LeandroNarloch

Censura politicamente correta

11.01.19

Em 2016, fui procurado por uma professora de ciências autora de livros didáticos. Estava revoltada: sua coleção (uma ótima coleção de livros de ciências para 5ª a 8ª série) tinha sido reprovada para compras pelo Ministério da Educação. Os avaliadores haviam concluído que os livros exibiam imagens preconceituosas que degradavam mulheres e negros.

Assustada com a acusação, a professora foi ler o parecer. Os avaliadores consideraram racistas e machistas fotos cotidianas sobre problemas ambientais: paulistanos pardos numa enchente de verão, indianos ao redor de um caminhão-pipa, mulheres carregando vasos de barro na África. Segundo o parecer, os livros reproduziam “estereótipos e preconceitos de condição social, étnico-racial e de gênero, caracterizando discriminação e violação dos direitos humanos”.

Leitor: por simplesmente incluir imagens de negros e mulheres enfrentando problemas ambientais, a autora dos livros foi acusada de violar os direitos humanos!

Houve nesta semana um jogo de empurra sobre a alteração do edital do Programa Nacional de Livro Didático. Nem o governo Bolsonaro nem o governo Temer reivindicaram autoria da publicação no Diário Oficial. Ao que tudo indica, a medida, apressada e incompleta, não passou de molecagem – ou de alguém criando armadilhas para o novo governo ou de um integrante do atual ministério querendo agir na surdina.

Mas diante dos absurdos do MEC ao avaliar livros didáticos, uma mudança nos editais não é só necessária, é urgente. As regras atuais são confusas e os avaliadores, geralmente professores de universidades federais (ou seja: nível hard de esquerdismo), têm poder discricionário demais.

O edital em vigor lista uma série de “princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano”. Um deles é “promover positivamente a cultura e a história afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros, valorizando seus valores, tradições, organizações, conhecimentos, formas de participação social e saberes”.

Em outras palavras, quem não adular a cultura indígena ou africana corre o risco de ser excluído das compras de livros didáticos do governo federal.

Ora, como a cultura europeia e qualquer outra, a indígena e a africana estão repletas de coisas grotescas. Tupinambás cozinhavam tripas e membros humanos em grandes caldeirões – daí vem o termo “mingau”. Povos da África Ocidental escravizavam e praticavam sacrifícios humanos até o final do século 19. Não é racismo contar essas histórias. Pelo contrário, negar características perversas das nossas raízes é um passo importante para a maturidade.

Outra exigência do edital é “promover positivamente a imagem da mulher, assim como a imagem de afrodescendentes, considerando sua participação em diferentes trabalhos, profissões e espaços de poder”. Dá para entender a preocupação dos autores, mas o que exatamente significa promover positivamente a imagem das mulheres? Informar que elas em média ganham menos que os homens atende ou contraria essa exigência? Um avaliador consideraria positivo ou negativo um texto sobre violência contra donas de casa?

Os autores de livros didáticos não devem ser obrigados a promover positivamente nenhum grupo ou tradição. Décadas atrás, o governo militar exigia que os livros “promovessem positivamente” os heróis militares e os voluntários da pátria. Hoje invertemos a chave: no lugar do tom oficialesco e patriótico, veio a obrigação de publicar versões politicamente corretas sobre os povos oprimidos. Mas o dirigismo continuou o mesmo.

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