RuyGoiaba

Haddad nem é tão Lula assim

12.10.18

Depois de meses dizendo que Lula, mesmo ficha-suja e preso em Curitiba, era candidato e que Fernando Haddad era Lula, o PT ficou 18 milhões de votos atrás de Jair Bolsonaro – e agora precisa convencer os eleitores de que Haddad nem é tão Lula assim, imagine, que é isso? Afinal, o ex-prefeito nem está mais indo pedir instruções ao chefe na cadeia.

Sumiram com o vermelho do material de campanha: ficou tudo verde e amarelo. Sumiu também a imagem do que Leonel Brizola chamava de “sapo barbudo”. Incorporaram a frase “não sou petista, mas…” a algumas peças. Falaram até numa “frente ampla democrática” com um monte de gente que o PT vem chamando de fascista nos últimos 38 anos – e a quem, certamente, daria uma banana tão logo retornasse ao poder.

A esta altura, Haddad sem a máscara de Lula é menos convincente do que Mussum como rei da Áustria na versão dos Trapalhões para a história de Guilherme Tell. Como já disseram nas redes, talvez o próximo passo do poste seja adotar o slogan “Haddad é Bolsonaro”.

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Há quem ache que o sucesso de Bolsonaro se deve, entre outros fatores, a uma espécie de importação da “onda Trump” americana com dois anos de atraso. Se for isso mesmo, é rapidíssimo para os padrões brasileiros. Há coisas que já têm mais de 200 anos e ainda não pegaram direito no Bananão, como o Iluminismo.

Continua valendo para nós o que João da Ega –o grande personagem de Eça de Queirós em “Os Maias”– dizia de Portugal no século 19: “A civilização custa-nos caríssima, com os direitos da alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas”.

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Cabo Daciolo, glória a Deuxxx, foi o sexto colocado na eleição presidencial — à frente de Marina Silva, Henrique Meirelles e Alvaro Dias e com mais que o dobro da votação de Guilherme Boulos (bem-feito, PSOL: ninguém mandou vocês expulsarem esse santo homem).

Parece que os brasileiros queriam muito votar num meme desta vez, e Daciolo cumpriu com louvor o requisito. Mas chegou à corrida em cima da hora. Bolsonaro, o vencedor, já é meme há muitos anos.

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Renovação na Câmara e no Senado, que beleza. Fora com a velha política, tchau para os envolvidos na Lava Jato etc. Aí você vê a lista dos novos, com gente como Joice Hasselmann –aquela dos “600 milhões”, ou 12 vezes o bunker da propina do Geddel, “nota sobre nota”— e Alexandre Frota, ex-ator pornô que justificou sua candidatura dizendo que o Congresso “já é uma putaria” (como negar?).

Meu temor é que a gente acabe sentindo saudade dos profissionais, aquela turma que roubava respeitando a liturgia do cargo. Depois do “fica, Temer”, só o que falta ao Brasil é um “volta, Romero Jucá”.

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Ganhe o segundo turno quem ganhar, não se deixem levar por aqueles que anunciam o apocalipse. Reproduzo aqui as sábias palavras de um amigo no Facebook: “Tenho plena certeza de que, no dia 28 de outubro, um projeto de governo contrário à democracia será derrotado”.

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A GOIABICE DA SEMANA

O fim de semana da votação foi farto na produção de goiabices. A princípio, pensei em destacar aqueles brilhantes eleitores de Bolsonaro que denunciaram as urnas eletrônicas por “não aceitar” o voto no 17. Constatou-se depois que eram votos para governador em estados sem candidatos do PSL.

Mas os campeões mesmo são os sujeitos do PT mineiro que, segundo o jornal O Tempo, compraram pacotes de SMS para pedir votos em Romeu Zema, na esperança de que ele tirasse Antonio Anastasia do segundo turno – e, com isso, deixaram seu próprio candidato, Fernando Pimentel, fora da disputa. São o Ronaldinho Gaúcho da modalidade “tiro no pé”.

Valter Campanato/Agência BrasilValter Campanato/Agência BrasilDilma e Pimentel: sua ausência preencherá uma lacuna em Minas Gerais

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