Os aiatolás encaram Trump
Ao retirar os Estados Unidos do acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã, em maio do ano passado, o presidente americano Donald Trump anunciou que pretendia costurar um novo pacto, ainda melhor, capaz de coibir os testes de mísseis e as operações terroristas realizadas com apoio dos iranianos em outros países. Nos últimos dias, Trump insistiu na questão: “O que eles quiserem fazer, estou pronto”. Com o objetivo de empurrar o Irã para a mesa de negociações, ele decretou mais sanções econômicas. Além disso, na quinta-feira, 20, logo após um drone americano ter sido abatido por Teerã, o presidente americano ordenou um ataque aéreo contra três alvos iranianos, que incluíam radares e baterias de mísseis, mas cancelou a decisão dez minutos depois ao saber que a ofensiva poderia deixar uma centena e meia de mortos. Um ataque cibernético foi desferido e, na segunda-feira, 24, novas sanções foram aplicadas.
Por tabela, o grupo libanês Hezbollah, financiado pelo Irã, também sentiu o aperto. Os terroristas estão recebendo metade do salário e as contratações estão suspensas. “As sanções de Trump minaram a capacidade de o Hezbollah operar no Líbano e receber apoio financeiro do Irã. Ficou muito mais difícil para o grupo realizar transações bancárias, por exemplo”, diz Richard Nephew, diretor do Centro de Políticas Energéticas Globais da Universidade Columbia e autor do livro A arte das sanções.
Rouhani tomou posse em 2013 com o propósito de fechar o acordo com as potências mundiais e, com isso, impulsionar a economia. “Diversos ministros escolhidos por ele tinham graduação e pós-graduação nos Estados Unidos. Para Rouhani, a aproximação com o Ocidente era algo certo”, diz o iraniano Flavio Rassekh, representante da ONG United4Iran no Brasil. Em 2015, Rouhani chegou a gozar de uma aprovação popular em torno de 61%, segundo o instituto de pesquisas IranPoll, com sede em Toronto, no Canadá. Depois da entrada de Trump no jogo, agora só 20% dos iranianos o veem positivamente. Com as vias diplomáticas fechadas, o presidente passou a replicar os impropérios dos antiamericanos mais coléricos de seu país.
Por mais de um ano, os iranianos aguardaram na esperança de que o acordo de 2015 conseguisse sobreviver de alguma maneira. Em maio, a paciência esgotou-se. Teerã anunciou que, em julho, ultrapassará o limite estabelecido pelo acordo para a produção de urânio enriquecido, a matéria-prima da bomba atômica. Dentro de um ano, se não forem impedidos, os iranianos já poderão ter acumulado quantidade suficiente para a fabricação de um artefato nuclear. Os aiatolás encaram Trump, com consequências imprevisíveis.
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