MarioSabino

Não vale sequestrar a liberdade de imprensa

24.01.20

A censura nunca termina para aqueles que já a experimentaram. A frase é da escritora sul-africana Nadine Gordimer. Já experimentei a censura, juntamente com os meus colegas de Crusoé e O Antagonista, quando Alexandre de Moraes mandou retirar do ar a reportagem O amigo do amigo de meu pai, sobre o codinome de Dias Toffoli no email de Marcelo Odebrecht. Não satisfeito, o censor me intimou a prestar depoimento na Polícia Federal. Na mesma Superintendência em São Paulo, em 2008, fui indiciado por defender jornalistas da Veja que haviam sido intimidados por um delegado. Eles haviam revelado bastidores do episódio do dossiê dos aloprados, e o delegado queria saber quais eram as fontes da reportagem. Os democráticos Lula e Vagner Freitas, presidente da CUT, também quiseram me levar para delegacias, por causa de matérias de O Antagonista. Bem antes de ser condenado, Lula acusou o site de ser uma associação criminosa porque mostrávamos exatamente o que ele era: um chefão corrupto e lavador de dinheiro. Sei por experiência própria o que é censura e intimidação judicial.

Peço desculpas aos leitores que devem estar cansados de ler sobre tais episódios. É que Nadine Gordimer, morta em 2014, tem razão: a censura nunca termina para aqueles que já a experimentaram, e isso está longe de ser mimimi, como dizem atualmente. É uma atrocidade investir contra a liberdade de expressão, opinião e informação. É uma violência usar da intimidação judicial contra quem quer que seja, em especial quando se veste toga ou beca. Ter sofrido censura e intimidação não me torna herói ou mártir. Mas me deixou marcado e me dá muita tranquilidade para afirmar que Glenn Greenwald não foi alvo nem de uma coisa nem de outra.

No seu site especializado em publicar produtos de roubo cibernético, o Intercept, ele divulgou mensagens hackeadas da Lava Jato, com o objetivo confesso de desacreditar a Operação e tirar Lula da cadeia. Espertamente, lavou o material pilhado na Folha de S.Paulo e na revista Veja. O site do autodeclarado jornalista e esses veículos foram censurados prévia ou posteriormente? Não. Foram proibidos de fazer ilações despropositadas dos diálogos entre os procuradores? Não. Ele está sendo impedido de escrever ou falar o que quer que seja neste momento? Não. Viu-se até blindado por Gilmar Mendes — que, descobre-se agora, foi também hackeado e, na condição de vítima do crime, não poderia julgar nada em relação ao caso, por impedimento legal.

Um dia antes de ser denunciado pelo procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, Glenn Greenwald sentiu-se suficientemente livre, inclusive, para usar as mensagens roubadas a fim de violar o sigilo de fonte de jornalistas de O Antagonista. Cometeu a infâmia para vilipendiar o site, apesar de ter publicado diálogos que mostram apenas como meus colegas Diogo Mainardi e Claudio Dantas agiram de acordo com os procedimentos mais comezinhos do jornalismo. Compreende-se o factoide. Para além da má intenção, Glenn Greenwald não sabe nada de investigação jornalística, é mero copista de documentos e mensagens hackeadas. Acha que ganhou certificação profissional por causa dos prêmios que recebeu no seu país. Prêmios que passaram a ser dados a gente de esquerda por gente de esquerda para fazer propaganda de gente de esquerda — e, assim, tentar legitimar distorções e contrafações. “Glenn Greenwald ganhou o Pulitzer e você não ganhou nada, invejoso”, dizem os petistas aos jornalistas que se recusam a cair na esparrela do Intercept. Acho a maior graça no provincianismo.

