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Petro e a panaceia da esquerda: processos de paz com narcotraficantes

08.08.22 19:47

A esquerda da América Latina descobriu uma nova panaceia, os “processos de paz“.

Animados com o acordo que o governo colombiano assinou com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, em 2016, políticos querem oferecer os mesmos direitos para todo e qualquer grupo criminoso fora de controle.

Ao tomar posse em Bogotá neste domingo, 7, o novo presidente da Colômbia, Gustavo Petro (foto), confirmou uma promessa de campanha, a de iniciar negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional, o ELN, e com o Clã do Golfo.

Conversas com o ELN, de inspiração cubana, já ocorreram em Havana, mas foram paralisadas há quatro anos. Nesta segunda, 8, Petro falou em retomá-las.

Mas o mais absurdo é Petro prometer um processo de paz com o Clã do Golfo, uma organização paramilitar que se dedica ao narcotráfico, sem qualquer nesga de ideologia a não ser ganhar muito dinheiro e aterrorizar a população.

Por causa da natureza do grupo, a lógica envolvida no processo de paz com as Farc — a de que o grupo deve abandonar as armas e o controle de territórios em troca de participação política e uma Justiça mais branda, perde sentido.

A grande questão é o que vai oferecer o Estado colombiano e em troca do quê, porque o Clã do Golfo é um grupo criminoso transnacional, sem um projeto político ou uma ideologia“, diz o advogado especialista em segurança Carlos Augusto Chacón, diretor-executivo do Instituto de Ciência Política, ICP, em Bogotá.

A preocupação é ainda maior por causa do momento em que esses processos de paz estão sendo cogitados. “É algo muito particular, porque normalmente o Estado negocia com esses grupos quando está ganhando, desferindo vários golpes e debilitando os ilegais. Mas o Clã do Golfo está muito fortalecido e, portanto, pode impor condições a um governo claudicante.”

Seria como se o governo brasileiro, sem conseguir recuperar os territórios perdidos para os bandos criminosos, falasse em engatar processos de paz com o Primeiro Comando da Capital, o PCC, ou com o Comando Vermelho.

No domingo, 7, dia em que Petro assumiu o poder, o Clã do Golfo anunciou um “cessar-fogo unilateral de hostilidades ofensivas“. Em comunicado, a organização disse que a medida tem por objetivo mostrar “disposição para a busca de caminhos para a paz“.

Naturalmente, os colombianos querem saber o que o novo governo está disposto a dar em troca aos narcotraficantes. Eles formarão um partido político? Ganharão alguns territórios? Serão poupados de ataques das forças de segurança? Poderão responder a uma Justiça especial? Serão poupados de serem extraditados para os Estados Unidos?

Nenhuma dessas opções pode trazer tranquilidade para a população. Resta saber, então, o que Petro tem a oferecer. Seu mandato está só começando.

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  1. Bom, foi "esse negócio aí" que os colombianos escolheram. E que aparentemente nós brasileiros vamos escolher também. Pobre América Latina, tão longe de Deus, tão perto de Cuba!

  2. Há uns anos ter-se-ia sentado à mesa com Pablo Escobar. Assim, chego a pensar que matar o Pablo Escobar tenha sido um crime de guerra.

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