Carlos Fernandodos santos lima

A destruição do Brasil

05.03.21

Até quando Bolsonaro incentivará a morte de tantos brasileiros apenas para fazer política e satisfazer sua ignorância e a da horda que o apoia? Por quanto tempo suportaremos a louca escalada de nossos políticos na destruição das leis e da ética para se apropriarem do poder, do dinheiro e dos bens públicos? A que extremos alguns ministros do Supremo Tribunal Federal chegarão para defenderem o status quo da qual se originaram? Considerando a audácia de nossas “elites” políticas, será que Nelson Rodrigues estava certo em dizer que o “mundo estaria salvo se os homens de bem tivessem a mesma ousadia dos canalhas”?

Meus caros leitores, o Brasil está fedendo com essa desenvoltura dos maus, pois os canalhas descobriram que ninguém os pode deter e, como ratos, tiraram seus disfarces ou saíram de seus esconderijos, eriçando com orgulho sua suja pelagem. Aquilo que era para evitar o abuso do poder, como o sistema de freios e contrapesos previstos na Constituição, transformou-se em um arremedo, uma farsa, pois Jair Bolsonaro comprou a presidência da Câmara dos Deputados para Arthur Lira, que por sua vez impede qualquer processo de impeachment contra o próprio presidente, assim como o Senado faz com as denúncias contra ministros do Supremo, os quais, convenientemente, arquivam acusações substanciais de corrupção. O sistema que prevalece hoje não é mais aquele da Constituição, mas, sinteticamente o de “uma mão lava a outra e as duas lavam a cara”.

Enquanto isso, alguns jornais embarcam felizes em campanhas de comunicação difamatórias contra a Lava Jato, requentando material ilícito, sem qualquer comprovação de veracidade, picotando supostas conversas para satisfazer o seu interesse político a favor de Lula. Ao mesmo tempo o Conselho Nacional do Ministério Público avança na perseguição contra Deltan Dallagnol, numa vingança planejada por Renan Calheiros e seus asseclas, buscando tornar sua punição um exemplo para calar definitivamente o Ministério Público; e órgãos do estado como a Abin e a Polícia Federal são aparelhados para satisfazer interesses políticos e familiares do presidente da República. Completando todo este enredo, o Tribunal de Contas da União pede acesso às mensagens roubadas para investigar o ex-juiz Sergio Moro, como se uma corte de contas tivesse competência para julgar atos de natureza jurisdicional.

Não bastasse a sanha persecutória contra pessoas ligadas ao combate à corrupção, especialmente contra aqueles que participaram da Operação Lava Jato, agora também esses mesmos roedores alongam suas garras contra pessoas comuns, usando para isso toda desfaçatez de quem já não se importa mais em cobrir as pegadas de seus malfeitos. O pedido da Câmara dos Deputados para que o STF prenda o comediante e apresentador Danilo Gentili por ter dito que a população deveria socar deputados por causa da PEC da Impunidade é algo completamente inconstitucional, pois aquele tribunal não tem qualquer competência para analisar condutas de particulares, mesmo que ilícitas ou criminosas. Goste-se ou não da sugestão de Gentili, só a ideia de que podemos calar pessoas comuns passando por cima das leis já demonstra o grau de deslegitimação e ignorância de nossa classe política.

Não fosse somente a ética, coisa que nunca foi exatamente uma real preocupação de nossa classe política, estamos regredindo também em todos os indicadores de progresso, sejam eles legais, sociais e econômicos. Enfrentamos um ataque às leis que impedem que o estado seja apenas o butim de interesses privados, de piratas políticos profissionais e de grupos econômicos incapazes de viver em um ambiente de livre mercado. Os limites impostos pela Lei da Ficha Limpa, pela Lei de Responsabilidade Fiscal e pela Lei de Improbidade Administrativa estão na mira do destrutivo avanço da rataria, que deseja a volta da livre corrupção do governo Lula, daquele propinoduto sistematizado, contabilizado e organizado que resultou em bilhões de prejuízos para o bolso dos brasileiros, uma vez que o estado é uma ficção que se sustenta com nosso suor e trabalho.

