LeandroNarloch

As leis fundamentais da estupidez política

10.07.20

A estupidez dos políticos brasileiros não é aleatória, não ocorre ao acaso. Segue padrões de comportamento que precisamos diagnosticar e descrever. Abaixo estão cinco de muitos deles; o leitor fique à vontade para sugerir outros nos comentários.

1) Quanto mais sensato um candidato a presidente, menores são suas chances de ganhar a eleição.

Meu colega Ruy Goiaba escreveu um texto tocante aqui na Crusoé semanas atrás. “Só queria que meu país parasse, uma vez na vida, de votar em gente que só falta circular por aí ostentando um luminoso de neon piscante com a palavra BURRO na testa”, disse.

É difícil realizar esse desejo porque o brasileiro, se tem alguma ideologia, é a da rejeição completa à entediante sensatez política. Veja o caso de Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e João Amoêdo. Não, nenhum deles é um Winston Churchill. Mas pelo menos sabem usar os talheres, entendem que não se pode gastar mais do que se arrecada. Resultado? Somados não tiveram 9% dos votos em 2018.

2) Independente da natureza do problema, parlamentares sempre tentarão resolvê-lo com avisos obrigatórios a serem fixados na parede.

Quem mora em São Paulo está acostumado com o Mesmo, um indivíduo singular cuja presença precisamos verificar sempre que entramos num elevador. É o que recomenda o cartaz exigido por uma lei municipal: “Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Os comerciantes paulistas são obrigados a fixar outros quinze cartazes na parede, todos com recomendações bastante surpreendentes e desconhecidas: “lave as mãos”, “o fumo é prejudicial à saúde”, “sonegar é crime”, “Procon Disque 151”, “gestantes têm preferência”.

É assim no Brasil todo. Vereadores e deputados estaduais têm uma visão um tanto mística dos problemas sociais. Acreditam que basta fixar palavras na parede e (mágica!): o problema se resolverá.

3) O ‘neoliberalismo’ será considerado culpado por todos os problemas passados e futuros.

Tragédia da Samarco, epidemia, crise nos aeroportos, violência das favelas: é tudo “culpa do neoliberalismo”, do “desmonte do estado”, da “perda de direitos garantidos”. A sociologia para explicar já está empacotada, pronta para se encaixar nos problemas do futuro.

4) Qualquer protesto de rua, por mais sensato que seja, acabará dominado por estúpidos.

Como protestos acontecem na rua, não é possível restringir a entrada de quem tem QI baixo e alto potencial de sabotagem. E assim manifestações muito justas, em defesa de causas nobres e necessárias, caem diante da invasão de energúmenos.

Começa como um protesto contra o machismo. Termina com idiotas enfiando crucifixos naqueles lugares. Poderia ser um protesto contra o autoritarismo do STF e a judicialização da política. Vira manifestação de idiotas pedindo intervenção militar. Começa como um protesto contra o racismo. Termina pedindo a derrubada de estátua do século 17.

5) Todo presidente acredita que ao sobrevoar áreas atingidas resolverá estragos causados por tragédias.

Não há motivo para se preocupar com enchentes, desabamentos, rompimentos de barragens ou ciclones no Brasil. Quando isso acontecer, o presidente do momento vai sobrevoar a área de helicóptero. Posará para o fotógrafo oficial olhando com consternação a tragédia lá embaixo. E assim os problemas serão solucionados.

Pelo menos é nisso que os últimos presidentes parecem acreditar. Lula sobrevoou enchentes em Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Maranhão e Piauí; Bolsonaro só este ano sobrevoou Minas Gerais e Santa Catarina; Dilma passeou pela serra fluminense, Mariana, Paraná e Rio Grande do Sul. Michel Temer, em seu curto mandato, sobrevoou alagamentos no Rio Grande do Sul e Alagoas, e até mesmo as áreas de atuação das tropas federais do Rio de Janeiro.

Depois dessas visitas tudo foi resolvido, não?

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