DiogoMainardina ilha do desespero

A guerrilha digital é um engodo

29.03.19

Jair Bolsonaro, em 21 de novembro de 2018, deu sua última entrevista para O Antagonista, durante a qual anunciou que pretendia nomear seu filho Carlos para a Secom:

“O cara é uma fera nas mídias sociais. Tem tudo para dar certo.”

No dia seguinte, comentei que aquilo representava um nepotismo vergonhoso. Jair Bolsonaro percebeu que a escolha tinha tudo para dar errado e desistiu de nomear a fera. Seu filho Carlos passou a espernear contra o nosso site e a nos acusar de pleitear um cargo governamental, embora o único cargo em questão fosse o dele.

Por que resolvi contar tudo isso? Porque Jair Bolsonaro tem uma visão distorcida das redes sociais, que pode acabar implodindo o Brasil.

Depois do episódio da Secom, Carlos Bolsonaro deflagrou uma campanha no submundo da internet contra O Antagonista e a Crusoé. Isso emporcalhou nossa caixa de comentários e, por uma semana, reduziu nosso público nas redes sociais. Ao mesmo tempo, não prejudicou o acesso aos nossos sites. Ao contrário: a Crusoé chegou a 70 mil assinantes e O Antagonista nunca teve tantos leitores quanto agora – cerca de um milhão e meio por dia.

A falange mais aloprada do bolsonarismo capturou o Presidente, segregando-o da imprensa, dos militares, do empresariado, dos movimentos sociais, dos ministros, dos parlamentares. A promessa que lhe fazem é que seus seguidores fanatizados das redes sociais estariam dispostos a apoiar qualquer descalabro, até mesmo um golpe ou um autogolpe. Só que é uma estupidez descomunal confundir o engajamento no Twitter – pago ou gratuito – com a capacidade de governar de maneira plebiscitária, sem intermediários, em contato direto com o povo. Como demonstram os nossos sites, que resistiram aos ataques encomendados por aquela turma dodói, a internet é muito menos manobrável e bovina do que se imagina. A temida guerrilha digital é um engodo, derivado da fantasia de que meia dúzia de comentaristas imbecilizados podem refletir o humor da sociedade inteira.

Jair Bolsonaro pode tentar dar um golpe por meio do Twitter. O contragolpe, porém, será brutalmente real.

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