o país. Um exemplo típico disso é um político corrupto. Outro exemplo é alguém que favorece apenas os amigos ricos e busca reduzir os gastos com educação e saúde para os mais pobres e para a classe média. Outra elite terrível é a máfia, cujos chefões prosperam extorquindo os empresários mais produtivos da economia e bloqueando o crescimento econômico.
Há boas e más elites em todo o espectro político. Partidos de direita ou de esquerda podem produzir ou extrair valor de seu país. No século XIX, na Inglaterra, as elites esclarecidas criaram a democracia e um sistema eleitoral livre, porque acreditavam que dar mais poder à população levaria a mais redistribuição, melhores padrões de vida para estratos maiores da população e mais produtividade em geral. Na Europa e na Ásia, os países cresceram muito após fazerem reformas agrárias. Obviamente, elas sofreram pressão para fazer isso.
Muitos políticos em todo o mundo estão prometendo taxar os ricos ou os super-ricos. É essa a melhor maneira de fazer as elites econômicas trabalharem para a população?
A melhor forma de coletar impostos nunca é muito extrema, porque isso reduziria os incentivos para investir e produzir. Além disso, devemos verificar se essas pessoas enriqueceram porque apoiaram e beneficiaram seu país ou se estão abusando de uma posição dominante herdada de seus ancestrais e bloqueando o caminho para empreendedores ou inovadores mais jovens.
O último relatório do IQE alerta para o perigo de políticas monetárias expansionistas. As elites deveriam fazer algo contra os programas sociais governamentais para ajudar os pobres?
O economista britânico John Maynard Keynes nos ensinou que a política monetária expansionista é útil durante as recessões, mas perigosa durante os booms, os bons momentos da economia. A mesma coisa vale para a política fiscal. Infelizmente, os políticos sempre se lembram da primeira parte, mas se esquecem da segunda, porque não querem reduzir a oferta de dinheiro e aumentar os impostos. O resultado são pressões inflacionárias muito intensas e uma perda no valor das poupanças dos idosos. Ajudar os pobres é essencial, mas isso não vem de graça. Se alguém quer contribuir com os que sofrem, então precisa tributar os que estão bem. Os políticos também se esquecem disso e financiam os gastos públicos acumulando dívidas e tributando as gerações futuras.
O que as elites brasileiras deveriam fazer para ajudar a sociedade como um todo?
As taxas de criminalidade no Brasil estão entre as piores do mundo. Essas taxas poderiam melhorar rapidamente por meio de mais prevenção e mais repressão. O crime organizado prospera às custas da sociedade e nenhum governo foi capaz de erradicá-lo totalmente, mas é possível limitá-lo. O investimento em infraestrutura também é importante. Por último, mas não menos importante, o governo deve promover a mobilidade social ascendente, algo que está faltando, e reduzir o desemprego, especialmente entre os jovens. Se as elites não se importam com os jovens, estão arruinando o futuro de seu país.
Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.
https://noticias.up.pt/fep-lidera-retrato-inedito-sobre-a-qualidade-das-elites-portuguesas/ É interessante a diferença entre as elites de dois países. Qual a dúvida que algum jovem possa ter em relação ao melhor lugar para construir seu futuro?
Elite no Brasil é o rentista dono de boa parte de nossa divida pública de 8 tri, que gera dividendos acima de 1 tri por ano , sem correr nenhum risco, como seria investir no setor produtivo (selic alta deixa esta gente feliz com o governo) e os membros do aparelho estatal que tem pivilégios salariais e de pensões integrais muito superiores a maioria da população. Empresários são do grupo de risco , qualquer mudança nos mercados levam os mesmos a falência. Vide grupo BARDELLA, etc
Neste ponto a esquerda tem razão, as elites comandam o Brasil, para atender seus próprios interesses. Esquecem apenas de falar que eles e a maioria dos membros dos três poderes se aliaram às elites para tirarem sua casquinha. Enquanto isto, o pobre miserável fica feliz em votar nestes que o exploram em troca de algumas parcas migalhas, suficientes apenas para manter o ignorante fiel e votando.
Inclui aí os evangélicos centristas e picaretas ( Edir Macedo, Samuel Ferreira, Waldemiro Santiago, RR Soares….
Excelente texto: esclarecedor, sem manipulação, sem bla bla bla, nem mi mi mi. Direto ao ponto.
Concordo.
Edir Macedo, Samuel Ferreira, Waldemiro Santiago, Silas malafaia, RR Soares , retiram dinheiro do mercado e não produzem riqueza para o Brasil!
