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Os reflexos do fim da liberdade de imprensa em Hong Kong

15.01.22 18:27

O jornal independente Apple Daily (foto), de Hong Kong, deixou de ser impresso em junho do ano passado, depois que centenas de policiais invadiram sua sede e prenderam o dono, Jimmy Lai, diretores e funcionários. Eles foram acusados de diversos crimes, como participar de um protesto contra o Partido Comunista da China, fazer conluio com forças estrangeiras e sedição. A empresa dona do Apple Daily foi fechada e o seu patrimônio, congelado.

Para os funcionários e jornalistas que trabalhavam no Apple Daily, não foi uma surpresa. “Eu já esperava que isso aconteceria. Em meados de 2020, pouco antes de a polícia invadir a redação e prender Jimmy Lai, eu perguntei a um especialista em política chinesa quanto tempo ainda teríamos. Ele respondeu que só nos restava um ano. Foi o que aconteceu“, diz um jornalista, que pediu para ser identificado como Jason.

Após o fechamento do Apple Daily, o alvo do regime passou a ser o Stand News, que também mantinha uma linha editorial mais independente. Em dezembro, dois diretores e quatro ex-diretores do site de notícias gratuito foram presos em suas casas. Em seguida, a polícia entrou na redação. Dias depois, outro site, o Citizen News, decidiu fechar as portas para evitar o mesmo destino. Seus diretores afirmaram que era impossível saber se os funcionários estavam ou não infringindo a nova Lei de Segurança Nacional, aprovada em 2020. Com critérios vagos, a lei permite que qualquer pessoa seja presa e acusada de crimes.

A verdade é que as acusações formais apresentadas pelo Partido Comunista não importam. Tudo não passa de desculpa para calar as vozes que têm opinião diferente do governo“, diz um jornalista que trabalhava no Apple Daily há mais de vinte anos e conseguiu se recolocar no Stand News, até ser demitido novamente por causa da repressão estatal. Ele pediu para ser chamado de Pete.

Hong Kong ainda conta com jornais como o MingPao News, além de sites independentes, como Hong Kong Free Press, imediahk e Radio Free Asia. “A diferença é que, embora esses veículos tenham repórteres cobrindo diversos assuntos, o Apple Daily tinha condições de contratar muitos jornalistas experientes e fazer matérias mais profundas”, diz Jason. O Apple Daily podia investir em sua equipe porque tinha 600 mil assinantes, os quais representavam quase 10% de toda a população do território.

Hoje, muitos jornalistas chineses estão trabalhando por conta própria ou publicando o resultado de seu trabalho em suas próprias plataformas digitais. A maior preocupação é que o regime se incomode com alguma notícia publicada por eles. “Todo mundo tem medo de receber uma visita de madrugada e ser preso“, diz uma jornalista. “Eu não diria que me sinto ameaçado, mas qualquer jornalista agora precisa tomar cuidado para não ultrapassar o limite estabelecido pela Lei de Segurança Nacional“, diz Pete.

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