Foto: Serviço de Emergência da Ucrânia/Wikimedia CommonsBombeiro apaga incêndio em Kiev após ataque russo; isolacionismo dos EUA teria graves consequências para a Ucrânia

Os números do massacre de Putin

Desde o avanço da invasão russa, que completa um ano nesta sexta (24), a Ucrânia se tornou palco de um dos maiores conflitos militares do mundo  
24.02.23

Esta sexta-feira (24) marca um ano da invasão da Rússia à Ucrânia em escala nacional — tropas russas estão na Crimeia e no Donbas desde 2014. Nos últimos 365 dias, a imprensa internacional tem dado relevância à cobertura da guerra, uma vez que ela ocorre em território europeu e envolve diretamente uma potência militar e nuclear. Mais do que isso, os números mostram que a invasão desencadeou um dos maiores conflitos militares do mundo.

Pelo menos 8 mil civis morreram e 13,3 mil foram feridos desde 24 de fevereiro do ano passado, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. E o próprio comissariado reconhece que o número real de mortos e feridos “provavelmente é substancialmente maior”. Estimativa de janeiro do chefe das Forças Armadas da Noruega, que integra a Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan, eleva as mortes para 30 mil. A título de comparação, 12 mil civis “morreram por violência” no primeiro ano da Guerra do Iraque, de acordo com a base de dados independente Iraq Body Count.

A ONU também aponta 14 milhões de pessoas desalojadas na Ucrânia, o equivalente a quase um terço da população no pré-guerra. Desse montante, mais de 8 milhões se refugiaram em outros países da Europa. Isso equivale a duas vezes mais refugiados do que o continente acolheu nos dez anos de conflito nos Balcãs, na década de 90, a penúltima guerra na Europa, e oito vezes mais do que na crise migratória de 2015.

Os invasores russos, por sua vez, também sofreram perdas. Autoridades americanas e norueguesas estimam que, enquanto 100 mil militares ucranianos foram mortos ou feridos, o número dos russos chega a 180 mil, oito vezes mais do que os americanos contabilizaram em 20 anos de guerra no Afeganistão. A Rússia, na comparação com os EUA, tem um histórico de mandar soldados aos milhares para os campos de batalha, sem muita preocupação sobre suas chances de sobrevivência. Usa-se, assim, a arma da “superioridade demográfica” contra o inimigo. Essa característica, que vem da época czarista, não foi perdida nos anos da União Soviética e foi além. Josef Stalin convocou cerca de 1 milhão de prisioneiros para a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e a União Soviética acabou como a parte que mais contabilizou militares mortos no conflito: 8 milhões.

As perdas russas no primeiro ano da guerra também envolvem seu arsenal. Relatório de fevereiro do think tank britânico International Institute for Strategic Studies estima que a Rússia perdeu mais de 2 mil tanques, o que representa mais de metade da sua frota operacional. A Ucrânia, por sua vez, teria perdido até 700 e ainda manteria outros 950, sem considerar os cerca de 60 tanques que serão enviados pelos EUA, Reino Unido e Alemanha nos próximos meses.

A ajuda do Ocidente a Kiev é outra evidência da relevância que o conflito alcançou no intervalo de um ano. Segundo o think tank alemão Kiel Institute for World Economy, o governo americano se comprometeu a enviar mais de 76,5 bilhões de dólares em assistência à Ucrânia entre janeiro de 2022 e 2023. Desse montante, 46,5 bilhões foram apenas para fins militares. Em comparação, o Afeganistão recebeu 95 bilhões de dólares, corrigidos pela inflação, em assistência militar em 20 anos de guerra. A União Europeia, por sua vez, se comprometeu a enviar mais de 30 bilhões de dólares em assistência não militar; o Reino Unido, mais de 8 bilhões, dos quais 5 bilhões para fins militares.

O Ocidente gasta tanto na Ucrânia não apenas por princípios, mas também por causa dos impactos socioeconômicos que a guerra tem causado no mundo. A OCDE, grupo das maiores potências do mundo, afirma que a guerra na Ucrânia é “largamente” responsável pelas pressões inflacionárias que desaceleraram a economia global em 2022. Na Europa, por exemplo, o preço do gás natural, mercado dominado pelos russos e dependente de gasodutos que passam pela Ucrânia, quase triplicou em 10 dias de conflito e quase quadruplicou até agosto. Os dados são do principal referencial do continente, o Title Transfer Facility.

Outra commodity afetada pela guerra foi o trigo — Rússia e Ucrânia respondem por 30% das exportações do grão em todo o mundo. Os russos embargaram 20 milhões de toneladas de grãos, incluindo trigo, em portos ucranianos no Mar Negro durante os primeiros seis meses da guerra. De acordo com o mercado de futuros de Chicago, índice de referência no comércio internacional de trigo, o preço da commodity aumentou entre 45% e 50% até maio, na comparação com fevereiro. A inflação do trigo atingiu em especial as regiões mais dependentes das exportações ucranianas, que já eram as mais afetadas pela insegurança alimentar — em especial o Oriente Médio e a África.

Os números provam que, no último ano, a invasão da Rússia à Ucrânia gerou um dos maiores conflitos militares da atualidade, com consequências para todo o mundo. As dezenas de milhares de civis mortos, os milhões de refugiados, as centenas de milhares de baixas militares, os bilhões de dólares em assistência militar e a inflação internacional servem para calcular o prejuízo. E essa conta está no nome de Vladimir Putin.

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  1. A OTAN é apenas um refúgio dos países que fogem da barbárie russa. Ninguém é obrigado a entrar. É uma opção livre.

  2. Só para apimentar o debate: - se vc fosse o Puttin e percebesse movimentos da OTAN cercando seu país percebesse tb a Ucrânia piscando os olhos ela (OTAN), onde parte de seu território fica a 600 km de Moscou. O que vc faria ¿

    1. A OTAN não tem objetivo de invadir ninguém. Já a Russia ....

  3. A culpa deste conflito não deve recair exclusivamente na Federação Russa. O EUA e sua OTAN teem uma grande responsabilidade tbm pelo que está acontecendo. A guerra da OTAN contra a Rússia, cujo palco é a Ucrânia é tbm pela manutenção da supremacia militar e econômica do ocidente (leia-se: EUA e Europa). Só os simplórios e os mal intencionados é não reconhecem isso.

    1. A Otan é apenas um refúgio para onde correm os países que fogem da selvageria russa.

    2. A esquerda não fala tanto no "respeito à soberania dos países"? Lembra da Dilma sobre o respeito ao "Estado" Islâmico? Ou é só retórica dos seguidores do Molusco farsante? A Ucrânia tem todo o direito de escolher entrar para a OTAN. E não me venha culpar os EUA por isso. Só lembro que essa escolha já foi feita por 32 países SÉRIOS. E livremente.

    3. A Ucrânia é que estava pedindo ingresso na Otan, no que faz muito bem.

  4. Sr. Jornalisti. Em sua profissão, é sempre recomendável, divulgação das fontes, alguma imparcialidade, e rechecagens, dizem especialistas.

  5. E o fato de dificilmente o Putin conseguir salvar a face perdendo o conflito fará com que essa guerra ainda esteja para durar

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