O homem doente da Europa
Ditadores sempre tiveram complicações extras ao contrair doenças. A mera notícia de que estão se consultando com médicos é suficiente para iniciar uma disputa pela sucessão ou levar membros da elite a retirar apoio. Além disso, os males físicos nos déspotas trazem uma decepção amarga, pois ameaçam abreviar o poder que eles acreditavam ser eterno. Em 2020, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que completará 70 anos em outubro, alterou a Constituição do país para se candidatar às eleições mais duas vezes e poder ficar no posto até os 84 anos. Mas rumores dão conta de que ele poderá ser internado no ano que vem e não voltar mais ao Kremlin. Outros, que só lhe restariam mais três anos de vida.
Putin tem feito o possível para esconder seu estado de saúde. A história mais recente é que, nas viagens para fora de Moscou, ele seria acompanhado por um agente especial, cuja missão seria coletar a urina e as fezes do presidente, para serem enviados para exames na capital russa, em monitoramento permanente. Tudo para evitar que serviços de inteligência de outros países tenham acesso a dados sobre sua saúde.
Mas, mesmo sem poder investigar o cocô de Putin, especialistas na Rússia e em outros países, como ex-integrantes dos serviços de inteligência, têm falado sobre sua condição. O ex-espião britânico Christopher Steele disse que Putin está gravemente doente e precisa deixar reuniões com frequência, para receber tratamento médico. O também britânico Richard Dearlove, que foi chefe da agência secreta MI6 até 2004, afirmou que o russo terá de ser internado no próximo ano e não poderá mais retornar ao poder. Boris Karpichkov, um ex-membro da agência secreta da FSB, antiga KGB, acredita que o presidente sofra de Mal de Parkinson. A revista digital New Lines publicou um áudio de um oligarca russo afirmando que ele estaria “muito doente, com câncer no sangue”. No início de junho, a revista americana Newsweek publicou que Putin teria recebido, em abril, tratamento de câncer em estágio avançado. Na semana seguinte, o canal General SVR do Telegram, mantido por uma pessoa com informações de bastidores do Kremlin, publicou que Putin, ao levantar-se após uma reunião, sentiu um “forte mal-estar, fraqueza e tonturas”. Ele então precisou de cuidados médicos urgentes. “A enfermidade do presidente da Rússia está cada vez mais difícil de esconder ultimamente“, diz o canal General SVR. Outros males que aparecem nos boatos são tumor cerebral e câncer de tireoide.
Nas democracias consolidadas, presidentes e primeiros-ministros são levados a hospitais de ponta para acompanhamento. Quando internados, seus diagnósticos e a evolução de seus tratamentos são divulgados pelas suas assessorias de imprensa. Todos entendem que é preciso dar satisfações sobre o estado de saúde dos governantes, porque toda a sociedade pode ser impactada. Nos Estados Unidos, por tradição, os presidentes fazem exames detalhados todos os anos. Os resultados são divulgados em seguida e o médico da Casa Branca participa de uma coletiva de imprensa. Com os ditadores, a transparência é nula. Não raro, a pressão pelo secretismo é tão intensa que afeta a qualidade do tratamento que recebem.
O ditador venezuelano Hugo Chávez poderia ter se tratado de um câncer de próstata em qualquer hospital de primeira linha, em 2012. Ele tinha até a opção de vir ao Brasil, onde tinha aliados no Palácio do Planalto. Mas Chávez preferiu se tratar em Cuba, onde uma intervenção cirúrgica acelerou a disseminação do câncer para os ossos. Dez dias depois, outra cirurgia foi feita. Ao longo do tratamento, o venezuelano apareceu andando de muleta e com o rosto inchado, assim como Putin. Também cancelou suas aparições no programa de televisão dominical Alô Presidente. Médicos venezuelanos no exílio afirmavam que sua sobrevida não passaria de um ano. Chávez faleceu em março do ano seguinte.
O site russo investigativo Proyekt afirma que o presidente viaja com frequência na companhia de diversos médicos especialistas. Dois deles são cirurgiões de cabeça e pescoço. Um é ortopedista. Outro é um neurocirurgião que estudou câncer de tireoide em pacientes idosos. O mais surpreendente é que Putin estaria usando homeopatia e alguns remédios antigos, como imersão em banheiras cheias de sangue de chifre de veado. Os russos chamam isso de “Viagra natural”, pois seriam bons para melhorar a circulação, a pele e a potência sexual. Se for verdade, vai dar muito certo.
Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.