AlexandreSoares Silva

Como melhorar as Olimpíadas

06.08.21

Modalidades em que temos que fazer lobby pra que nunca entrem nas Olimpíadas, porque o Brasil nunca ganharia uma medalha sequer:

Modalidade Pontualidade. Na prova olímpica de Pontualidade tudo o que você tem que fazer para ganhar uma medalha é chegar no estádio às 10:15 da manhã. Se estiver lá nessa hora, pode ir subindo direto no pódio, comemorar etc.

É só isso. Acha fácil? Talvez seja, mas todos os anos veremos atletas brasileiros agarrados às 10:16 nos portões do estádio, chorando e talvez rolando no chão de tanta angústia. Se prepararam duramente durante quatro anos, e viajaram com muito sacrifício para o país que sedia as Olimpíadas, mas dormiram demais. Entrevistados por jornalistas do mundo inteiro, culparão o despertador, o ônibus, as mães. “Fui primeiro no estádio errado” etc. Pedirão segundas chances. No final das entrevistas, dirão: “Bom, o negócio agora é esperar mais quatro anos, né”, e irão para os seus quartos de hotel maratonar séries de qualidade duvidosa.

Modalidade Não Colocar Leite Condensado nos Doces: confeiteiros são colocados na frente de mesas no centro do estádio, e ficam fazendo doces de várias nacionalidades enquanto os atletas olímpicos se aproximam deles segurando latas abertas de leite condensado. Tudo o que os atletas têm que fazer pra ganhar medalha é não colocar leite condensado nos doces.

Isso é fácil para atletas do mundo inteiro, mas os brasileiros não conseguem. Para resistir ao impulso de virar a lata direto na panela dos confeiteiros, os atletas brasileiros treinaram todos os dias durante anos. Chegaram a desenvolver músculos monstruosos do trapézio e das costas, para manter, na base da força física, os braços bem pra trás o tempo todo; mas uma vez na frente das vasilhas de ganache, tarte tartin e crème brûlée, eles sempre acabam virando a latinha. Ao ver isso, seus técnicos se desesperam, caem no chão. Enquanto isso, atletas de outras nacionalidades ganham pilhas e pilhas de medalhas. Mas essa é uma prova que praticamente só vai existir pra eliminar brasileiro.

Modalidade Crase: frases em português são escritas com enormes letras de isopor no centro do estádio, e os atletas têm que colocar os acentos indicativos de crase – espetando, ou não, uma lança de madeira no lugar apropriado das letras “a“. Portugueses terão óbvia vantagem competitiva. Mas brasileiros vão confiar demais na velha técnica de enfiar crase em toda letra “a” que encontram pela frente, como sempre fizeram, e nunca ganharão medalha nenhuma.

Uma proposta modesta para a organização das Olimpíadas: em cada Olimpíada, todos percebemos que um dos problemas que se repetem é a rapidez com que são dadas as notas a cada atleta. São julgados em poucos segundos! Sabemos na mesma hora quem venceu! Que palhaçada é essa? Isso dá ao procedimento um ar de facilidade e simplicidade que, pelo menos para um brasileiro, estraga o espetáculo.

Minha proposta é simples: encarregar o julgamento dos atletas a brasileiros, especialmente despachantes e donos de cartórios. Vamos imaginar, por exemplo, a corrida de obstáculos. Com juízes brasileiros, cada vez que um corredor saltasse um obstáculo não poderia continuar correndo para o próximo, assim como se não fosse nada. Ele teria que saltar o obstáculo, parar e provar a um juiz que saltou o obstáculo, indo a um cartório improvisado numa tenda ao lado da pista e autenticando fotos e vídeos do seu salto (com duas testemunhas). As filas certamente seriam rápidas. Nada disso duraria mais que uns poucos minutos – nenhuma desculpa para não fazer! Uma vez munido dos documentos, ele receberia um alvará do juiz principal, que seria checado pelos juízes auxiliares; retornaria ao ponto da corrida em que parou, e continuaria a correr, pronto a saltar o próximo obstáculo (e de novo iria pro cartório e assim por diante).

Uma modalidade em que o Brasil ganharia muitas medalhas: dar a volta olímpica de chinelo, segurando uma latinha de Skol e um cigarro na mesma mão. É um esporte em que temos tradição: todos os anos vemos brasileiros dando uma corridinha similar no trajeto entre o carro e a praia, o carro e o churrasco etc. Atletas de outras nacionalidades se sentiriam tão atingidos na sua dignidade ao ter que usar esses acessórios, que logo simone-bilesiariam a competição, mas os brasileiros dariam voltas olímpicas nessas condições com muita naturalidade, até parando de vez em quando para beber a sua cerveja de milho quente e fumar o seu cigarro em paz. É como se já tivessem nascido fazendo isso. (E pegando dengue.)

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