Reprodução/Facebook/Flávio BolsonaroSantini (à direita): "prospeção de negócios" na capital federal

Chocolate no Planalto

O ex-sócio de Flávio Bolsonaro em uma loja de chocolates no Rio se transfere para Brasília, abre uma empresa obscura e passa a circular pelo submundo dos negócios na capital
06.08.21

Parceiro de Flávio Bolsonaro em uma franquia da rede Kopenhagen no Rio de Janeiro que, sustenta o Ministério Público, era usada para lavar dinheiro do “rachid” operado no antigo gabinete do senador na Assembleia Legislativa local, Alexandre Ferreira Dias Santini se transferiu para Brasília. Hoje, ele ocupa um apartamento de um hotel vizinho ao Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República, e tem participado de encontros com lobistas e políticos nos quais, com frequência, se apresenta como representante dos “interesses” de Flávio. Segundo relatos obtidos por Crusoé junto a fontes a par da atuação de Santini, ele também usa o nome do senador para “prospectar negócios”. O amigo do peito do filho 01 de Jair Bolsonaro chegou sem prezar muito pela discrição. Seu número de telefone é compartilhado sem reservas por gente interessada em se aproximar, por algum motivo, do senador.

As ligações de Alexandre Santini com Flávio Bolsonaro são estreitas e antigas, embora ele tenha ganhado notoriedade apenas na esteira das investigações sobre o rachid, que alcançaram as movimentações financeiras da loja de chocolates da Barra da Tijuca na qual ambos foram sócios por seis anos. A chegada do amigo de Flávio a Brasília foi marcada pelo surgimento de um negócio um tanto obscuro. Ainda no ano passado, ele fundou uma empresa de tecnologia de informação na cidade. Com capital social de 105 mil reais, a Santitech Suporte em Tecnologia da Informação se propunha, no papel, a oferecer “suporte técnico, construção de estações e redes de telecomunicações, instalação e manutenção elétrica e desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis”. A empresa, porém, não durou muito. Misteriosamente, ela foi fechada meses depois de ser registrada na Junta Comercial. No endereço onde a Santitech deveria ter aberto as portas, há apenas um terreno que parece servir de estacionamento. Na vizinhança, ninguém nunca ouviu falar nem da empresa nem do próprio Santini.

O hotel à beira do Paranoá e vizinho ao Alvorada onde o amigo de Flávio mora em Brasília
Nos documentos apresentados aos órgãos públicos, incluindo a Receita Federal, Santini afirma exercer a atividade de empresário em Brasília. Como endereço residencial, ele declara o flat de 46 metros quadrados que ocupa no hotel Golden Tulip, na vizinhança do Alvorada. O apartamento pertence a um consultor que presta serviços para o Fundo Nacional de Educação, o FNDE. No estacionamento do complexo, Santini guarda a SUV Jeep modelo 2021 que comprou já em Brasília – o carro, de 150 mil reais, foi registrado no departamento de trânsito local em julho deste ano.

Pela sua relevância nas investigações que envolvem Flávio Bolsonaro, Alexandre Santini é daqueles personagens que, assim como Fabrício Queiroz, detêm segredos preciosos. De acordo com o MP fluminense, o nome dele foi usado apenas para que Flávio não ficasse sozinho na sociedade da loja de chocolates e para simular a divisão do investimento feito na franquia, cuja origem Flávio não teria como explicar. “Como Flávio e Fernanda (a mulher do senador) não possuíam fontes de receitas lícitas para custear sequer a metade do investimento para aquisição e operação da loja Kopenhagen, a informação de que o administrador Alexandre Santini teria dividido os custos do empreendimento pode ter sido falsamente inserida nos contratos com a finalidade de acobertar a inserção de recursos decorrentes do esquema”, escreveram os promotores.

Lola Ferreira/UOLLola Ferreira/UOLA loja da Kopenhagen que Flávio e Santini mantinham no Rio: para o MP, era lavagem de dinheiro
Santini é apontado pelos investigadores como “laranja” de Flávio. Segundo a apuração, a Bolsotini – razão social da loja, uma junção dos sobrenomes de Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini – foi usada para a lavagem de pelo menos 1,6 milhão de reais obtidos com o “rachid” no antigo gabinete do filho de Jair Bolsonaro na Alerj. A denúncia apresentada pelo MP traz mais detalhes sobre a sociedade. Registra, por exemplo, que o empresário que vendeu a loja a Flávio e Santini declarou ter sofrido ameaças ao tentar denunciar que, sob nova direção, o estabelecimento passou a fraudar notas fiscais. A loja registrava a venda de produtos por valores abaixo do preço de tabela. Panetones que deveriam custar 100 reais, por exemplo, eram vendidos por 80, e a nota fiscal era emitida com valor maior. Tudo, dizem os promotores, para tornar mais eficiente o processo de lavagem de dinheiro.

Em janeiro deste ano, já depois da eclosão do escândalo, Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini abriram mão da franquia. Hoje, a loja é administrada pela empresa que controla a marca Kopenhagen. Quando a dupla se desligou do empreendimento, Santini aceitou assumir futuras dívidas que viessem a surgir. A trama envolvendo a chocolateria ganhou novos capítulos recentemente. Após a revelação, pelo Antagonista, da compra de uma mansão de 6 milhões de reais em Brasília, Flávio afirmou ter usado o dinheiro do encerramento das atividades da loja para pagar uma parte do imóvel. Em outro episódio, investigadores encontraram indícios de que Santini seria um elo entre Flávio e Fabrício Queiroz. Em anotações apreendidas com a mulher de Queiroz, o nome de Santini aparecia entre as pessoas que poderiam ser acionadas caso o ex-assessor de Flávio e operador do esquema “rachid” fosse preso.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéO endereço da empresa de informática: um terreno vazio que serve de garagem
Crusoé tentou falar com Alexandre Santini, mas ele desligou o telefone ao ser indagado sobre suas atividades em Brasília. Já Flávio Bolsonaro, perguntado se autorizou o ex-sócio a usar seu nome em reuniões de negócios na capital e se ambos mantêm algum tipo de parceria, limitou-se a defender Santini: “Alexandre Santini é um amigo de longa data e apenas em função dessa amizade tem sido alvo constante de devassas e perseguições injustas. Seus negócios são legítimos e dizem respeito apenas a ele”.

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