Caminhoneiros parados na estrada: eles conseguiram parar o país e emparedar o governo (Adriano Machado/Crusoé)

E agora?

Ainda em transe por causa da da greve dos caminhoneiros, o país se pergunta como serão os próximos meses com um governo fraco, um Congresso que só pensa na eleição e oportunistas que apostam no caos
01.06.18

Nas últimas duas semanas, o brasileiro se deu conta de que está, sim, vulnerável a situações dignas do regime de Nicolás Maduro ou mesmo de países mergulhados em desastres naturais de proporções homéricas. Sem combustível, faltou comida, faltou remédio e, principalmente, governo. Passado o tumulto, a pergunta é o que fazer agora, com um Executivo que se arrasta sem comando, um Congresso com parlamentares que só pensam em se reeleger e oportunistas em geral querendo faturar no caos.

De imediato, a resposta é: aguardar as eleições de outubro e escolher dentre as opções um candidato cujas propostas incluam soluções razoáveis para um Estado inchado, ineficiente e corrupto. Ocorre que, até lá, nesses cinco meses que separam o brasileiro da urna, continuaremos a ter um presidente fragilizado e tutelado por outros poderes — o que, claro, sempre embute risco. Serão meses duros. Pior: apesar da limpeza promovida pela Lava Jato, não parece que haverá uma grande renovação da classe política por meio do voto.

Em Brasília, há um pacto tácito para que o país tente seguir com relativa tranquilidade até outubro. A certeza é de que, tivesse Michel Temer ainda um longo período de mandato a cumprir, as chances de ele cair no curto prazo seriam grandes. É justamente a proximidade das eleições que escolherão seu sucessor que deve garanti-lo no cargo. Mas aqui há outro problema. Como a crise dos caminhoneiros bem mostrou, o simples esforço institucional não é garantia de calmaria.

Assim como nas jornadas de 2013, a crise partiu das ruas. Só que, cinco anos atrás, apesar da violência das cenas, o sistema produtivo não foi afetado. Desta vez, a população demonstrou a sua insatisfação ao apoiar um movimento que lhe retirou o direito de ir e vir e, como há muito não se via, o livre acesso a mercadorias e medicamentos. O sentimento geral foi o de “basta, pagamos muito e recebemos pouco”. Linneu de Albuquerque Mello, professor de direito tributário da Fundação Getúlio Vargas, lembra que foi o aborrecimento com os altos impostos que impulsionou as maiores revoluções mundiais, dos Estados Unidos à Rússia. “Os tributos são pesados e o cidadão não vê retorno. Tem um bom naco do salário abocanhado, mas não pode depender de saúde, educação, transporte ou segurança públicos, e aí tem de gastar o que não tem. É uma equação perigosa”, resume.

O dado surpreendente é que, para que os caminhoneiros voltassem ao trabalho, muitos cidadãos serão ainda mais penalizados, porque os subsídios aos grevistas serão pagos com o sacrifício de programas sociais — ou, no limite, o aumento de impostos, embora o Planalto negue. A verdade é que, com a escassez geral de racionalidade, o equilíbrio é precário. “Nós estivemos muito próximos de atravessar a red line (linha vermelha). Por pouco a situação não saiu do controle”, diz um influente ministro de Temer.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO