RuyGoiaba

Por uma presidente tchutchuca

05.04.19

Em 1968, a rede americana de TV ABC, que não conseguia sair do terceiro lugar na audiência, convidou dois intelectuais que se odiavam – William F. Buckley Jr. e Gore Vidal — para comentar as convenções partidárias prévias à eleição presidencial. Absolutamente ninguém se lembra do “debate de ideias”, mas todo mundo cita a troca de insultos entre os dois, cujo auge foi Vidal chamando Buckley de “criptonazista” e Buckley respondendo “sua bicha, vou quebrar sua cara”. A audiência, é claro, disparou: já naquela época, o povo queria era ver o pau comendo na casa de Noca, não essa frescura de “ideias”.

O mais próximo de Buckley x Vidal a que o Brasil chegará (com atraso, como sói acontecer no Bananão) talvez tenha sido o debate de ideias de ontem na CCJ, em que Zeca Dirceu chamou Paulo Guedes de tigrão com pobres e tchutchuca com ricos e o ministro da Economia – que é, vejam bem, da ala sensata do governo — respondeu com “tchutchuca é a mãe, a avó e a família” (pena: faltou presença de espírito para lembrar que o pai de Zeca é tchutchuca de empreiteiro.)

Ao contrário dos EUA de 1968, porém, ninguém se escandaliza. Afinal, vivemos numa terra em que Nana Caymmi chama Gil, Caetano e Chico de “chupadores do pau do Lula”, Alexandre Frota sai dos filmes pornô para a Câmara praticamente sem escalas e o guru do bolsonarismo fala de “cu” e “piroca” em nove de cada dez tuítes. Só quero ver quem será o primeiro juiz (ou ministro) a mandar em plenário um “Vossa Excelência sente na minha benga e rode!”.

Nesta esculhambação ampla, geral e irrestrita que é o país, só não entendo bem como ainda insistem em eleições convencionais, em vez de escolher o presidente em um reality show semelhante à Casa dos Desesperados do antigo programa de Sérgio Mallandro (que a TV Gazeta anunciava como “travesti, anã, bad boy, costureira e gay juntos em uma quitinete”). Ou, como já sugeri aqui, por sorteios diários de CPF, com cada brasileiro tendo direito a seu Dia de Presidente.

Mas acho que a solução é mesmo um governo de união nacional em torno de Verônica Costa, a Mãe Loura do Funk. É uma tchutchuca raiz e é vereadora no Rio: no mínimo, tem tanta experiência quanto Carlos Bolsonaro. Mãe Loura –glamourosa e descendo até o chão, chão, chão — ainda há de salvar o Brasil.

ReproduçãoReproduçãoBuckley (à esquerda, mas só na foto) e Vidal num de seus embates em 1968

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A GOIABICE DA SEMANA

Morar na internet é horrível, mas às vezes é divertido. Por exemplo, quando Jair Bolsonaro alegou que o nazismo era de esquerda porque havia a palavra “socialista” no nome do partido de Hitler, a resposta das redes foi imediata: Bolsonaro é de esquerda (está numa sigla que, além de social, é liberal), a República Popular Democrática da Coreia do Norte é uma democracia, manga de camisa é fruta, banana-prata é minério e couve-manteiga é um laticínio.

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