Luis Macedo/Câmara dos DeputadosElmar Nascimento, do DEM bolsonarista: a quase perfeita expressão da satisfação na base aliada

Toma lá dá cá 4.0

Não é só distribuição de verba: agora o governo também flexibiliza suas raras convicções para atender ao lobby de parlamentares aliados
28.05.21

A generosa oferta de cargos e emendas a aliados para garantir a sobrevivência política de Jair Bolsonaro já não é mais a única modalidade de toma lá dá cá adotada pelo presidente. Para atender a base no Congresso Nacional e cumprir acordos políticos com o Centrão, o Planalto agora apoia projetos duvidosos, mas que são convenientes aos parlamentares – mesmo que, para isso, tenha de dar uma guinada em posições tomadas pelo próprio governo pouquíssimos meses antes. Foi o que aconteceu durante a tramitação da medida provisória da privatização da Eletrobras, aprovada na semana passada: um projeto de interesse dos deputados foi incluído na MP por meio de uma emenda-jabuti, como são chamadas as propostas sem nenhuma relação com a matéria original que está sendo votada. Na maioria das vezes, os jabutis são enfiados no texto espertamente por deputados ou senadores para obtenção de alguma vantagem que, não raro, não é possível ser decifrada a olho nu. Dessa vez, o Planalto não apenas tinha conhecimento do contrabando como emitiu sinal verde para fazê-lo avançar.

Entre os pontos inseridos pelo relator da proposta, o deputado Elmar Nascimento, do DEM da Bahia, está a obrigatoriedade de contratação de termelétricas movidas a gás natural, de custo altíssimo e viabilidade controversa. Como o tema é árido e as minúcias técnicas parecem grego aos ouvidos dos leigos, a proposta passou despercebida. Crusoé se debruçou sobre o assunto para mostrar os interesses por trás da aprovação da emenda que provocou a surpreendente mudança de posição do Planalto e como o cidadão corre o risco de ter de pagar a conta que vem junto com a trama.

Para entender o que envolveu a aprovação do jabuti incluído na MP da privatização da Eletrobras, é preciso voltar a março deste ano. Há dois meses, o cenário era outro. Durante a tramitação da nova Lei do Gás, quando o assunto foi amplamente debatido, ministros e representantes do governo no Legislativo rejeitavam de forma enfática a proposta de Elmar.  “Elas (as termelétricas) custam muito caro e encarecem a conta de luz de cada brasileiro, porque as usinas térmicas só são usadas quando a energia hídrica está no período de baixa, de seca. Então, não é possível onerar todos os contribuintes por isso”, afirmava, em 16 de março, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, do Progressistas. Em linha com o argumento de Barros, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, do MDB, chegou a fazer um cálculo: disse que a iniciativa elevaria em até 24% a conta de luz dos brasileiros, e por isso era deletéria ao país. Segundo Bezerra, o Ministério de Minas e Energia e o da Economia compartilhavam do mesmo entendimento. Com o voto contrário e o posicionamento firme do governo, a ideia das termelétricas acabou rejeitada.

DivulgaçãoDivulgaçãoA sede da Eletrobrás: “jabuti” do Centrão deve encarecer conta de energia
De março para cá, no entanto, entrou em cena um conhecido personagem de quem o governo depende quando precisa aprovar projetos de seu interesse ou quer engavetar iniciativas que o contrariam, como pedidos de impeachment: o presidente da Câmara, Arthur Lira. Considerando-se credor de Jair Bolsonaro, Lira passou a atuar junto ao Planalto para virar o jogo em favor da emenda. Crusoé apurou que Lira precisava quitar uma dívida política da campanha à presidência da Câmara com o autor do jabuti das termelétricas, Elmar Nascimento – e, logicamente, como ele foi o candidato do Planalto ao comando da casa, o líder do Centrão entendeu que essa era uma dívida que o governo também tinha de ajudá-lo a saldar.

Elmar Nascimento teve papel preponderante para o triunfo de Lira na disputa de fevereiro. Abandonou o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do seu partido, e a candidatura de Baleia Rossi, do MDB, e decidiu apoiar o deputado do Progressistas, levando consigo uma parte expressiva do DEM, numa costura da qual também participou o presidente nacional da sigla, ACM Neto. A partir daí, a vitória do candidato do Planalto foi sacramentada. A aprovação da emenda foi a forma encontrada por Lira para retribuir o importante gesto político do parlamentar baiano.

O projeto em favor das termelétricas é uma espécie de obsessão de Elmar Nascimento, desde o início dos debates sobre a Lei do Gás no Congresso. O deputado, segundo denunciaram parlamentares durante a tramitação da MP da Eletrobrás, teria atuado em sintonia com um megaempresário de seu estado, Carlos Suarez, ex-OAS e dono de um império no setor de distribuição e transporte de energia no país. O empresário baiano tem licenças de distribuição em unidades da federação em que o gás encanado ainda não decolou, principalmente no Norte e no Centro-Oeste. A implantação de termelétricas seria uma chance de viabilizar a construção de uma rede de gasodutos capaz de impulsionar essas empresas.