O que não tem graça nenhuma é participar de gatunagem. É essencial que se frise que Glenn Greenwald não foi denunciado por publicar as mensagens roubadas e, desse modo, buscar anular as condenações do chefão Lula e os seus comparsas. Ele foi denunciado porque teria se acumpliciado com os hackers estelionatários. Jornalistas correram para dizer que a denúncia foi inepta. Não acho. O diálogo com o hacker Luiz Molição, usado para embasar a denúncia, é ambíguo — em certo momento, soa mesmo como se o autodeclarado jornalista instruísse o criminoso a apagar o que foi hackeado. Deu a dica de que, como já havia copiado tudo, garantindo que as mensagens não seriam perdidas e o sigilo de fonte jornalística resguardava todo mundo, as provas do crime poderiam ser canceladas. É preciso lembrar ainda que, quando começou a divulgar o material criminoso, o autodeclarado jornalista disse que a fonte era anônima”. E que havia passado “muitas semanas planejando como proteger a nós e a nossa fonte contra os riscos físicos, riscos legais, riscos políticos, riscos que vão tentar sujar a nossa reputação”. A ambiguidade do diálogo com o hacker Luiz Molição dá outra perspectiva a essa proteção “a nós e a nossa fonte”. Não é absurdo desconfiar de que Glenn Greenwald pode ter cruzado a linha vermelha e participado do apagamento de prova criminosa. Isso é igualmente crime.

Os achismos, porém, são só isso — achismos. Caberá à Justiça julgar se a denúncia é procedente ou não (e talvez ela decida quando este artigo tiver acabado de entrar no ar, o que não o invalida). Se julgar procedente, os amigos de Glenn Greenwald no New York Times poderão repetir a mentira que tudo não passa de retaliação da Lava Jato, em conluio com o governo de Jair Bolsonaro. O jornal é livre para publicar lorotas desse tipo, embora os seus assinantes paguem para ler informação correta. Mas alguém precisa avisar o New York Times de que o presidente está neste momento esvaziando o papel de Sergio Moro, o malvadão que condenou o santo Lula apenas para virar ministro, como estampou o jornal. Melhor dar uma ajustada na versão de Pinóquio.

Não importa o resultado do julgamento do recurso contra a denúncia, Glenn Greenwald se meteu com uma bandidagem que, como disse o ministro Luís Roberto Barroso em artigo para a Crusoé de final de ano, estava “Deus sabe a soldo de quem”. Uma “excrescência”, como definiu um integrante da PGR. O autodeclarado jornalista já raptou a narrativa. Só não vale sequestrar a liberdade de imprensa. Muita gente morreu e foi ferida para preservá-la da censura. E ela nunca termina para aqueles que já a experimentaram de verdade. Mais respeito, por favor.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Fiquei confusa a primeira vez que li a transcrição do diálogo, mas depois de uma releitura me pareceu claro que Gleen aconselha Molição sobre como procedsr para ocultar provas de um crime; Gleen tinha consciência de que os hackers pretendiam retomar a atividade crimonosa de hackeamento, agíndo assim como cúmplice. O que não entendi é como o delegado da,PF que analisou o mesmo diálogo não viu nada de errado na conduta do jornalista🤔

  2. Senhores, urgente , peço uma matéria URGENTE sobre a licitação do governo Doria sobre IDENTIFICAÇAO dos INFLUENCIADORES da INTERNET , contendo fichas individuais informando se este é a favor ou contra o governo atual... isto me pareçe CENSURA .....

  3. Literalmente é o que precisamos: “mais respeito por favor”. Esses bandidismo insultam nossa inteligência e o judiciário tripudia os brasileiros de bem!!

  4. Afinal interceptação de mensagens sem autorização, é ou não crime? E usar o produto dessas interceptações também é crime? acredito que o jornalista (ou auto declarado) pode publicar o que quiser, mas assume os riscos por isso.

  5. Nosso complexo de vira-latas aceita goela abaixo esse americano sem caráter, que está no país, claramente, à serviço da esquerda, para destruir nossa democracia conquistada à duras penas! Somos reféns de um mecanismo muito bem articulado entre a imprensa esquerdopata, o STF corrompido e certos elementos em postos-chaves no Congresso Nacional. Não precisamos de jornalistas internacionais para tumultuar ainda mais o nosso circo de horrores tupiniquim! Lamentável!

  6. Excelente artigo. A canalhice é generalizada. Repitam até cansar que foram censurados, o advogado petista supremo toffoli tenta não se mostrar constrangido ao juaticar o AMIGO DO AMIGO DE MEU PAI!

  7. Os brilhantes e legítimos comentários desses jornalistas de verdade, Mário Sabino e Diogo Mainardi, além de revelarem a" verdade meio escondida", consolam a milhões de brasileiros revoltados com a insana e ideológica pretensão de tornar inimputáveis os jornalistas que praticam crimes e querem se entrincheirar na liberdade de imprensa!

