ReproduçãoNicolás Maduro e Lula: a esquerda populista na América Latina é formada por social-autocratas

Teoria do passapanismo

Lula e o PT, social-autocratas, ressignificaram o conceito de democracia para poder relativizá-lo e substituí-lo pelo de cidadania
06.07.23

Estou escrevendo, para a Crusoé, uma INTRODUÇÃO À TEORIA DO PASSAPANISMO. Tem background, pressupostos (axiomas), supostos (hipóteses), convenções (como definições), teoremas (e corolários). O primeiro axioma é: Lula é um democrata. Isso não é uma hipótese. Não está sujeito à refutação no âmbito da “teoria”. É como se fosse uma verdade evidente por si mesma. Segue abaixo uma introdução.

É a ignorância que leva Lula a apoiar todas as ditaduras de esquerda. Ele apoia tais regimes porque não sabe bem, coitado, o que é uma democracia. O importante é que suas ações concretas nunca foram antidemocráticas. Eis a nova “teoria” dos jornalistas e intelectuais governistas. Segundo sua explicação, Lula é, de facto, um democrata, nunca se afastou disso, embora fale algumas besteiras de vez em quando por desconhecimento. Como é difícil salvar Lula de si mesmo, trata-se, portanto, de ignorar o que ele diz. Fazer de conta que ele não está dizendo o que vem repetidamente dizendo.

Se Lula recebeu Maduro e Lavrov com honras de Estado; se, no passado, protegeu Battisti, elogiou e abraçou Kadafi e Amahdinejad; e se, no futuro, receberá bin Salman nada disso importa. Pois Lula é um democrata, isso não está em discussão. Só comete esses deslizes porque é um operário, quer dizer, por não ter tido oportunidade de receber uma educação adequada.

Mas os passapanistas enfrentam não poucas dificuldades de lavar a reputação de Lula e do PT. Vejamos alguns exemplos.

Eles fazem um esforço danado para dizer que Lula não é, nem nunca foi, comunista, aí vem o próprio Lula e diz que tem orgulho de ser chamado de comunista.

Eles empreendem uma iniciativa sobre-humana para dizer que Lula é social-democrata, aí vem o Lula e declara que a democracia é relativa (ou seja, que a democracia não é um valor universal: o que é democracia para mim pode não ser para você; o que é democracia para Xi Jinping um ditador, pode não ser democracia para Olaf Scholz um verdadeiro social-democrata, mas tudo pode ser democracia, a depender da “narrativa”).

Eles fazem um trabalho hercúleo para dizer que o PT é um defensor da democacia, quase que um sinônimo de democracia, aí vem o Lula e afirma que a ditadura venezuelana é uma democracia (e que achar que Maduro é um ditador é apenas uma narrativa a ser contraditada por outra narrativa na qual ele seria um exemplo de democrata).

Eles se opõem, pelo menos formalmente, à invasão de Putin na Ucrânia, mas aí vem Lula e comete repetidamente juízos autocráticos sobre a guerra, não fazendo distinção entre agressor e agredido, dizendo que Zelensky é tão culpado quanto Putin e que ele, aquele “comediante”, quer a guerra para se promover, não apoiando as sanções das democracias liberais à ditadura russa e propondo resolver o problema pela força, a partir de um grupo das maiores autocracias do planeta para impor a paz.

Eles tentam de todo jeito dizer que a militância petista que ainda vive no clima guerra fria é uma franja partidária, uma minoria com pouca influência, mais aí vêm Gleisi (a presidente do partido), Pimenta, Marinho e Teixeira (ministros) todos dirigentes da tendência majoritária do PT (sim, aquela mesma de Lula e Dirceu) apoiar as declarações antidemocráticas de Lula (o líder máximo), típicas da guerra fria (contra o imperalismo norte-americano).

Eles resolvem articular uma espécie de “tendência externa” do PT para apoiar Haddad (que não é chefe de coisa alguma no partido) na sua luta interna contra os neopopulistas estatistas (que seriam uma minoria atrasada do partido), construindo assim um PT imaginário e, com isso, enganando as pessoas.

Este último ponto, talvez, tenha até uma explicação benigna.

Os jornalistas políticos e intelectuais que proferem hoje opiniões políticas em alguma mídia, em sua maioria, não sabem bem o que é uma organização política de quadros. No máximo participaram das franjas de algumas delas no movimento estudantil ou em alguma corporação ou ONG. Nunca fundaram, nem dirigiram, uma organização da esquerda marxista revolucionária. Na verdade, nem creem que existam.

Quando você tenta explicar como funcionam, eles não acreditam. Acham que você está inventando uma teoria da conspiração. Quando você diz que um partido de massas, neopopulista, que adotou a via eleitoral, tem no seu núcleo um “partido interno” de dirigentes marxistas, eles acham que você está dando uma de Olavo de Carvalho (quando, na verdade, está apenas entendendo Orwell).

É inútil conversar porque eles têm muitas certezas sobre o que não sabem.

