Norma passeia em um shopping de Brasília com Cristiane, a policial que faz as vezes de amiga da primeira-sogra (Adriano Machado/Crusoé)

Norma, a sogra “travessa e da balada” de Michel Temer

11.05.18

Aos 77 anos, no inverno da sua vida, Michel Temer é um homem que continua sendo posto à prova. Não somente pelas vicissitudes presidenciais (e policiais), mas também conjugais. O casamento com a primaveril Marcela, 35 anos na semana que vem, rendeu-lhe uma sogra outonal: Norma Tedeschi, de 64. Se Marcela é “recatada e do lar”, a sua mãe está mais para “travessa e da balada”. Há dois anos, desde que foi morar no Palácio do Jaburu, Norma é uma mesóclise instalada entre Temer e Marcela. Vez por outra, cruza de manhã cedo com o genro mais velho na ala privativa do Palácio do Jaburu — ela, não raro, recém-chegada da night; ele, de pijama. Família moderna é assim.

O iPhone de Norma apita quase o dia todo. Pelo WhatsApp, promoters de Brasília a convocam exclamativamente para festas em casas noturnas badaladas da capital do país: “Quero você lá!”. Ela é a rainha dos camarotes no Minas Hall. Norma gosta de dançar salsa. Eclética, frequenta a sertaneja Bamboa. Vai sempre acompanhada de Cristiane de Oliveira, a quem trata por “Cris”, como se fosse uma amiga. Na verdade, trata-se de uma policial rodoviária federal que foi destacada para não perder de vista a sogra do presidente. Cristiane ainda faz as vezes de personal trainer de Norma e Marcela. Haja fôlego.

Como não poderia deixar de ser, Norma tem perfil no Facebook e adora o Instagram. Faz muitas selfies e marca colunistas sociais nas publicações. “Irmã gêmea!”, “Muito parecida!!”, reagiram dois amigos no Instagram quando a sogra do recém-empossado presidente publicou uma imagem da atriz Vera Fischer. Fez o mesmo com Marilyn Monroe. “É você, mamãe?”, escreveu, rindo, a filha Fernanda. Ela publica de vez em quando fotos de Michelzinho, o que deixa Temer e Marcela contrariados. E criou um perfil no Instagram para a dupla canina presidencial — Thor, um golden retriever, e Picoly, o jack russell terrier que dias atrás fez Marcela mergulhar em uma lagoa para salvá-lo de um ataque de patos. Eles são descritos por Norma nas redes como “dogs” e “amigos”. Ela conta que esqueceu a senha do perfil animal e, por isso, não o atualiza desde o início do ano.

A sogra de Temer no Jaburu: vida em tempo real nas redes (Arquivo pessoal)
Na última terça-feira, Norma estava particularmente animada para fazer o seu primeiro passeio de barco pelo Lago Paranoá — e fotografar o famoso pôr do sol brasiliense para colocar no “Insta” e guardar como lembrança para quando voltar a morar em Paulínia, no ano que vem. Mas, como Michelzinho bateu o pé, ela teve de ceder o seu lugar no barco ao neto e aos seguranças que são obrigados a acompanhá-lo permanentemente. Terminou o dia batendo perna num shopping, depois de servir o jantar ao menino. O passeio de barco ficou para o dia seguinte. Norma está longe de ser uma “Primeira-Avó”, como era conhecida Marian Robinson, a sogra de Barack Obama que também morava na Casa Branca. Costuma manter-se — e ser mantida — distante de eventos oficiais. No entanto, ela é extremamente presente na criação do neto.

O seu shopping preferido é o Iguatemi, que visita geralmente pela manhã, quando não há muita gente. De dia ou de noite, não dispensa o uso de sombra nos olhos. Seus acessórios constantes são pingentes de Nossa Senhora e na forma de coração — e anéis vistosos, com pedras grandonas e coloridas. Tem o sorriso fácil proporcionado pelo clareamento dental. Quando gargalha, joga a cabeça para trás, como as antigas divas. Diverte-se bastante com o aplicativo “Sing!”, do qual recebe constantes alertas no celular. É uma espécie de rede social de karaokê, na qual os participantes são convidados a cantar juntos músicas de sucesso. Norma tem uma biblioteca de 6 mil músicas gravadas.

