A falta de garbo da turma da Greta

27.09.19

Talvez esta seja uma de minhas últimas colunas para a Crusoé e provavelmente uma das últimas edições da revista que você, caro leitor, apreciará. Parece que o planeta azul vai morrer muito em breve com o apocalipse que estão dizendo que se aproxima. Não sei vocês, mas eu estou em pânico com a tal da “ameaça existencial”, expressão usada por 10 entre 10 amigos que querem salvar o planeta do fascismo ambiental. O que isso significa? Ainda não sabemos, mas nossos bravos defensores das girafas amazônicas nos alertam que nossa existência na Terra beira o fim. Adeus amigos e caríssimos leitores, foi um prazer estar com vocês, nos encontramos do outro lado.

Sabendo agora o que nos espera em tão pouco tempo, eu deveria ter participado nesta semana da “Greve pelo Clima”, manifestações pelo mundo onde ativistas do Armagedon marcharam contra “sofrimento do planeta”. Parece que o planeta está com um bode danado da gente e sofrendo de tal maneira que vai nos expulsar em poucos anos, alguns dizem meses. Me emocionei assistindo pela TV as ruas de vários lugares sendo bloqueadas por manifestantes, trabalhadores sem acesso ao emprego, e, entre pilhas de lixo sendo despejado nas calçadas pelo meio ambiente, crianças, ah!, muitas crianças! E daí que algumas delas estavam visivelmente assustadas segurando cartazes com dizeres “é o fim do planeta!”, “vamos todos morrer!” ou “meu futuro está acabando!”? Sustinho de nada, o mundo merece!

Que tristeza! Nos meus tempos de criança, a preocupação com o meio ambiente falava apenas da natureza, de sua proteção e preservação. Fica a cada dia mais óbvio que hoje o foco ambientalista é bem diferente, a meta é o puro poder e influência política. Cria-se um crise fantasiosa, uma ameaça “nunca antes vista”, para que a sociedade se submeta às “brilhantes soluções” de alguns grupos “que apenas amam o planeta demais”. E, para financiar a causa apocalíptica, salvar as pobres girafas amazônicas e os gordos parasitas de governos ou ONGs ambientalistas, as hienas e abutres são capazes de usarem até crianças como escudo para suas falácias e narrativas.

E foi dentro do apavorante cenário que nos é vendido todo dia, que um pobre fantoche se destacou pelas palavras manipuladas, pela indignação fabricada e pela arrogância plantada de quem parece já ter absorvido o espírito dos xiitas ambientalistas à sua volta. Greta Thunberg, uma adolescente de 16 anos e a nova celebridade ativista do clima, fez um pronunciamento nas Nações Unidas e criticou veementemente todo e qualquer adulto do planeta. “Vocês todos vêm a nós, jovens, em busca de esperança. Como vocês ousam! Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias”, disparou a garota nascida e criada na Suécia, 7º maior IDH do planeta e com uma das menores taxas de mortalidade infantil do mundo, com apenas três para cada mil nascidos vivos. Com lágrimas nos olhos, quase tão honestas quanto a preocupação de Macron com a Amazônia, continuou: “Estamos iniciando uma extinção em massa e tudo o que vocês falam é sobre dinheiro e contos de crescimento econômico! Como vocês ousam!”. Uau, Greta, tio Marx estaria orgulhoso de você e do discurso de seus pais. Entre aplausos da plateia e uma performance digna do troféu Framboesa de Ouro, Greta dá o golpe final em todos nós: “Se vocês entenderam toda a situação e mesmo assim continuaram a falhar em seus atos, isso seria perverso, e isso eu me recuso a acreditar”. Leitores malvados, shame on you.

Crianças são peças poderosas em qualquer xadrez político. Além do apelo sedutor da inocência, a mensagem é entregue com clareza e com perfeitas doses de indignação juvenil: você roubou minha infância, faça o que eu digo ou você é uma pessoa do mal. Xeque-mate. Crianças que são manipuladas para exigir poder se tornam um escudo impenetrável. A mensagem para quem tem bom senso? Quem usa jovens como escudo humano para abastecer narrativas pode fazer qualquer coisa, qualquer coisa.

E antes de me chamarem de “negacionista” e me colocarem no balaio de quem não acredita em ciência, justo eu, uma ex-atleta que tem como norte exatamente a biologia humana, é bom deixar claro que minha indignação é com o falso alarmismo e o terror criado de que o mundo está próximo do fim. Jovens e crianças de todas as idades estão aterrorizados por uma narrativa cruel de que estamos vivendo uma crise existencial, literalmente. Existe mesmo a tal “mudança climática”? Claro que existe, o clima muda sempre desde que a Terra é Terra. A atividade humana está acelerando as mudanças climáticas? Podemos reverter ou diminuir essa mudança? A ciência sobre o clima é exata, o planeta vai mesmo acabar, todo dióxido de carbono faz mal ao planeta? Os questionamentos destes jovens deveriam ser respondidos com honestidade e responsabilidade. Há diálogos sérios a serem abordados sobre o meio ambiente e mudanças climáticas, mas longe de toda essa histeria absurda, criada unicamente para fins políticos. A real questão neste tema não é sobre como vamos apenas salvar os pobres bichinhos fofinhos e as florzinhas do mundo, mas sobre o que está por trás dessas pessoas que fingem entender a ciência climática para obter ganhos políticos. Temos a obrigação de mostrar aos nossos jovens tudo o que sabemos e acalmá-los de que o mundo não vai acabar em breve, e como essa histeria chegou a esse ponto.