  8. Uma repetição quase insensata, mas veraz, o Brasil e seus capachos lulistas e ministrecos dum tal essetéefe, está tão-somente se acachapando em seu terceiro-mundismo para um gringo que se autointitula jornalista, só por gozar do beneplácito dumas bestas quadradas da mídia tupiniquim e de uma "otoridades" que só se destacam pela ignorância e favorecimentos ilícitos, como juizecos impostos na marra por presidentes-larápios na tal suprema corte. Alvaro Costa (@brasília_urgente)

    1. E só por isso não está com o bilhete na mão..tchau queridos...ass.

  9. Eu sou do tempo q no final a verdade aparecia! Tristes estes tempos atuais, pq não temos mais esta esperança. Pelo menos saibam q você tem muitos admiradores não só pela correção de conduta, mas especialmente pela coragem de publicar, contra um sistema muito corrupto!

    1. e, se me permite Neusa, por ter o melhor texto do jornalismo tupiniquim...

  10. Mario, use sua tribuna para não dar descanso a esses criminosos. Todos os envolvidos sabiam o que estavam sabendo, então tem que investigar, levantar as provas e condenar os criminosos e os acessórios do crime: receptadores, orientadores e todos mais. A Crusoe’ tem o dever de liderar a reportagem e cobrar dos órgãos envolvidos.

  11. A grande preocupação é que estamos à mercê do autoritarismo golpista do "inquérito do fim do mundo", aquele que foi iniciado por vontade pessoal e intransferível do ministro mensaleiro para investigar tudo e todos e se tornar imperador absolutista do Brasil. Comem na sua mão os presidentes da república, da câmara e do senado. A sensatez e a decência estão com os Ministros Sérgio Moro (excutiivo), Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin (STF). E que Deus os proteja das trevas.

    1. Estão mandando sem dúvida é só conferir a reunião dos secretários de saúde dos estados com Bolsonaro ; os únicos que foram contra o fatiamento do ministério da justiça e segurança pública foram os de São Paulo e Minas.

    2. Sócrates: Tentar responder também ainda não paga imposto. Eu penso que já faz algum tempo que os vermelhos e as facções mandam na res publica. Mas o que eu queria mesmo saber é até quando esse chibungo "jornalista" estadunidense, "casado" com um 'paralamentar' brasileiro, vai estar entre nós...

    3. Perguntar não paga imposto (ainda): Se o mensaleiro é cria de Zé das Sombras Dirceu, então os vermelhos e as facções criminosas estão mandando na república?

  12. Muito bom! Quanto a esse pseudo jornalista americano, de cara a gente percebe que a "figura" não vale nada. É um "homem" imprestável. Está no Brasil por achar que aqui é um zona; que vale tudo; que ninguém liga pra moral; que ninguém presta, etc. E pior, se associou à QUADRILHA do LULA, o grande chefe dos bandidos PETISTAS, do qual "morre de amores". Vixe!

  13. Glenn Greenwald, não ganhou o prêmio Pulitzer, o jornal e a equipe ganharam. Ele era parte da equipe, logo o prêmio é de todos, dele também. Mas o prêmio não foi para ele, nominalmente.

  14. Acho difícil ele ser punido nesse país. Coisas bem mais sérias e graves acabaram em pizza aqui. Mas que ele tenha sua imagem exibida ao mundo, como criminoso que é.

  15. Mais claro impossível. Parabéns! O Brasil precisa acreditar que só com uma imprensa livre, honesta, ética e que tenha o real compromisso com a verdade, como por exemplo, O antagonista e a Revista Crusoé.

  16. Belíssimo texto Mario Sabino! O auto declarado jornalista é mesmo só mais um esbirro podre da esquerda. O cara é uma mentira ambulante e está metido até os ossos nesse crime. A liberdade, qualquer que seja, é o nosso maior bem e não é um moleque ativista que pode usá-la para cometer crimes, em nome de um ex-presidiário.

  17. Essa história ainda está mal contada, talvez seja só cortina de fumaça, esses diálogos deve ser somente armação. Tem mais coisas, basta investigar.

  18. Sigo o antagonista e crusoé desde que surgiram e é um alento ler vossos textos nesta floresta de aburdos em que vive a midia; esse seu 'não vale sequestrar a liberdade de imprensa' está ótimo e gostaria muito de repassar para alguns amigos e não aprendi ainda como fazê-lo. parece que no antagonista é mais fácil, vou tentar. Parabéns por resistirem às tentações do momento e sigam em frente que tem muita gente seguindo...

