IRNAO líder supremo Ali Khamenei: alvo de sanções, ele controla 95 bilhões de dólares no Irã

Os aiatolás encaram Trump

Sanções americanas afetam a economia do Irã e o Hezbollah e deixam os iranianos mais agressivos. A produção de urânio enriquecido ultrapassará em julho o limite estabelecido pelo acordo do qual Trump saiu
28.06.19

Ao retirar os Estados Unidos do acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã, em maio do ano passado, o presidente americano Donald Trump anunciou que pretendia costurar um novo pacto, ainda melhor, capaz de coibir os testes de mísseis e as operações terroristas realizadas com apoio dos iranianos em outros países. Nos últimos dias, Trump insistiu na questão: “O que eles quiserem fazer, estou pronto”. Com o objetivo de empurrar o Irã para a mesa de negociações, ele decretou mais sanções econômicas. Além disso, na quinta-feira, 20, logo após um drone americano ter sido abatido por Teerã, o presidente americano ordenou um ataque aéreo contra três alvos iranianos, que incluíam radares e baterias de mísseis, mas cancelou a decisão dez minutos depois ao saber que a ofensiva poderia deixar uma centena e meia de mortos. Um ataque cibernético foi desferido e, na segunda-feira, 24, novas sanções foram aplicadas.

Casa BrancaCasa BrancaTrump assina nova rodada de sanções contra o Irã: PIB este ano deve cair 6%
Até agora, o certo é que o impacto das sanções sobre a economia do país é dramático. Empresas ocidentais como Boeing, Airbus, Total, Renault e Peugeot, que aproveitaram o acordo feito pelo ex-presidente americano Barack Obama com Rússia, China, França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia, em 2015, rapidamente tiveram de voltar atrás nos seus negócios com o Irã. Como Trump proibiu os aliados de importar petróleo do rival, o país que vendia 2,5 milhões de barris por dia agora só exporta 300 mil barris diários. Este ano, o PIB deve cair 6% e a inflação se aproxima dos 40% anuais.

Por tabela, o grupo libanês Hezbollah, financiado pelo Irã, também sentiu o aperto. Os terroristas estão recebendo metade do salário e as contratações estão suspensas. “As sanções de Trump minaram a capacidade de o Hezbollah operar no Líbano e receber apoio financeiro do Irã. Ficou muito mais difícil para o grupo realizar transações bancárias, por exemplo”, diz Richard Nephew, diretor do Centro de Políticas Energéticas Globais da Universidade Columbia e autor do livro A arte das sanções.

ReproduçãoReproduçãoTerroristas do grupo Hezbollah, no Líbano: salários caíram pela metade
Uma das decisões de Trump foi bloquear o acesso do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, a recursos no exterior e punir qualquer instituição que desobedeça a essa ordem. Khamenei controla um império financeiro de 95 bilhões de dólares. O patrimônio pertence à empresa Setad, a Sede para a Execução da Ordem do Imã, e foi formado a partir do confisco de propriedades de iranianos comuns, membros de minorias religiosas, muçulmanos xiitas e empresários. Mas Khamenei raramente sai do país e não tem ativos no exterior. O presidente do Irã, Hassan Rouhani, contra-atacou. “Nossos líderes não são como os de outros países, que mantêm contas de bilhões no exterior, que você pode sancionar, pegar ou bloquear”, disse Rouhani. “A Casa Branca está sofrendo de deficiência mental. Eles não sabem o que deve ser feito.”

Rouhani tomou posse em 2013 com o propósito de fechar o acordo com as potências mundiais e, com isso, impulsionar a economia. “Diversos ministros escolhidos por ele tinham graduação e pós-graduação nos Estados Unidos. Para Rouhani, a aproximação com o Ocidente era algo certo”, diz o iraniano Flavio Rassekh, representante da ONG United4Iran no Brasil. Em 2015, Rouhani chegou a gozar de uma aprovação popular em torno de 61%, segundo o instituto de pesquisas IranPoll, com sede em Toronto, no Canadá. Depois da entrada de Trump no jogo, agora só 20% dos iranianos o veem positivamente. Com as vias diplomáticas fechadas, o presidente passou a replicar os impropérios dos antiamericanos mais coléricos de seu país.

DivulgaçãoDivulgaçãoO presidente Rouhani com Ali Khamenei (dir.): nada de negociar com os EUA
Ainda assim, na disputa com os americanos, o regime dos aiatolás conta com o apoio da maior parte da população do país. “A opinião desfavorável aos Estados Unidos está em 81%, o que é um recorde histórico em uma década”, diz Amir Farmanesh, diretor da IranPoll. “A maioria dos iranianos culpa os americanos pela lentidão no comércio internacional e no investimento estrangeiro, ainda que entendam que os problemas econômicos sejam fruto da corrupção do governo e da má-gestão interna”.

Por mais de um ano, os iranianos aguardaram na esperança de que o acordo de 2015 conseguisse sobreviver de alguma maneira. Em maio, a paciência esgotou-se. Teerã anunciou que, em julho, ultrapassará o limite estabelecido pelo acordo para a produção de urânio enriquecido, a matéria-prima da bomba atômica. Dentro de um ano, se não forem impedidos, os iranianos já poderão ter acumulado quantidade suficiente para a fabricação de um artefato nuclear. Os aiatolás encaram Trump, com consequências imprevisíveis.

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