O deputado Glauber Braga, do PSOL, chegou a dizer no plenário da Câmara que Elmar teria jantado com Suarez às vésperas da votação. “Isso é mais do que um jabuti. Trata-se de uma fraude, de crime”, afirmou Braga. O deputado do DEM reagiu às acusações sem desmentir o jantar. “Eu conheço o empresário Carlos Suarez, a Bahia inteira o conhece, talvez o Brasil. Quem é que já não conversou ou que foi procurado por qualquer tipo de empresário? Recebi a todos”, afirmou. O Partido Novo, histórico defensor das privatizações, se recusou a votar a proposta devido à inclusão da emenda. Deputados da legenda disseram que a finalidade da medida foi “atender interesses políticos e de organizações”. Crusoé, Nascimento tentou justificar a guinada do governo. “Ocorreu a pior crise hídrica dos últimos tempos. Se houver crescimento a partir de agora, não há energia suficiente. O governo percebeu isso.”

Segundo a Associação dos Grandes Consumidores de Energia, quem vai pagar a conta final é o consumidor. A entidade diz que a contratação de termelétricas vai custar 20 bilhões de reais por ano, o que representará uma alta de 20% na tarifa para a indústria e 10% para os consumidores residenciais. O secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo MacCord, rebate as críticas. “Você pode até questionar o instrumento (a emenda jabuti), dizer que não precisaria estar em lei, mas é um preciosismo que talvez não faça sentido neste momento, porque estamos falando da maior privatização da história do setor elétrico, tentada sem sucesso há 25 anos”, diz. MacCord afirma ainda que haverá substituição de termelétricas a óleo diesel, bem mais caras, e por isso a conta de luz, segundo ele, cairá, ao contrário do que estima o setor produtivo.

A medida provisória aprovada na Câmara seguiu para o Senado como projeto de lei de conversão, que será discutido na casa enquanto todas as atenções estão voltadas para a CPI da Covid. Nesse intrincado jogo de interesses, marcado por guinadas de posições do Planalto e lobbies poderosos, o governo mostra que o toma lá dá cá para garantir apoio político no Congresso pode assumir várias facetas.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Algumas reportagens, tenho que lê-las por partes, porque me embrulham o estômago. O Brasil nunca vai chegar ao 1o. Mundo enquanto grande parte dos políticos for do submundo...

  2. Vai faltar energia elétrica, todos sabem ! O governo é economico, tanto que cortou 10 bilhões de outras emendas, mas não é burro! AInda pode ser flexibilizada a obrigação, a crítica é interessante estamos num país democrático.Mas pré julgar não é democracia.

  3. De início já há uma controversa colocação pq antes de criticar precisamos fazer um elogio afinal se elas se mostrarem viáveis ecologicamente serão melhores afinal substituirão o diesel, e quanto ao empresário qual foi o mal, comprou a emenda, os votos

  4. A ONS decide quando despachar as unidades contratadas considerando basicamente a disponibilidade hídrica regional. Precisamos estabelecer bases legais competitivas pra atrair investimentos privados na geração fotovoltaica residencial - geração distribuída, que poderia contribuir pra reduzir o despacho das termoelétricas a gás ou diesel, mais caras pro consumidor

  5. Até quando esse oportunista vai continuar ? Aparelhou os 3 poderes ,acabou com a ética e a decência ,que ainda existiam e tem agora o exército comprado ao seu lado ,assim como os piores corruptos do congresso e prestes a dominar o STF 🤮🤮🤮

  6. Donde se conclui que, no Bananão, aquilo que sempre foi objeto de veladas negociações (mas que sempre se soube ser explícito), continua a ser a mesma coisa, só que agora se estampa na cara e se escancara o objeto do desejo que atende apenas aos que desejam que o desejo se concretize, como sempre às custas dos otários que vão pagar a conta e apagar a luz pra economizar e fortalecer as burras dos magnatas da sacanagem...

  7. Senador Rodrigo Pacheco, no comando do senado e esperança de novos ares na política, tem o poder de salvar o empobrecido povo brasileiro do assalto que esse VERGONHOSO JABUTI, mais um desse governo incompetente, refém do malfadado centrão, que só patrocina desgraças...

    1. Pois bem, o Novo está de parabéns pela coerência em ter votado contra. O único partido que de fato pensa no país!

    1. Assim é, e sempre será! Os "pais da Pátria" estão com a faca e o queijo na mão!

  8. Como sempre olhando as coisas pelo lado errado, o raciocínio é temos que subtituir o óleo diesel por gás, custe o que custar, com o tempo o gás será mais barato, o gás é o futuro.

  9. A reportagem liga um nada a lugar algum... Cheia de fantasias, futurologia, presunções... Não sei porque ainda leio matéria dessa moça.

    1. Bolsonarista culpando o próprio cérebro de não entender nada e falar mal da reportagem.

    2. Se tem deficiência em interpretação de texto, vai ler gibi, tem figurinhas, é mais fácil.

  10. Este presidente corrupto e o Congresso Nacional vão afundar o Brasil e não demora, a inflação retornar galopante. Infelizmente, os interesses políticos sobrepondo aos interesses da população. Acorda povo!!!!

  11. O brasil não é um país, é um circo. Esse malfadado Centrão e uma usina de corrupção. O sistema é corrupto e para consertá-lo é preciso do voto de muitos corruptos. Sabe quando será consertado????

  12. Este Sr é o típico estereótipo do político brasileiro, entrou na política para enriquecer, atua pelos bastidores na defesa de interesses escusos, não está nem aí para os consumidores, engordou de tanto comer em restaurantes caros, bebe whisky rindo da cara do povo e vive articulando qual será o novo golpe.

  13. os EXEMPLOS EXCECRÁVEIS que uma SOCIEDADE tão CORRUPTA é capaz de produzir! São DEGENERADOS MORAIS que IMPEDEM o BRASIL de AVANÇAR! Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” Triunfaremos! Sir Claiton

Mais notícias
Assine agora
TOPO