  19. Há muito mais sordidez e sórdidos nessa estória sórdida!!! Sigam o dinheiro pago/recebido por estes estelionatários! Aparecerá uma digital de 9 dedos!

  20. Esse negócio de prêmio não fiz nada. Vejam, o Lula ladrão recebeu uma enxurrada de diplomas "Doutor Honoris Causa", sem ter nunca provado sua honra e boa fama... Não passa de um pilantra diplomado.

    1. Lula é bandido, canalha, ladrão desmoralizado que "educou" os filhos dentro do seu diapasão ético. Formou uma família de trombadões.

  21. O Gilmar Mendes tá cagando de medo. Tem muita merda sua ranqueada, e a bichona, falso jornalista, certamente abriu pra ele todo o conteúdo. Claro, pra deixá-lo de calças na mão - se vc não fica do meu lado, te fodo, cara de sapo. Vai chegar a público os podres do GM... A Mãe Dinah previu isto há dois mil anos. Agora, se o juiz da causa fraquejar, os esquerdistas vão peidar de tanto rir.

  22. Quer dizer que se o cara comete um crime e este crime é noticiado na imprensa, o autor do crime está protegido pelo sigilo da fonte ???

  23. Chega de falácias, esse cara não é jornalista, é um estranho no ninho das mídias. Tem que aprender a falar o português correto para ser entendido de verdade: se não fala e não escreve em português, por que está se vangloriando de jornalista?

  24. Acho repugnante a censura em todos os setores, más querer se proteger de uma lei constitucional para fazer jornalismo criminoso e politico, tbm é repugnante, e todo mundo sabe a verdadeira intenção desse jornalista verdevaldo, acho que ele deveria ser expulso do pais.

  25. Quem o defende com base nisso ou é por politicagem ou é por corporativismo barato. Não cabe corporativismo para proteger criminoso em nenhuma profissão.

  26. Muito bem, Sabino! Perfeita a análise que você faz do episódio. As pessoas precisam aprender com ela a distinguir entre liberdade de imprensa e o crime de invasão de privacidade de comunicação telefônica ou indícios de cumplicidade nesse crime, como consta da Denúncia do MP que inclui Glenn Greenwald. Cabe agora à Justiça esclarecer tudo. É para isso que existe a ação penal pública, da qual é titular o MP em nome da sociedade.

  27. Parabéns Mário, as mentiras do verdevaldoporcaria não cola, aliás de onde vem, e quem apoia, quem premia, e quem proteje, gentalha repugnante; o caminho - CADEIA.

  28. Brilhante, Mario! Não bastasse nosso surreal cotidiano, agora há tb zumbis ideológicos promovendo o caos mental pra empurrar sua irrealidade

  29. Falam tanto desse prêmio ( o Pulitzer ) mas esquecem de contabilizar quantos picaretas o ganharam ... esse inglês aí foi só mais um! (vide Relotius/Der Spiegel, Duranty dentre outros )

  30. Com ajuda do STF The Intercept vai criando mercado para dados e informações roubadas. Hackers e estelionatários agradecem.

    1. E tem muita gente inescrupulosa interessada em adquirir dados hacheados de inimigos politicos

  31. Acho engraçado que o Mário e o Diogo, ao terem reveladas as mensagens com o Dallagnol, se comportaram de maneira igualzinha ao Reinaldo Azevedo quando teve suas comunicações vazadas pela PGR: invocaram o desrespeito ao "sigilo da fonte" para não responderem pela falta de ética de suas ações. No entanto, eles não perdem a oportunidade de achincalhar o Reinaldo, e hoje se sabe porque: ambos fazem a mesma coisa, mas estão em lados diferentes no embate Gilmar x Dallagnol

    1. Falta de argumentos o quê? Você entendeu errado, não tem o que argumentar, só sobrou pra você ficar no mimimi mesmo, porque hombridade para reconhecer que errou, nunca.

    2. Não me referi, você foi muito claro na sua burrice, isso sim.

    3. Você se referiu a um episódio específico. Fui muito claro.

    4. Ninguém do site achincalha o Reinaldo, imagina, a afirmação é totalmente sem fundamento no país dos bovinos.

    5. E ninguém do site achincalhou o personagem por causa desse episódio. É uma afirmação sem fundamento.

Mais notícias
Assine agora
TOPO