Na economia não é diferente, pois a promessa de um estado menor feita por Bolsonaro sempre foi uma mentira. Ele é um mau político de origem sindical, um militar expulso do Exército desonradamente, alguém acostumado a viver como um chupim do setor público. Para ele nunca houve nenhuma bandeira real de campanha salvo a de si mesmo e a da família. Aproveitou-se da Operação Lava Jato para se dizer mentirosamente contra a corrupção, bem como, para agradar a uma parcela da população, abraçou falsamente um ideário liberal. Por tudo, Bolsonaro é apenas um oportunista consumado. Entretanto, ao contrário dos deslizes éticos e legais de nossa elite, em relação aos quais o nosso sistema é incapaz de fazer justiça, a economia pune os erros de modo inexorável. E é o que estamos vivendo.

Imagine-se seguindo uma receita dia após dia sempre com o mesmo resultado errado. E no dia seguinte, mesmo com tudo e todos apontando o seu erro, você prefere novamente seguir o mesmo desacerto na esperança mágica de que o resultado será diferente. O que me parece um pesadelo é, para muitos, inclusive nosso presidente, o pensamento mágico de que tudo vai dar certo mesmo se cometermos os mesmos erros do passado. Basta, acreditam eles, desejarem que as coisas sejam diferentes e, “voilà“, tudo se realiza como num truque de circo. Só que não, pois a realidade, especialmente na economia, não se conforma à vontade. Erros nunca se transformarão em acertos só porque são feitos por Lula, Dilma ou Bolsonaro.

Assim é o caso recente da Petrobras. Após os escândalos de corrupção desvendados pela Operação Lava Jato no interior da estatal – e não somente dela, diga-se – e as seguidas intervenções equivocadas da presidente Dilma, a nossa companhia de petróleo encontrava-se no caminho do saneamento financeiro. Uma política saudável de preços, como em qualquer caso de commodities, é regulada pelo mercado. Entretanto, em uma situação de descalabro econômico que resulta em um dólar valendo mais de 5,50 reais, em meio a uma epidemia mortal em que o governo federal age de modo criminosamente omisso, não há como segurar o valor dos derivados do petróleo sem sangrar a empresa. Já vimos isso com Dilma, sem bons resultados, e vemos agora com Bolsonaro. Ambos, com o mesmo parco entendimento econômico, só poderiam levar ao desastre. E em economia, como na saúde pública, o desastre vem.

O povo francês revoltou-se contra a falta de pão e liberdade. O povo americano revoltou-se contra a opressão e a tirania. Mas nós, brasileiros, que como povo temos o direito inalienável de nos revoltarmos, agimos como gado indo para o abate. Com certeza os grupos que apoiam Bolsonaro, de um lado, e Lula, do outro, desejam a manutenção dessa situação, pois se apoiam uns nos outros para se manterem politicamente vivos. Só há uma saída: revoltarmo-nos como em 2013, forçando que a rataria volte para dentro de suas tocas, amedrontada.

Precisamos reconstruir um espaço público de sensatez, de diálogo e de consenso mínimo entre as pessoas de boa vontade, que são a maioria – infelizmente silenciosa. Precisamos de candidatos com capacidade de tomar decisões difíceis e impopulares, mas necessárias. Precisamos reestruturar nossas leis para que punam, com cadeia e perda dos direitos políticos, todos os corruptos e ladrões que infestam os palácios. Precisamos restabelecer a autonomia das instituições, livrando-as da influência do poder econômico. Seja quem for o candidato que tenha a audácia de defender o certo e o bom senso, não importa se de centro-direita ou centro-esquerda, e que tenha a ousadia de se contrapor vitoriosamente a Lula e Bolsonaro, já estaremos melhor do que hoje.

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