RuyGoiaba

O dia em que fui Mick Jagger (no futebol)

26.04.19

No último fim de semana, pela primeira vez na vida me senti como o Mick Jagger. Nada a ver com drogas nem, infelizmente, com dinheiro e mulheres: só com a parte factível para mim, que é o pé-frio em eventos esportivos. Estava em Belo Horizonte e fui, com amigos atleticanos, assistir à final do campeonato mineiro no estádio Independência. O Atlético ganhava o jogo e o título até os 34 minutos do segundo tempo, quando o juiz, com ajuda do árbitro de vídeo, marcou um pênalti para o Cruzeiro – que empatou e venceu o torneio.

De brinde, no dia seguinte, ainda ganhei a enésima derrota do meu time para o Corinthians em um jogo eliminatório (no caso, outra final). Pelo menos eu não estava no estádio, e sim capotado na cama depois de voltar de viagem – acordei quando o placar já estava consumado. Amigos insuspeitos me disseram que foi um jogo horroroso e que o Corinthians, menos horrível, mereceu o título.

E aqui chego ao meu ponto neste texto: a coisa que se pratica hoje no Brasil — e que ainda chamamos de “futebol” por inércia ou força do hábito — guarda só uma vaga semelhança com aquilo que se joga na Europa. Nem é preciso citar um jogaço recente da Champions League como Manchester City 4 x 3 Tottenham, com quatro gols nos primeiros onze minutos: em jogos do Campeonato Espanhol, do Italiano ou do Inglês, você não vê jogadores profissionais de futebol errando passes de cinco metros, como acontece o tempo todo no Bananão.

(Assistir no estádio à final do Campeonato Mineiro foi emocionante, mas mais por motivos extracampo – a torcida do Atlético, que incentiva o time o tempo todo, e mesmo os bravos cruzeirenses em franca minoria no Independência mereciam uma partida melhorzinha.)

Não admira que os países sul-americanos, exportadores de pé de obra, não ganhem uma Copa desde 2002 e nem sequer tenham chegado às semifinais na do ano passado. Já fomos o país das “cinco Copas e nenhum Nobel”, mas isso felizmente mudou. Nas últimas, o Brasil se notabilizou pelo 7 a 1 – se tem uma coisa em que o país é bom, é sediar Copa para perder; seja como trauma, seja como vexame — e pelos memes do Neymar caindo. E seguimos sem Nobel.

Assim como as ideias vêm morrer no Brasil quando ficam bem velhinhas, o futebol – moribundo — continua vivíssimo como metáfora na boca dos políticos. Desde o engaiolado Lula até Onyx Lorenzoni, que outro dia disse que o governo guardava o “goleador” Jair Bolsonaro para as “finais” da reforma da Previdência (o que só mostra que Onyx não entende absolutamente nada de futebol; time NENHUM do mundo deixa de escalar o artilheiro em todos os seus jogos).

Em suma, nem uma legião de Mick Jaggers nas torcidas adversárias conseguiria tirar o futebol brasileiro do buraco em que se meteu: antes melhor que o Brasil, ele passou a ser um espelho perfeito do subdesenvolvimento generalizado. É um esporte horrível – mesmo bem jogado, frequentemente é injusto e não premia os melhores –, mas a gente insiste nele. Mais ou menos como fazemos com o país.

(E nem pensem em me perguntar qual seria a solução. Como diria o maior frasista brasileiro de todos os tempos — Dario, o Dadá Maravilha –, “não me venha com problemática que eu não tenho a solucionática”.)

Dadá Maravilha, um homem sem solucionática (Fernando Santos/Folhapress)

***

A GOIABICE DA SEMANA

A ser verdade a história de que Carlos Bolsonaro bloqueou o acesso do próprio pai (o presidente da República) à sua conta no Twitter, enfurnou-se num clube de tiro e parou de responder às ligações, não há concorrência possível no quesito goiabice. Logo após o caso circular pela internet, o perfil de Bolsonaro voltou a postar – e o fez na, por assim dizer, sintaxe inconfundível de Carluxo.

Como disse um amigo, o estilo é filho do homem.

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