Aí, quando você mostra que o Zé Dirceu nunca deixou de ser dirigente do PT, nem quando foi cassado, nem quando estava preso, eles acham graça e pensam: “Mas que cara doido”. Ora, bastaria assistir um vídeo qualquer de Dirceu, desses que ele continua gravando para o Opera Mundi, para conhecer a “teoria de tudo” atual da esquerda: com análises da conjuntura brasileira e mundial, com as táticas que o PT deve seguir (por exemplo, agora, a dos três mandatos consecutivos) e com apreciações geopolíticas estratégicas (que coincidem, em grande parte, com as de Putin e dos partidos amigos latino-americanos reunidos no Foro de São Paulo) e é essa a orientação seguida pela maioria da militância lulopetista.

Mas eles se recusam a ver. Porque eles querem porque querem que o PT seja um partido social-democrata dirigido por gente como (acham que é) Fernando Haddad. E acham que passeando na sede da direção do PT você, distraidamente, cruza de manhã com um Olaf Scholz e de tarde com uma Sanna Marin.

Nem o Lula com sua sinceridade desconcertante consegue acordá-los: “Eles nos acusam de comunistas, achando que nós ficamos ofendidos com isso. Mas não ficamos ofendidos. Nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazistas, de neofascistas, de terrorista, mas de comunista, socialista, nunca. Isso não nos ofende, isso nos orgulha”. Mesmo assim, refeitos do susto inicial após ouvir essa fala do grande líder, eles não entendem que ela não significa que Lula seja comunista (daqueles que “comem criancinhas”, porque não é mesmo) e sim que ele, quando falava, sabia perfeitamente de onde estava falando e para quem estava falando: falava como um dirigente do PT para um conjunto de organizações assemelhadas de quadros de raiz marxista presentes no Foro de São Paulo (e tanto é assim que foi ovacionado quando proferiu tal juízo).

Mas… como? indagam eles, muito confusos. Se Lula é um democrata (e o é porque este é um pressuposto de sua teoria que, portanto, não pode estar em discussão), como então ele pode ter dito isso? Tentam acionar suas “fontes” (leia-se: dirigentes do PT cuja função é enganá-los) e, no caso, são dissuadidos de continuar fazendo esse tipo de pergunta. Não tendo resposta, eles acham que é melhor esquecer tudo e passar ao próximo (ou voltar ao velho) assunto: “E o Bolsonaro, heim?”

O que eles não querem ver é que Lula e o PT ressignificaram o conceito de democracia (substituindo-o por cidadania) para poder relativizar a democracia (desde que haja avanços na cidadania). Xi Jinping está de pleno acordo e por isso diz que a China é a verdadeira democracia (a democracia que funciona, porque é governável autocraticamente e porque está aumentando o bem-estar de sua população).

Mas Lula, o PT e a esquerda populista na América Latina em geral, não são social-democratas e sim social-autocratas. Eles entendem por social a coleção dos pobres (chamados de o povo) que são seu exército eleitoral de reserva. Eles entendem por democratas os que falam (e têm reserva de mercado para falar exclusivamente) em nome desse povo. Mesmo que sejam autocratas!

Ora, todos os populismos contemporâneos levam à autocratização da democracia. No caso do populismo-autoritário (dito de extrema-direita), há risco real de decairmos, às vezes abruptamente, de uma democracia eleitoral para uma autocracia eleitoral (como aconteceu com a Hungria, com a Turquia e com a Índia). No caso do neopopulismo (dito de esquerda) há risco real de nossa democracia eleitoral virar, ainda que mais lentamente, um regime não-liberal (como está acontecendo com a Bolívia, com o México e com o Brasil) e, no limite, virar também uma autocracia eleitoral (como aconteceu com a Venezuela e com a Nicarágua).

Segundo o discurso de Lula na abertura do XXVI Foro de São Paulo –  uma articulação de neopopulistas da esquerda marxista da América Latina, de caráter social-autocrata, não-liberal – só a esquerda representa o bem. Todos os que não forem de esquerda são, para ele, neofascistas. É uma visão antipluralista. O objetivo é empurrar para a extrema-direita os que se opõem ao seu governo para então congelar a atual bipolarização até 2026 e além. O propósito desse ataque frontal à democracia liberal é esterilizar o terreno para que nele não floresça nenhuma oposição democrática (não-populista).

Fica claro que o inimigo principal do lulopetismo não é nunca foi o bolsonarismo e sim os democratas liberais. O bolsonarismo foi uma oportunidade caída do céu para vencer as eleições e agora continua sendo um aliado tácito nessa campanha do lulopetismo de exterminação dos democratas liberais.

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  1. Passou da hora de esquecerem este ser decrépito que é o Bozonazi, esse aborto eleitoral, e buscarmos ativamente a sonhada terceira via. Volto a repisar, sou um parlamentarista convicto, se for distrital, melhor ainda! Chega de ficarmos pulando de populista em populista, vamos focar em escolher bons parlamentares e que representem bem os anseios dos seus eleitores, não congressistas que chegaram lá rebocados. Sorte que sua lulidade e Bozonazi estão velhinhos.

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