Nossas elites dominantes são: os políticos e o judiciário. As mesmas olham somente para o próprio umbigo e resto é resto, que sobrevivem com as migalhas
Quando ele fala em ELITE, entenda-se. MILÍCIAS DO COLARINHO BRANCO, GANGS, FACÇOES e outras modalidades criminosamente
Elvio ... incluso aí o PCC? ou também foi canonizado pelas "côrtes"? se liga manim ... se liga.
Não conhecia esse IQE. Muito interessante isso.
Com essa elite jurídica elitista e garantista , o País está fadado ao ingresso no abismo da civilidade e cidadania .
Já estamos no abismo…em época de campanha política, o discurso continua o mesmo, nada muda, mudanças na educação com investimentos cada vez menores, saúde não se constroem hospitais públicos, justiça não há tanto é que um corrupto de alta patente e grife voltará ao poder… isso aqui não muda e não mudará nunca, o único interesse político é dinheiro e poder.
O Judiciário parece culpado de tudo, será? O legislativo faz e aprova leis e sacramenta as escolhas do governante de plantão ( "tenho 20% do STF... ") Os políticos, com rabo preso principalmente, fazem todo malabarismo para escolher juízes " amigáveis. Há necessidade de mudança nessa sistemática. Noss liderança empresárial atual é, na maioria muito ruim
É o momento de renovar o congresso para que sejam banidos senadores de rabo preso que endossam a ditadura do STF em benefício próprio e tb elejam deputados honestos. O povo precisa votar direito; não deve se preocupar só com o presidente.
Sem novidades !! É só olharem as txs de juros bancarias zzzzz
Sem sombra de dúvidas, a pior "ZELITE" do Brasil é a dos políticos, tendo à frente o Luladrão e seus asseclas, e mais outras centenas desta Laia sanguessuga da sociedade, que se apropriam do nosso dinheiro, ficam milionários, nos deixam sem saúde, educação e etc. Em segundo lugar vem o Judiciário, outra casta de privilegiados com salários nababescos e mordomias assistenciais diversas que deixam outros no chulé, inclusive reajustam seus próprios salários. Sacanagem desta casta. Até quando?
Joel, estou contigo. Nossa classe política é o que temos de pior. Não é à toa que o índice de pessoas envolvidas com questões judiciais, como réus, entre eles, políticos, suplanta qualquer outro extrato da população. As elites empresariais que fazem o que querem e agem como sanguessugas o fazem com apoio na classe política que, mais do que legitimam suas condutas, legalizam-nas. É um círculo vicioso. Olhemos para a frente, o que temos no horizonte? Temos a certeza de que perdemos. Perdemos feio
Discordo de você, a elite política entra comp bode expiatório, muito bem manipulada pela elite empresariale os reis são os banqueiros. Na verdade, esta é a mãe (e o pai) supostamente, maternalista e paternalista. de todas as elites.Endinheirada ela, com seus marionetes políticos escolhidos a dedo e fartamente privilegiados na dinheirama, nomeia os cargos suculentos da república em todos os poderes, sobretudo judiciário. Agora ensaiam ser políticos. Para não serem traídos como empresários.
o populismo é a maior praga do Brasil
Azelite do Lula devem estar se coçando com vontade de embarcar de novo no poder
A pior elite aqui é - disparado! - a do Judiciário. Os maiores salários, número de benefícios, mordomias de todo tipo e a pior atuação possível para detonar o país.
De pleno acordo, Lucia ...
Infelizmente e tristemente vimos que a justiSSa deste país pela ineficácia com suas côrtes patrocinadas e controladas pelo poder econômico se tornaram tentáculos de elites insanas crimimosas que destroem o estado de direito tutelando Estado agindo como curadores da nação esmagando a cidadania e ajudando escravizar o povo ... é o que pensa um cidadão idoso ainda livre que entende que o povo regiará pelas urnas .. que Zeus se apiade de nós.
...não é a pior! compõe o "bloco no poder" com seus marajás, tal como nos 3 poderes, industriais, comerciais e banqueiros. O grave no judiciario é que o topo dele não tem assento por mérito. Daí se locupletam, fortalecem e reproduzem status e o poder clientelista da velha política dos quem os indicam...
Ótima entrevista Duda. Desconhecia o trabalho sobre esse índice.
Excelente entrevista cujo entrevistado comenta sobre tópicos essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade neste século. É fácil perceber que as elites politica e empresarial no BR estão longe de atuarem para favorecer a nação. E o que vem por aí não deverá mudar esse quadro. Vamos ter muito trabalho a fazer e pressão social crescente. Os mais jovens terão que ampliar a mobilização social. Nada é socioeconomicamente conquistado sem luta e perseverança.
ótima entrevista, vou estudar mais esse assunto.manda ela para o Lula e pra Helena Chauí
Boa matéria, até que enfim ampliei meus parco conhecimentos , muito bom. PAÍS de faz de CONTA.