FelipeMoura Brasil

As pontes de Bolsonaro

26.04.19

“Não é um caso, estando certo ou errado, que vai abalar minha admiração por você.”

Foi o que me disse Jair Bolsonaro, ao final do café da manhã do presidente no Palácio do Planalto com diretores de jornalismo de veículos de comunicação.

Ele se referia ao episódio de Gustavo Bebianno, que deu ao programa Os Pingos Nos Is, do qual sou âncora, sua primeira entrevista após deixar o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Semanas atrás, em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro elogiara o “jornalismo independente” de Augusto Nunes, o mesmo que havia assumido a decisão de publicar áudios das conversas entre o então ministro e o presidente.

Bolsonaro tem demonstrado, aparentemente, compreender melhor que petistas e até uma parcela de bolsonaristas virtuais que trazer à tona notícias incômodas é dever da imprensa, de modo que ele não guarda rancores dos jornalistas que o respeitam e ainda reconhece que dá “umas caneladas às vezes”.

Ao considerar a censura autorizada por Dias Toffoli e determinada por Alexandre de Moraes uma medida injusta “até mesmo com a Crusoé, que em 90% das vezes dá tiro de .50 em cima de mim”, o presidente ainda fez a devida distinção entre o incômodo com notícias negativas ou críticas a seu respeito – ambas as quais ele também tem a liberdade de responder e criticar – e o endosso – que ele não dá – à lei da mordaça.

Quando seu porta-voz, o general Otávio Rêgo Barros, referindo-se à ordem das perguntas, disse “vou controlando”, Bolsonaro até brincou: “Controlando, não. Coordenando.”

Como o governo tampouco controla deputados e senadores, os encontros do presidente com eles também tem sido coordenados, em prol da aprovação da reforma da Previdência. Bolsonaro disse estar recebendo em média oito parlamentares por dia, com os quais tem “conversas saudáveis”.

Ele também buscou aproximação com o presidente da Câmara, a quem havia agradecido em rede nacional de TV e rádio pelo empenho na aprovação do texto na CCJ: “Nunca ataquei Rodrigo Maia. Sempre o respeitei. Ele deu um exemplo para nós de abnegação e entrega.” Em parte, Bolsonaro até aderiu ao discurso do político do DEM: “Não vou falar mais nova política e velha política. Apenas política”, disse o presidente.

Pode ser doloroso para a turma do “bolsonarismo raiz” vê-lo criar pontes com a imprensa e o establishment, evitando atritos desnecessários, mas governar é um exercício diário de convivência com a divergência e de habilidade para dialogar com os divergentes, sem prejuízo dos valores que se busca implementar. Bolsonaro não deixará de ser ele fazendo isso, muito menos convivendo com o general Hamilton Mourão, alvo de Carlos Bolsonaro. Será, sim, o líder de um país, não só de um gueto virtual.

Felipe Moura Brasil é diretor de Jornalismo da Jovem Pan.

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