LeandroNarloch

Lula condenado à liberdade

29.11.19

Prefiro Lula solto. Leitores franzirão a testa, mas é isto: prefiro Lula condenado à liberdade. Livre à custa de recursos protelatórios que a Justiça brasileira permite a ricos que podem pagar bons advogados. Carregando o peso de ter sido favorecido por decisões suspeitas do STF.

O castigo mais doloroso, para pessoas como Lula, ataca a vaidade. Trancá-lo numa salinha da Polícia Federal o afeta pouco: o que ele quer é ganhar o debate, manter a aderência de sua narrativa. A prisão, pelo menos para sua seita de seguidores, sustentava a mitologia ridícula do “Mandela brasileiro”. A liberdade o tornará um velhinho briguento e palpiteiro.

Solto, Lula corre mais risco de ser constrangido pelo povo. Imagine a operação que deve ser blindá-lo das vaias e do convívio com brasileiros comuns. Mais cedo ou mais tarde, ele aparecerá na internet escondendo a cabeça diante uma multidão contrariada com a liberdade de um corrupto condenado.

Há algum tempo a esquerda e analistas sobrevalorizam a força de Lula e do PT. Em 2016, durante o impeachment, pareceu uma benção o malabarismo de Ricardo Lewandowski que manteve os direitos políticos de Dilma. Assegurou a ela um cargo de senadora ou governadora, diziam. Mas foi maldição – Dilma ficou num constrangedor, num divertidíssimo quarto lugar na eleição para o senado em Minas Gerais.

Em 2018, achavam que se Lula fosse preso haveria protestos caóticos exigindo sua liberdade. De fato, um mês depois da prisão uma das maiores manifestações da história parou o país. Era a greve dos caminhoneiros, que pedia entre outras coisas intervenção militar, não exatamente a liberdade de políticos. O ex-presidente viveu naquela semana uma relevância tão alta quanto a de figurantes de Malhação.

Agora os analistas sobrevalorizam sua liberdade. “Ele vai reorganizar as esquerdas e prepará-las para 2020”, dizem, “vai iniciar protestos como os do Chile.” Aham.

É verdade que, para o colunismo social da Folha de S. Paulo, Lula voltou com força total. É incrível como esse colunismo está sempre pronto a humanizar o ex-presidente com notícias do tipo “Lula ficou tenso e ansioso”, “Lula quer dialogar” ou “namorada de Lula não vai desgrudar dele”. Dilma, Collor, FHC – as emoções de nenhum outro ex-presidente foram motivo de tanta atenção.

No entanto, tirando as assessorias de imprensa informais, ninguém está dando a mínima a Lula. O ex-presidente saiu da prisão dia 8 de novembro e, desde então, o que fez? Só se escutam notícias sobre seus processos, dos quais ele não vai se livrar.

Melhor ainda, a soltura aqueceu o ódio que boa parte dos brasileiros têm contra ele. A oposição ao PT, que andava meio desunida por causa das fanfarronices do Bolsonaro, está voltando a se abraçar na Paulista. Nada como o ódio (a “agenda negativa”, como dizem os cientistas políticos) para unir pessoas diferentes em torno de um objetivo.

Deixem o ex-presidente solto. Daqui a pouco, até Lula estará cansado de Lula.

Leandro Narloch é jornalista e autor do 'Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil'.

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