Fosse por ela, diz, Temer jamais teria chegado à Presidência. Não pelos motivos que a maioria esmagadora dos brasileiros elencaria, e sim porque acha o dia a dia da família presidencial excessivamente restrito. Norma não se cansa de repetir que é uma pessoa simples. Lembra que chegou a almoçar um “PF” na Feira do Paraguai, em Brasília, por 7 reais. Na única semana em que morou no Palácio do Alvorada, tinha um quarto suntuoso, com uma banheira “ma-ra-vi-lho-sa”, mas não se deslumbrou. “Gente, ano que vem é outra família que vai estar aqui, não adianta ficar de nariz em pé”, comentou com um auxiliar à época (pelo visto, é desde o início uma realista quanto às chances eleitorais do genro). Quando se mudou de vez para o Jaburu, no início do segundo semestre de 2016, Norma apenas reclamou da falta de árvores nos jardins. Plantaram algumas para satisfazê-la. Desejo de sogra é ordem.

Norma posa com Marcela Temer: as duas se exercitam juntas (Reprodução)
Além de malhar com a incontornável Cristiane, ela mantém a forma com pizza à base de massa de tapioca preparada pelos cozinheiros do palácio. Lipoaspiração? Jamais, porque tem medo de morrer na mesa de cirurgia. “Vão falar assim: nossa, morreu com um tanquinho”, repete. Norma não recusa as doses de caipirinha preparadas pelos garçons do palácio, embora ocasionalmente entorne uma parte da bebida na grama do jardim, para não parecer desfeita. É experimentada nessa arte. Conta que, em viagem a passeio aos Estados Unidos, o então vice-presidente Temer arriscou lhe fazer uma omelete. Norma torceu o nariz e tentou discretamente repassar o prato para Michelzinho. Diante da recusa do menino, embrulhou a omelete num guardanapo, foi até o banheiro, jogou a gororoba no vaso sanitário e deu descarga.

Picoly, presenteado por Heráclito Fortes a Michelzinho, elegeu Norma como a sua verdadeira dona. Dorme no quarto dela — que também serve de cenário para intervenções militares do neto. Com o uniforme camuflado do exército americano e capacete presenteados pela avó, Michelzinho certa vez tirou as roupas dela do guarda-roupa e as usou para montar um cenário de guerra. Noutra, acertou um chute na avó — que foi ao chão, com uma costela rachada. Ao fazer os exames por causa da lesão, os médicos constataram um nódulo benigno no pulmão da sogra do presidente. Ela deve ser operada no começo do segundo semestre para retirá-lo.

Michelzinho, com a farda camuflada presenteada pela avó e uma arma de brinquedo à mão, brinca com Picoly: a avó registra tudo (Arquivo pessoal)
Durante a semana, Temer costuma ligar para o celular de Michelzinho às 20h30, para mandá-lo dormir. Mas ele brinca até mais tarde com a avó. Norma diz que não se irrita com o neto nem mesmo quando ele a chama de “velha” e aponta as rugas no seu rosto. Não faz muito tempo, ele deixou o celular da avó cair na privada. No aniversário de Norma do ano passado, comemorado no Lago Norte, Marcela quis ir embora mais cedo com o filho. Nada feito. Ela foi, o menino ficou. No final, a avó disse a Michelzinho que ele deveria se lembrar de que foi a “vovó” a primeira a lhe acompanhar a uma “balada”.

Nos últimos tempos, Norma vem aparecendo no noticiário por motivos nada festivos. A Polícia Federal investiga se uma reforma na casa dela, em 2014, foi usada para lavar propina supostamente recebida por Temer naquele ano, na campanha de reeleição para vice de Dilma Rousseff. Maristela, a filha que Michel Temer teve antes de se casar com Marcela, é outra que está na mira dos investigadores pelo mesmo motivo. Assim que terminar o mandato, o presidente poderá se tornar réu por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. O lema de Norma no seu perfil no Instagram é “Viver todo dia seu momento!”. Temer deveria se inspirar na sogra outonal.

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