MarioSabino

Alexandre, o Grande

01.07.22

No encerramento de mais uma edição do fórum de Gilmar Mendes em Lisboa, o ministro Alexandre de Moraes afirmou: “Tenho certeza de que posso garantir a vocês, falo não só em meu nome, mas no nome do meu futuro vice-presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, que o Brasil sabe como manter a sua democracia e o Poder Judiciário vai permanecer independente, corajoso, competente e destemido”.

A frase de Alexandre de Moraes ocorreu-me enquanto visitava as ruínas da Ágora grega, em Atenas, considerada o berço da democracia ocidental. Admirativo entre uma escultura clássica e outra helênica, entre a Stoa de Atallos e o templo de Hefesto, pensei que os adjetivos “corajoso” e “destemido” são mais apropriados ao comportamento dos gregos nas Termópilas — quando, liderados pelo espartano Leônidas, enfrentaram o poderoso exército de Xerxes, o rei da inimiga Pérsia — do que a decisões de juízes.

Explico: é preciso ser corajoso e destemido diante de gente mais forte, não de gente mais fraca. Como a Justiça, numa democracia plena como a brasileira, é sempre mais forte do que os cidadãos e as instituições a que ela estão submetidos dentro dos limites constitucionais, os adjetivos empregados por Alexandre de Moraes não cabem.

Vou fazer um favor ao ministro — não que ele precise de favor meu, é claro — e elogiar apenas a parte em que o ele diz que o Poder Judiciário brasileiro vai permanecer independente e competente. Se eu pudesse colocar palavras na boca de Alexandre de Moraes, acrescentaria que o Poder Judiciário brasileiro também deveria ser ainda mais justo. E, já que estou tomando liberdades, espero que não passíveis de punições, sugeriria a um dos nossos mais combativos juízes que ele dissesse que prefere “superar os outros no conhecimento do que é excelente do que na extensão do meu poder e domínios”.

A frase é de Alexandre, o Grande, citada na biografia escrita por Plutarco.

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