DiogoMainardina ilha do desespero

Me deem um osso ou um cafuné

15.03.19

Jair Bolsonaro recebeu a imprensa na quarta-feira. Até a TV Globo e a Folha de S.Paulo foram convidadas ao Palácio do Planalto. É salutar que, de vez em quando, o presidente da República se encontre com repórteres. Ele vai acabar entendendo que jornalistas costumam ser facilmente domesticados. Basta um osso ou um cafuné.

Durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro falava com nosso site. Agora parou de falar. Isso não atrapalha minimamente o nosso trabalho. Dilma Rousseff nunca falou conosco. Michel Temer, assim como Jair Bolsonaro, parou de falar. O único fato que me aborrece é que, aparentemente, meus comentários na Crusoé ajudaram a intoxicar o ambiente. Quem acompanha a revista desde o comecinho sabe que esta coluna jamais teve um caráter editorial. Ela nasceu como uma tentativa despretensiosa de conversa com os outros náufragos da ilha. Nesse ponto, fracassei duplamente: por causa da coluna, alguns indígenas resolveram me canibalizar, e aquilo que de fato importa foi posto de lado — como as nossas reportagens sobre os ministros do STF, por exemplo.

A coluna nunca teve um caráter editorial porque eu, na verdade, nem sei o que pensar sobre o governo. Ou melhor: mudo de semana em semana. Inicialmente, animei-me com os superministérios de Sergio Moro e Paulo Guedes. Em seguida, defendi o pacote anticrime e a reforma previdenciária. Quando os filhos de Jair Bolsonaro passaram a causar estragos às duas propostas, recomendei que eles fossem afastados do Palácio do Planalto. Como ninguém me ouviu, passei a esperar que os militares tutelassem o presidente. Ou, no mínimo, que tutelassem os seus tuítes. Rapidamente, percebi que ocorria o contrário: os militares é que estavam sendo tutelados pelos tuítes presidenciais. Os generais morrem de medo do linchamento nas redes sociais.

Na semana que vem, vou pensar alguma outra coisa. Mas imploro de joelhos a todos os náufragos desta ilha: concentrem-se no que realmente importa. E, se calhar, me deem um osso ou um cafuné.

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