E é aí que aparece, entre outros cavaleiros antiapocalipse, Bjorn Lomborg, ex-diretor do Instituto de Avaliação Ambiental do governo dinamarquês e autor do livro The Skeptical Environmentalist (sem título ainda em português). Bjorn defende que muitas das medidas e ações com cifras astronômicas adotadas por cientistas e formuladores de políticas que “combatem o aquecimento global” terão, no final das contas, um impacto ínfimo na crescente temperatura do mundo. Ele insiste, com dados, que muitas das reivindicações e previsões mais divulgadas sobre questões ambientais estão totalmente erradas (como os outros “fins do mundo” que nunca aconteceram) e que várias delas simplesmente não resistem a uma adequada checagem das fontes primárias. O pesquisador também derruba a narrativa de que a pobreza está aumentando, de que a área coberta pelas florestas está diminuindo vertiginosamente e de que o mundo está à beira do colapso final. Greta, a menina que repete uma das falácias mais desprezíveis que o socialismo prega — de que crescimento econômico não é um dos principais pilares de ruptura da pobreza —, tristemente não passa de apenas um títere, um fantoche de ouro maciço do antigo Egito criado apenas para entreter os faraós.

Um outro nome de peso entrou nessa briga contra a tal “ameaça existencial”. Richard Lindzen, físico atmosférico, professor durante trinta anos no renomado MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts) e autor de mais de duzentos artigos científicos, atesta que na comunidade científica especializada em alterações climáticas, há dois grupos: um que acredita que o aquecimento global possa, em parte, estar sendo causado pela queima de combustíveis fósseis (e a liberação de dióxido de carbono poderia contribuir para o recente aquecimento); e um segundo grupo, chamado de “céticos”, que acredita que há muitas outras razões para o recente aquecimento, como o sol, oceanos e as variações orbitais da Terra, e que, numa miríade de fatores para o atual clima, o dióxido de carbono não tem protagonismo no aquecimento global. Mesmo com essas diferenças, o professor afirma que ambos os grupos concordam que não é possível qualquer tipo de previsão a longo prazo dos futuros estados climáticos da Terra, e que esse debate foi sequestrado por cientistas fora da comunidade climática, por políticos e por ONGs ambientalistas apenas por questões político-ideológicas e também financeiras. Quem poderia imaginar?

Muitos, assim como Greta, trabalhada pelos pais no ponto certo para inflamar a histeria coletiva, entraram no transe ambiental sem se dar conta de que a grande maioria das informações hoje sobre o meio ambiente é imprecisa e não considera dados que possam representar tendências globais a longo prazo. Diante de tantos resultados positivos no planeta derivados de mais liberdade econômica aliada a políticas de menor interferência estatal, a militância progressista e globalista segue tentando esticar seus moribundos tentáculos para outras áreas, agora aliciando crianças. Greta Thunberg, a nova e triste face do falso Armagedom, não sabe, mas vive na era mais saudável e próspera da humanidade.

O mal se reinventa facilmente. A cartilha progressista tenta agora usar nossos filhos para suas alucinações ideológicas travestidas de bichinhos e árvores que estão morrendo por “queimadas que estão sufocando o mundo” e pelas terríveis garras do capitalismo. O disco é o mesmo, só mudou a capa. Será que Greta e todas as crianças que participaram da “Greve pelo Clima” sabem que os combustíveis fósseis tiraram 1 bilhão de pessoas da pobreza nos últimos 25 anos? Que a “limpa” energia solar não é tão limpa por não haver um método ainda de reciclagem dos painéis que usam doses pesadas de metais? Ou que a “correta” energia eólica tem uma manutenção caríssima e impossível de ser mantida, ocupa territórios grandes demais e — tirem as crianças da sala! — pode matar até quase 550 mil pássaros por ano, já levando algumas espécies ao perigo de extinção? Como fatos continuam sendo um incômodo, tenta se empurrar o mundo para as narrativas psicóticas criadas apenas para obter poder. É como o que um certo personagem macabro da história pregava: “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e no final todos acreditarão nela”. E se você discordar de Greta, você é um nazista.

Ana Paula Henkel é analista de política e esportes. Jogadora de vôlei profissional, disputou quatro Olimpíadas pelo Brasil. Estuda Ciência Política na Universidade da Califórnia.

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